REPERCUSSÃO

Escândalos com pastores goianos impactam comunidade cristã, dizem religiosos

Padre e pastor comentam casos recentes de supostos assédios sexuais por religiosos

Escândalos com pastores goianos impactam comunidade cristã, dizem religiosos (Foto: Pixabay)

Três pastores goianos se envolveram em escândalos recentes. Esney Martins da Costa responde por dois inquéritos policiais que apuram supostos crimes sexuais, tendo nove denunciantes da Defensoria Pública de Goiás (DPE-GO); Edson Rodrigues da Silva em Itaberaí foi preso suspeito de estuprar uma adolescente de 12 anos na cidade do noroeste goiano; e o pastor Joaquim Gonçalves Silva, da Igreja Tabernáculo da Fé, apontado em junho como suspeito de assediar sexualmente quatro mulheres na capital, mas que morreu nesta semana em decorrência da Covid-19.

Para o pastor sênior da igreja evangélica Céu na Terra, Daniel Zimmermann, caso as acusações sejam comprovadas, é uma situação muito triste, que atrapalha a credibilidade não só das igrejas, mas da humanidade de modo geral. Segundo ele, “todo tipo de violência é trágica para humanidade, ainda mais partindo de líder religiosos”.

Sem citar os três mencionados inicialmente, mas religiosos já condenados e com crimes comprovados das mais diversas religiões, Daniel afirma se tratarem de “líderes disfarçados, ocupando lugares que não deveriam estar”. Ainda segundo ele, as pessoas procuram o amparo quando espiritual quando estão fragilizadas e este tipo de coisa acontecer é trágico. “Minha preocupação não é comigo, mas com os corações das pessoas”, lamenta.

Reitor do Santuário Basílica Sagrada Família, o padre Rodrigo de Castro Ferreira, concorda com Daniel. Para ele, esse tipo de situação afeta a comunidade cristã como uma todo.

“Infelizmente. Os líderes religiosos são frutos da sociedade em que estamos. Precisamos fortificar a instituição família. Hoje a família está em crise. E por isso a sociedade colhe essas circunstâncias. Acredito que prejudica sim, machuca o ser humano ainda mais e tem um efeito negativo horrível”, aponta.

O portal também falou com outros pastores, que preferiram não se manifestar sobre o assunto.

Casos

Ao todo, dois inquéritos policiais foram instaurados para apurar os supostos crimes de Esney. Um deles na Delegacia Especializada da Mulher (Deam) e o outro na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Segundo a Polícia Civil, vítimas e o suspeito já foram ouvidos. Ambos processos estão em fase final de conclusão.

O caso chegou até à corporação por intermédio da Defensoria Pública. Um servidor do órgão, que também é frequentador da Igreja Evangélica Renascendo para Cristo, ouviu relatos das vítimas e as orientou a buscar atendimento no Núcleo Especializado de Defesa e Promoção dos Direitos da Mulher (Nudem).

No dia 2 de junho, as vítimas formalizaram a denúncia na Polícia Civil. Nesta quarta (4), porém, chegou a nove o número de denúncias de fiéis contra o pastor Esney. À Polícia, ele negou os crimes.

Já o pastor de Itaberaí, Edson Rodrigues da Silva, foi preso na segunda-feira (2). O caso foi denunciado à polícia na última quinta-feira (29) e ele chegou a ser intimado a prestar esclarecimentos no dia seguinte à denuncia, mas não compareceu à delegacia. Segundo a polícia, o pastor é vizinho da adolescente e ainda teria ameaçado a irmã da vítima no mesmo dia.

Destaca-se, ele é coordenador de um grupo de jovens em uma igreja do município e, conforme informações, uma arma para ameaçar e evitar que a vítima revelasse os crimes. Os investigadores acreditam que ele possa ter feito outras supostas vítimas.

O delegado Kristian Rosa, responsável pela investigação, disse que os estupros alegados começaram neste ano. O irmão do homem também é suspeito de presenciar os crimes. Depois da prisão do suspeito, o investigador apura se outras crianças e adolescentes podem ter sido vítimas. “Ele nega todos os atos, se faz se desentendido, mas as versões são contraditórias”, contou o delegado sobre o depoimento do suspeito.

Por fim, o pastor Joaquim Gonçalves foi apontado como suspeito de assediar sexualmente quatro mulheres na capital. Ele teve seu nome envolvido em polêmica, em junho, ao ser denunciado por mulheres pelos crimes de abuso e importunação sexual. Entre as denunciantes, havia uma adolescente de 17 anos.

Joaquim Gonçalves tinha 85 anos e foi diagnosticado com coronavírus em meados de julho. No domingo (25 daquele mês), ele foi internado em uma UTI, mas não resistiu às complicações causadas pela doença, vindo a óbito dias depois.

De acordo com as vítimas, o religioso de 85 anos, os abusos aconteciam no momento em que elas estavam fragilizadas e buscavam aconselhamento espiritual.