Mãe de criança com autismo denuncia que filho não é aceito em escolas de Trindade
Escolas diziam que haviam vagas, mas quando descobriam do transtorno do menino, negavam a matrícula
A mãe do pequeno Yuri Urzeda, de 4 anos, denuncia que o filho, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista , não estava sendo aceito nas escolas particulares na cidade de Trindade. Taís Urzeda explica que procurou dois colégios e que todos confirmavam que tinham vagas disponíveis para matrícula. Porém, quando mencionava que a criança possui quadro de autismo, as empresas paravam de respondê-la ou diziam que não podiam atender ‘aquele tipo de criança’.
“Uma escola disse que não tinha profissionais capacitados pra cuidar ‘desse tipo‘ de criança. Foi bem assim que ouvi. Como se meu filho fosse um mostro, né? Me doeu muito! As escolas deviam acolher as crianças, mas estão discriminando. Nossas crianças não tem que se adaptar às escolas, são elas que precisam se adaptar, que precisam de professores de apoio, de profissionais capacitados.”, lamenta a mãe.
De acordo com Taís, no início de 2020 ela conseguiu matricular Yuri em um Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) da cidade. O menino chegou a frequentar o primeiro dia de aula, mas, por conta das restrições de isolamento social na pandemia de Covid-19, as aulas foram para o modo remoto. “Ele não tinha paciência para estudar assim e o que ele mais precisava era a interação social com outras crianças”, explica.
Sabendo que algumas escolas particulares da cidade retornariam ao semestre letivo de forma presencial, a mãe do menino resolveu matricular o filho. Porém, o silêncio sobre as vagas e as afirmações de falta de capacitação para atender às necessidades da criança revoltaram a genitora. Durante a troca de mensagens com uma das escolas, a atendente convida Taís a visitar o espaço e demonstra animação com a ideia da matrícula. Mas, assim que recebe a informação de que Yuri possui autismo, para de responder a mãe.
Filho não é aceito
A mãe lembra que quando foi buscar Yuri no fim do primeiro, e único dia de aula presencial, notou que o menino estava isolado em um canto brincando. “Estava brincando, mas isolado. Longe das outras crianças”, lembra.
O caso não é isolado. Segundo uma pesquisa da National Autistic Society UK de 2013, duas entre cinco crianças com autismo sofrem bullying na escola. Além disso, quase 70% dessas crianças sofrem trauma emocional como resultado de serem vítimas de bullying
Redes sociais: mãe desabafa sobre discriminação de escolas contra filho
Na última quinta-feira (5), Taís desabafou sobre o assunto nas redes sociais e o caso acabou repercutindo. “Liguei, perguntei sobre a vaga. “Não mãezinha, temos a vaga, pode vir!”. Cheguei a receber a lista de materiais. Mas, quando falei que meu filho era autista não existia mais a vaga. Então quer dizer que tem vagas, mas se ele for autista não tem? Qual o problema? Gente, meu filho é uma criança normal, como qualquer outra”, afirmou a mãe com a voz embargada no vídeo que publicou.
Segundo a Taís, o vídeo acabou impactando outras mães de filhos autistas, que começaram a relatar para ela que também sofriam com o preconceito e com a dificuldade de matricular as crianças. “Como doeu em mim, doeu nas mães. Muitas disseram que passam pelo mesmo, mas, se calam diante do que acontece por já estarem desacreditadas. Outras nem sabem dos direitos que tem. Precisamos falar sobre isso!”, diz.
Resultado da repercussão em Trindade
Com a repercussão do caso, escolas da cidade de Trindade começaram a entrar em contato com a mãe de Yuri, oferecendo vagas ao menino. Entre elas, uma das instituições que havia rejeitado o garoto. Além disso, Taís foi convidada pela Secretaria de Educação de Trindade para uma reunião, com o objetivo de discutir e desenvolver projetos de melhorias nas escolas.
“A minha revolta é a revolta de muitas. Até quando vou precisar lutar por algo básico? Será que quando meu filho for entrar na faculdade vou ter que fazer o mesmo? Pra ele entrar no mercado de trabalho, também?”, questiona.