Crise na Saúde

Enfermeiros do Hugo protestam contra salários atrasados e pedem condições adequadas de trabalho

Enfermeiros contratados pela Organização Social Gerir e que atuam no Hospital de Urgências de Goiânia…

Enfermeiros contratados pela Organização Social Gerir e que atuam no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) realizaram uma manifestação na porta da unidade de saúde na noite desta segunda-feira (15) para reivindicar o atraso nos salários e a falta de condições de trabalho. Os profissionais também apontam que vêm sofrendo assédio moral por parte de alguns superiores para não relatarem as condições do hospital, que foi interditado após auditoria do Ministério do Trabalho no último dia 25 de setembro.

Segundo uma trabalhadora, que pediu para não ser identificada, os profissionais sofrem ameaças quando não conseguem realizar o trabalho, que está prejudicado por falta de insumos. Segundo ela, 10% dos trabalhadores da categoria estão afastados por não aguentarem a pressão. “Muitos trabalhadores estão sendo obrigados a trabalhar sem luvas. Outras áreas, como a limpeza, está com o seu pessoal bem reduzido e já sinalizam uma paralisação em sua atividades”, conta.

Com isso, a profissional destaca que o atendimento ofertado está mascarado em uma dos maiores hospitais do Brasil. Segundo ela, em um dia tem determinado medicamento e em outro dia não tem mais. “Hoje temos dipirona, que está substituindo a Ranitidina que acabou ontem e não sabemos quando ainda vai chegar. Isso compromete o tratamento das pessoas. Cirurgias estão sendo canceladas e mesmo com a interdição, o hospital continua recebendo pacientes”, relata.

Sobre os atrasos dos salários, a trabalhadora conta que, até ano passado, o pagamento era realizado no último dia útil do mês. Posteriormente, os pagamentos foram feitos no quinto dia útil do mês subsequente e depois seria realizado até o dia 10. “Agora está sem data certa. No mês passado foi realizado no dia 18 e hoje já são 16 e nada de recebermos. E o pior que o salário não vem atualizados com os encargos”, destaca.

Assédio Moral 

Outra trabalhadora da unidade conta que ao perguntarem sobre seus salários ou questionarem sobre a falta de determinado produto, os profissionais são ameaçados com a demissão por alguns de seus superiores. “Falam que a gente não precisa do emprego, senão a gente não estaria reclamando. Como forma de punição, temos nossos horários e o espaço do trabalho mudado constantemente”, relata.

A profissional ainda discorre que são proferidas frases intimidadoras como “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Com isso, a servidora diz que o clima na unidade é de incerteza quanto ao futuro. “Eu adoro trabalhar aqui, mas essa situação é muito desgastante para a gente. Tem pacientes que estão sendo medicados com remédios inferiores ao seu tratamento ou mais fortes apenas para mascarar o seu problema, devido a falta de medicamentos necessários”, ressalta.

O Instituto Gerir, por meio de nota, destacou que repudia qualquer ação que desrespeite seus colaboradores e voltou a frisar que depende do repasse feito pelo estado. Confira a nota completa:

O Instituto Gerir, organização social à frente da administração do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), repudia veementemente qualquer tipo de conduta que desrespeite seus colaboradores. A prova de que a OS tem cumprido a legislação e primado por relações interpessoais respeitosas é que, em todas as vistorias realizadas no hospital por auditores do Ministério do Trabalho, nenhum tipo de situação irregular neste sentindo foi constatada.

Por fim, o Instituto Gerir esclarece, ainda, que se solidariza com o momento de crise vivenciado pelo Brasil e que afeta o Governo de Goiás, mas frisa que depende dos repasses integrais de recursos que ficaram pendentes para a regularização das atividades da unidade, como pode ser visto no Portal da Transparência do Governo de Goiás, site este que é público e pode ser livremente consultado por qualquer cidadão.

 

Interdição 

A situação do Hugo veio a tona após que um conjunto de denúncias chegaram ao conhecimento do Ministério do Trabalho. A auditora fiscal do Trabalho, Jacqueline Carrijo, destacou que a interdição visa “salvar o hospital”. No documento apresentado, após todos os levantamentos necessários, mostra que mais de 150 itens, entre remédios e insumos básicos, estão em situação críticas na unidade.

O documento ainda traz que pacientes estão utilizando pinico para coleta devido a falta de coletores e o uso de remédios mais fortes do que os necessários. Em conjunto com integrantes dos conselhos regionais de Enfermagem e Farmácias, o Ministério do Trabalho levantou que estão com os estoques zerados os seguintes itens: antibióticos, antifúngicos, agulhas para anestesia, luvas cirúrgicas, sondas, Paracetamol e álcool em gel.

Trecho da auditoria que destaca situação no hospital (Foto: Reprodução/Ministério do Trabalho)

“Há 21 pacientes usando polimixina, sendo que se todo estoque de antibióticos estivesse normal, somente uns cinco pacientes estariam usando esse antibiótico em razão de necessidade. É um antibiótico muito potente e tóxico para os rins. É uma escolha arriscada para os médicos”, relatou a auditora ao G1.

A auditora ainda destacou que a quantidade de seringa também está aquém da necessária diariamente. No relatório consta que há estocadas 850 seringas de 20 ml, sendo que são utilizados por dia 1.633 unidades. Também em baixa, encontra-se o estoque das seringas de 10 ml, que tinham 550, sendo que o consumo diário é de 1,4 mil.

Apesar disso, o secretário da saúde, Leonardo Vilela, destacou em visita ao hospital, no último dia 26 de setembro, que a unidade funcionava normalmente e havia um exagero nos relatos dos funcionários sobre a falta de insumos e medicamentos. “O Hugo tem apenas problemas pontuais e estamos aqui para resolvê-los. Estas questões, entretanto, não afetaram, em nenhum momento, o funcionamento do hospital nem a segurança dos pacientes. O clima eleitoral exacerba a situação”, relatou.

Ação Civil Pública 

No último dia 11 de outubro, o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou uma liminar solicitando o bloqueio de R$ 27.589.000,00 do tesouro estadual. Esse valor foi designado após, em audiência extrajudicial, ficar evidente que o estado de Goiás não repassava o montante de R$ 14 milhões durante o ano de 2018.

A Secretaria do Estado da Saúde (SES) afirmou que não tem atendido às solicitações devido ao momento que o País e o estado passam. Informou ainda que fez requisição de recursos junto à Secretaria da Fazenda e apresentou relatório de pendências financeiras junto ao Hugo, que alcançam mais de R$ 27 milhões.

O secretário da pasta, Leonardo Vilela, apresentou as medidas emergenciais ao procurador-geral da República em Goiás, Ailton Benedito, na tarde desta segunda-feira (15). O titular da pasta saiu sem falar com a imprensa, mas Ailton destacou que os itens do plano deverá ser implantada de imediato, diante da persistência da situação crítica no hospital.

O Mais Goiás entrou em conta com a SES e aguarda um posicionamento.