Entregadores de app dizem que paralisação desta quarta pode se repetir
“Queríamos mostrar que temos poder e que, se não resolver, vai acontecer novamente”, afirma Murilo Henrique Pereira Silva
Entregadores de aplicativo de Goiânia realizam, nesta quarta-feira (1º), uma greve por melhores condições de trabalho, transparência na dinâmica no funcionamento dos serviços e remuneração. A manifestação, que segue o dia todo e faz parte de um ato nacional, já teve buzinaço pela manhã na capital. No período da tarde, os trabalhadores vão desligar os celulares e não farão nenhuma entrega. “Queríamos mostrar que temos poder e que, se não resolver, vai acontecer novamente”, afirma Murilo Henrique Pereira Silva, que faz parte da organização.
Murilo, que atua na região do Setor Bueno, trabalha de moto para fazer as entregas. Segundo ele, 80% dos trabalhadores pararam. Pela manhã, por volta das 9h30, eles saíram do Goiânia Shopping, foram até a Praça Cívica e depois retornaram ao centro de compras. Segundo ele, cerca de 120 motoristas participaram do movimento presencial, que durou até cerca de 11h30.
“Durante a carreata a população apoiou, buzinou, além de ter mandado mensagens nas redes sociais.” Murilo explica que foi pedido, ainda, que a população não fizesse pedidos nesta quarta-feira, além de avaliar mal as empresas pelos aplicativos. “Até o momento, nenhuma empresa nos procurou, mas se não procurarem, vamos fazer outra manifestação, em um dia mais movimentado que quarta-feira, como domingo”.
Entregas e pautas
Uma nota no site do iFood diz que 70% dos pedidos feitos são entregues pelo próprio restaurante. Segundo Murilo, esta não é a realidade em Goiânia. “São 5%”, rebate. O entregador relata que existem três opções no app, um sem horários fixos para o trabalhador, outro com carga-horária – e o app liga e desliga nos momentos – e o fixo do restaurante, que seria a minoria.
Desta forma, como noticiado pelo portal em meados de junho, entre as pautas, está o aumento das corridas, do valor mínimo por entrega, o fim dos bloqueios e desligamentos por equívoco dos trabalhadores, além de seguro de roubo, vida e acidente. Outra demanda é o fim de sistema de pontuação por determinados dias e auxílio pandemia e licenças.
“Existe má-fé no bloqueio excessivo”, revela Murilo. Ele reclama, também, que em determinados locais espera até 40 minutos por um pedido e já chegou a ganhar R$ 2,70.
E apesar do ato, com pedidos, praticamente, de ajuda e um olhar mais atencioso por parte das empresas, o organizador garante que o intuito não foi prejudicar os aplicativos. “Queríamos mostrar que temos poder e que, se não resolver, vai acontecer novamente.”
iFood e outros apps
O Mais Goiás tenta contato com o iFood, porém, o aplicativo disponibilizou um comunicado em seu site. Nele, a empresa afirma que respeita o direito dos manifestantes em protestar, mas o compromisso dela com todos os nossos parceiros fez com que ela acionou um plano para manter as operações em funcionamento.
Além disso, é informado que já foram atendidas as seguintes reivindicações: “taxa mínima de entrega: hoje toda a rota do iFood tem um valor mínimo de R$ 5, mas a média é muito superior, ficando entre R$ 8 e R$ 9; distribuição de EPIs: o iFood tem feito desde o início de abril a distribuição gratuita maciça e recorrente de EPIs para os entregadores em todo o país. Até agora, mais de 800 mil itens foram distribuídos (álcool gel e máscaras reutilizáveis). Reconhecemos que podemos melhorar a distribuição – e já estamos fazendo isso –, mas ressaltamos que ela já vem sendo feita. A partir de hoje, os entregadores que ainda não retiraram o kit receberão R$ 30 mensais para a aquisição de álcool gel e máscaras; seguro de roubo, acidentes e vida: já oferecemos seguro de acidentes e de vida gratuitamente para os nossos parceiros e temos uma parceria para oferecer seguro de moto com desconto; transparência em desativações: o iFood tem regras desativação de cadastro claras e um processo de análise de revisões cuja palavra final é dada por pessoas, e não por robôs; não há sistema de pontuação: o iFood não tem nenhum sistema de pontuação dos entregadores, nem usa estratégias de gamificação.”
O portal também entrou em contato, por e-mail, com o Rappi e Uber Eats, mas até o fechamento desta matéria não houve retorno. O espaço permanece aberto.
Nota
O iFood enviou um novo posicionamento exclusivo ao Mais Goiás. Sobre 70% dos pedidos serem entregues pelos restaurantes, a plataforma informa que o app funciona de duas formas: “No modelo marketplace,a empresa conecta clientes a restaurantes que têm frota própria de entregadores. Atualmente, esse tipo de serviço representa 70% dos pedidos realizados na plataforma. A outra modalidade, chamada de Full service, é uma operação que teve início há poucos anos e conecta clientes, restaurantes e entregadores, que também se cadastram na plataforma.”
