Empresários começam a calcular prejuízos com fechamento da Ceasa
Prejuízo entre 20% e 25% no faturamento mensal. É o que estimam donos de empresas…
Prejuízo entre 20% e 25% no faturamento mensal. É o que estimam donos de empresas concessionárias e permissionárias das Centrais de Abastecimento de Goiás (Ceasa) com a determinação de fechamento do local às quartas e sábados. Medida foi tomada para conter os avanços da covid-19 no entreposto que já possui 29 confirmações, cinco casos suspeitos e um óbito pela doença. A nova regra de fechamento começa a valer a partir desta quarta (10).
A previsão é de que, nos mencionados dias, sejam realizadas as primeiras desinfecções dos ambientes da Ceasa com pulverizadores e aplicação de hipoclorito de sódio nas superfícies. Administração quer reduzir índice de contágio para evitar fechamento total da central.
Por um lado, a medida é vista por empresários como necessária para conter a proliferação do coronavírus no local, que recebe diariamente cerca de 15 mil pessoas entre trabalhadores e compradores. Por outro, eles temem o prejuízo financeiro que os dois dias semanais de fechamento causarão. O lucro, que já teve queda, pode ficar ainda mais abaixo do esperado.
Levantamentos iniciais de Roberto de Oliveira* apontam para queda de 25% no rendimento mensal. “A administração pode até pensar que são dias de menor fluxo, mas a gente vende mesmo assim. Às quartas atendemos grandes redes e aos sábados os feirantes. Como vai ficar isso? Estamos em uma época em que não podemos rejeitar venda nenhuma. Já vimos nosso rendimento cair e vai piorar”, disse.
Segundo o empresário, a Ceasa não ofereceu nenhum tipo de suporte para os empresários enfrentarem o fechamento. Ele alega que não é contrário à desinfecção dos ambientes, mas acredita que a administração do local deveria propor auxílio para que as pessoas não sejam impactadas financeiramente. “Eles ditaram a regra e pronto. Não propuseram, por exemplo, a redução do valor do aluguel. As vidas importam, claro, mas essas medidas sem um auxílio da Ceasa vão prejudicar muita gente”, afirmou.
Compra de testes
Em breve, só poderá entrar na Ceasa pessoas que apresentarem o teste da covid-19 com resultado negativo para a doença. Os custos dos testes para trabalhadores serão de responsabilidade de cada empresário. Para Roberto, a medida também vai prejudicar aqueles que foram “massacrados pela crise” e não possuem condições financeiras.
Felipe Soares* é dono de empresa de verduras na Ceasa e concorda com Roberto quanto à compra dos testes. Segundo ele, nem todos os empresários vão conseguir pagar a exigência. “Cada exame custa mais de R$ 300. Tem empresa que possui 12, 15 e até 20 funcionários. E quem não tiver condição? Isso é uma questão de saúde pública e foi transferida para nós. Já estão retirando dois dias da nossa semana com o fechamento e nos cobram mais isso?”, critica.
De acordo com o empresário, a Ceasa tem sido rígida em algumas questões e deixando “passar despercebido” outros pontos. Felipe conta que as Centrais possuem bastante álcool em gel e tornou obrigatório o uso de máscara. Há aferição de temperatura nas duas entradas existentes e uma triagem rápida.
No entanto, ele acredita que é preciso fazer mais. “Tem gente que chega no local a partir de 1h da madrugada. Muitas vezes são caminhoneiros que vêm de outros estados. Até às 5h não têm profissionais da saúde medindo a temperatura ou evitando a entrada de pessoas que podem estar infectadas. É uma terra sem lei. Não adianta querer fechar as Centrais se não há rigidez em outros pontos”, afirmou.
O outro lado
Em entrevista ao Mais Goiás, o presidente interino, Rogério Esteves, disse que, de fato, não há profissionais da saúde no local durante a madrugada. Seis enfermeiros e técnicos em enfermagem atuam no entreposto. O horário de atendimento, no entanto, tem início às 5h.
De acordo com ele, eventualmente alguns trabalhadores – em especial carregadores – iniciam o serviço mais cedo. Alguns, que viajam pelo Brasil durante todo o dia, utilizam o espaço para passar a noite. Para Rogério, a situação não é preocupante, visto que “não há concentração de pessoas neste horário”.
Ainda assim, a administração afirmou que estuda o fluxo de pessoas que chegam ao local durante a madrugada para verificar se há necessidade ou não de designar um profissional de saúde apenas para o mencionado período.
Risco de fechamento
Rogério alega que, embora medidas de segurança estejam sendo tomadas, há o risco de fechamento total das Centrais. Isso porque, segundo ele, não basta apenas medidas tomadas apenas pela administração. Para ele, é preciso engajamento de todos. “Já fizemos uma série de alterações no funcionamento, diminuímos o fluxo de visitantes, compradores e até trabalhadores. O uso da máscara é obrigatório, há triagem e isolamento de casos confirmados e suspeitos. Mas e as pessoas, o que elas estão fazendo?”, disse.
E continuou: “As responsabilidades devem ser separadas. O que a Ceasa pode e deve fazer está fazendo. É preciso um processo de conscientização. De nada vai adiantar os procedimentos que estamos tomando se as pessoas não contribuírem”.
Segundo ele, um eventual fechamento total poderá acarretar prejuízos inimagináveis. No entanto, casos as confirmações aumentem, a medida será necessária. “Estamos falando de distribuição para todo o Estado de Goiás e também para o Pará, Mato Grosso e Maranhão, por exemplo. As Centrais são essenciais, obviamente, mas as vidas são mais importantes do que o mercado e vamos priorizá-las”, comentou.
Sobre os testes, o presidente afirmou que tem procurado laboratórios na tentativa de fechar pacotes de compra que sejam benéficos ao empresário. “Estamos tentando intermediar isso, mas o custeio será realmente dos empresários. No entanto, a responsabilidade de testes de visitantes e corpo administrativo, por exemplo, será nossa”.
Rogério disse, ainda, que a Ceasa está bastante próxima da Secretaria de Saúde (SES-GO), mas informou que não há nenhuma parceria para envio de notificações de casos suspeitos ou confirmados. “A gente orienta aqueles que foram confirmados ou estão suspeitando do contágio a procurarem uma unidade de saúde. No entanto, essa comunicação é voluntária. A gente sabe dos casos que chegam até nós”, ressaltou.
Os novos protocolos de funcionamento da Ceasa estão na fase final de elaboração e devem ser publicados ainda nesta terça-feira (9).
* Nomes fictícios utilizados para preservar a identidade das fontes