Escolas e famílias devem frear formação agressiva de adolescentes, diz especialista
Em menos de 15 dias, a cidade de Rio Verde registrou dois casos de adolescentes…
Em menos de 15 dias, a cidade de Rio Verde registrou dois casos de adolescentes que ameaçaram atacar as escolas onde estudam e também a matar colegas e docentes. Durante as investigações de cada caso, os meninos desconversaram as pretenções. Mesmo assim, uma especialista ouvida pelo Mais Goiás destaca a importância das escolas e dos familiares atuarem juntos para frear o desenvolvimento de comportamentos agressivos das crianças e adolescentes.
De modo geral, a adolescência é tida pelos especialistas como um período conturbado para todas as pessoas em formação. No censo comum, inclusive, é descrita como uma “fase rebelde”, onde meninas e meninas se mostram mais irritados, descrentes, isolados e sem disposição para diálogo.
A psicopedagoga Tetê Ribeiro explica que existem muitos fatores que colaboram para esses comportamentos. “Primeiro a gente tem que pensar que o adolescente lida com sentimentos muitos novos. Ele não é mais criança, mas também não é adulto. Ele já sabe muita coisa, mas é pressionado a escolher o que fazer a vida toda através do vestibular. As vezes os pais também passaram por momentos difíceis nessa fase, mas como superaram, não sentem empatia pelos filhos. A sociedade não conversa com os filhos sobre sentimentos como raiva, ódio, inveja”, analisa Tetê.
A especialista também explica que adolescentes se formam, principalmente, pelos grupos que ocupam. Sendo assim, meninas e meninos se arrumam de um jeito, usam penteados específicos, escutam músicas parecidas, pois pertencem a esse coletivo. No entanto, quando um indivíduo não se sente pertencente de nenhum grupo, se sente rejeitado e sozinho.
“Não é só o bullying, que a gente reforça muito. As vezes essa criança está doente psicologicamente. As vezes ela não tem amigos na escola e nem tem o apoio dos pais em casa, ou seja, está o tempo todo sem alguém para compartilhar os sentimentos. Isso não é o nosso normal! Tem acontecido muito dos pais não terem momentos com seus filhos. Estamos trabalhando o tempo todo, não deixamos tempo para sentar na mesa para comer juntos, jogar algo juntos. Está todo mundo isolado na sua caixinha, na sua tela de TV e celular”, explica a psicopedagoga.
O bullying
O ‘Bullying’ são ações que intimidam e agridem pessoas tanto de forma verbal, quanto fisicamente. A prática é deliberada e ocorre de forma recorrente, ou seja, todos os dias por diversas vezes. Em geral, os ataques ocorrem sem motivo aparente.
Meninas e meninos agem de formas diferentes. A psicopedagoga Tetê Ribeiro diz que, em geral, os garotos zombam a masculinidade dos outros. “Viado”, “Fraco”, “Mulherzinha”, são alguns dos termos usados pelo sexo masculino como algo pejorativo, segundo a especialista. Enquanto as garotas zombam a aparência, inventam boatos e isolam as outras meninas.
Os agressores
Tetê argumenta que existem casos em que os agressores escutam os termos violentos em casa e os reproduzem em outros lugares. “As vezes vê o pai ou mãe comentando que uma atriz é cabeçuda ou que tal cantor é gay e saem dizendo isso de outras pessoas”, diz.
Uma outra possibilidade é que a criança e/ou adolescente sofra com essas comentários em casa dos pais e, por esse motivo, também os reproduz como os outros. “Não precisa bater, só de xingar o filho isso causa sentimentos ruins. “Sua sonsa”, “Não sei o que fiz para merecer um filho assim”, são comentários ditos pelos pais e que causam ressentimento”, argumenta.
A recomendação da especialista é que quando isso ocorre e ofende alguém, precisa ser corrigido pelos responsáveis. Caso aconteça na escola, precisa ser conversado também no ambiente escolar.
As vítimas do bullying
Aqueles que sofrem com o bullying também desenvolvem seus próprios sentimentos. Tetê explica que, muitas vezes, os adolescentes se sentem rejeitados e sozinhos. Muitos acreditam que merecem as agressões pois não tem apoio em casa.
”O bullying acontece todos os dias. Então, quem o sofre desenvolve raiva e quer depositar essa raiva em algum lugar. “Se ninguém me ajudou, vou fazer isso sozinho por mim”. Por isso, as vezes esses atentados em escolas estão muito ligados ao bullying. É onde passam maior tempo e, muito desse tempo, sendo agredidos e violentados psicologicamente”, explica a psicopedagoga.
O que as escolas podem fazer para evitar adolescentes agressivos?
A especialista argumenta que as escolas costumam fazer palestras e conversam algumas vezes com os estudantes, em casos pontuais. Mas que não atuam de forma mais efetiva para evitar que a prática do bullying aconteça.
Pensando nisso, a psicopedagoga listou sugestões de como as unidades de ensino podem agir.
- Entrevistas, em que os alunos conversem com especialistas
- Lives, pois se adequa mais com a linguagem dos jovens
- Caixas anônimas de denúncias, pois não compromete ninguém e faz com que colegas de sala atuem juntos
- Conversa com os pais, que passam a ter noção do que acontece longe deles
- Atenção dos professores, que podem falar com os alunos
O que os familiares podem fazer para os filhos não se tornarem agressivos?
- Conversar com os filhos sobre os sentimentos;
- Se mostrar presente e a disposição de ajudá-lo;
- Saírem juntos para terem momentos de distração;
- Se possível, matricular o filho em esportes;
- Levar o filho em terapias e rodas de conversa;
- Nunca agredir fisicamente e nem psicologicamente;
- Fazer com que a criança reflita porque se sente daquela forma, num ambiente agradável e sem julgamentos;
Caso os pais e responsáveis tenham armas de fogo, os especialistas recomendam mantê-las longe de crianças e adolescentes. Além disso, eles sempre devem estar sem munições.