Em relação a paralisação, a empresa enviou o texto que está disponível, na íntegra, a seguir:
“Antes de mais nada, o iFood apoia a liberdade de expressão em todos as suas formas. Em nenhuma hipótese entregadores são desativados por participar de movimentos. Essa medida é tomada somente quando há um descumprimento dos Termos & Condições para utilização da plataforma e é válida tanto para entregadores, como para consumidores e restaurantes.
É importante frisar que desativar indevidamente um entregador é ruim para o iFood. Os principais casos de desativação acontecem quando a empresa recebe denúncias e tem evidências do descumprimento dos termos e condições que pode incluir, por exemplo, extravio de pedidos, fraudes de pagamento ou, ainda, cessão da conta para terceiros.
Em casos identificados, o entregador recebe uma mensagem via aplicativo e é direcionado para um chat específico para entender o motivo da desativação e pedir análise do caso. A empresa também não adota nenhuma medida que possa prejudicar aqueles que rejeitam pedidos. Ao rejeitar muitos pedidos, o sistema entende que o entregador não está disponível naquele momento e pausa o aplicativo, voltando a enviar pedidos, em média, 15 minutos depois.
O iFood também não possui um sistema de ranking e nem de pontuação. O algoritmo de alocação de pedidos leva em consideração fatores como por exemplo, a disponibilidade e localização do entregador e distância entre restaurante e consumidor.
A empresa esclarece que o valor médio das rotas é de R$ 8,46. Esse valor é calculado usando fatores como a distância percorrida entre o restaurante e o cliente, uma taxa pela coleta do pedido no restaurante e uma taxa pela entrega ao cliente, além de variações referentes a cidade, dia da semana e veículo utilizado para a entrega. Todos os entregadores ficam sabendo do valor da rota antes de aceitar ou declinar a entrega. Todas as rotas tem um valor mínimo de R$5,00 por pedido, mesmo que seja para curta distância.
Em maio, o valor médio por hora dos entregadores foi de R$ 21,80. Para fins de comparação apenas, esse valor é 4,6 vezes maior do que o valor por hora tendo como base o salário mínimo vigente no país. Esses entregadores foram responsáveis por 74% dos pedidos. Pelos dados do iFood, os ganhos médios mensais do grupo que têm a atividade de entregas como fonte principal de renda (37% do total) aumentaram 70% em maio quando comparados a fevereiro.
Quanto a seguros, desde o fim de 2019, o iFood oferece a todos os entregadores cadastrados em sua plataforma o Seguro de Acidente Pessoal. A iniciativa é operacionalizada pela MetLife e pela MDS. Com ela, estão cobertas despesas médicas e odontológicas, bem como indenização em caso de invalidez temporária ou permanente ou óbito decorrente do acidente. O seguro não representa nenhum tipo de custo para os parceiros. O benefício é válido durante o período no qual eles estão logados na plataforma da empresa e também no “retorno para casa” – válido por uma hora e até 30 km do local da última entrega realizada de moto, ou por duas horas e até 30 Km do local da última entrega para quem realiza entregas com bicicletas, patinetes ou a pé. O iFood possui ainda parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo para promover boas práticas de conduta no trânsito.
Sobre medidas de enfrentamento do Covid-19, desde o início da pandemia, em março, foram implementadas medidas protetivas que incluem fundos de auxílio financeiro para quem apresentar sintomas e para aqueles que fazem parte dos grupos de risco. Também foi disponibilizado gratuitamente até o final do ano um plano de benefícios em serviço de saúde. Até o momento, foram destinados mais de R$ 25 milhões a essas iniciativas.
Em abril, a empresa iniciou a distribuição de EPIs (álcool em gel e máscaras reutilizáveis) em kits com duração de pelo menos um mês. O iFood desenvolveu uma logística específica para retirada desses materiais, para evitar aglomerações. O entregador recebe um convite no aplicativo, como se fosse um pedido, e o deslocamento é pago até o ponto de retirada.
A empresa já comunicou todos os entregadores ativos sobre a retirada e está focada grande parte dos seus esforços para atingir toda a base de entregadores nas cidades em que operamos. Também continuamos avaliando alternativas para atingir mais pessoas de forma segura e controlada, considerando a distribuição mensal para que todos tenham materiais sempre
De acordo com pesquisa do Instituto Locomotiva realizada em abril, as medidas adotadas pelo iFood tiveram nota média de 8,9, melhor avaliação entre as ações realizadas por empresas do setor que operam no Brasil. Oito em cada dez entregadores avaliam muito positivamente as iniciativas. A pesquisa mostra ainda que, mesmo após o fim da crise, 92% dos entregadores pretendem continuar na atividade de entregas por aplicativo.”
*Atualizado às 19h com a nota do iFood.