*Juliana França é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo
Escondida na Praça Cívica, Biblioteca Pio Vargas passa despercebida aos goianienses
Embora tenha um acervo rico em literatura goiana, a Biblioteca Estadual Pio Vargas é despercebida…
Embora tenha um acervo rico em literatura goiana, a Biblioteca Estadual Pio Vargas é despercebida para a maioria dos goianienses que cotidianamente passam pelo Centro da capital. Alguns dos motivos é o fato do prédio estar escondido em meio a Praça Cívica e não conter uma fachada ou letreiro de identificação. O edifício abriga ainda a Gibiteca Jorge Braga, o Museu da Imagem e Som e a Biblioteca Braille José Álvares de Azevedo, além do Cine Cultura. Essa é a segunda de uma série de reportagens do Mais Goiás sobre as bibliotecas da capital.
Criada em 18 de junho de 1967, a biblioteca recebeu a atual denominação apenas em 22 de abril de 1991, em homenagem ao escritor Pio Vargas, que cedeu algumas de suas obras para a criação do museu, em 1967. De acordo com Terezinha Fernandes, que trabalha no local há 13 anos, a biblioteca possui um acervo de cerca de 80 mil títulos, mas pouco atual. “A maior parte dos livros são de doações, seja da comunidade, seja de autores e editoras. Alguns são doações do Ministério da Cultura e outras da Biblioteca Nacional. A última compra foi em 2005, os livros seriam para a Biblioteca do Centro Cultural Oscar Niemeyer, mas como o local não podia abrigar os livros por conta da reforma foram transferidos para cá”, explicou.
A funcionária conta ainda que o acervo, farto em literatura goiana, atrai muitos estudantes e pesquisadores da área. “Na parte de baixo do prédio nós temos o acervo geral e na parte de cima um acervo só de literatura goiana”, contou Terezinha. Entretanto, quem deseja estudar ou pesquisar no local, deve se organizar para ir durante a semana, já que a biblioteca funciona apenas de segunda à sexta-feira. “Antigamente nós abríamos aos sábados, mas com a equipe reduzida optou-se por não funcionar mais aos finais de semana”, disse Keithy Valéria Tito, chefe de Núcleo de Biblioteca, Arquivo e Museu do Centro Cultural Marieta Teles.
Além da Pio Vargas, o local oferece uma sala exclusiva para crianças, decorada especialmente pelo desenhista e cartunista Jorge Braga, a chamada Gibiteca, que é um espaço voltado para histórias em quadrinhos, literatura infantil e infanto-juvenil, que funciona há 24 anos. Helenir Freire, responsável pelo espaço, conta que a Gibiteca possui uma média de seis mil gibis e oito mil livros.
“Nós recebemos muitas visitas escolares e isso é muito importante para as crianças. Durante as visitas, eu ensino sobre a importância da biblioteca e de como se portar, seja aqui ou em qualquer outra biblioteca que elas forem”, contou a bibliotecária. Já o Museu da Imagem e Som possui uma biblioteca com temática voltada para o estudo de museus e audiovisual. Os principais assuntos são: fotografia, cinema, música e museologia.
Além dessas, existe a Biblioteca Braille José Álvares de Azevedo, a única em todo o estado de Goiás. De acordo com a Vitória Cywinski, que trabalha no local, essa é uma biblioteca especializada para pessoas cegas ou com baixa visão. “São em média 100 visitas mensais, de pessoas que vem estudar para concurso ou para a faculdade, todos deficientes visuais. Além disso, semestralmente nós oferecemos um curso de Leitura e Escrita em Braille para pessoas que enxergam mas que tem interesse em aprender”, disse.
A biblioteca possui cerca de 10 mil títulos em braille, além de 100 mil títulos em audiolivros. “A maior parte do nosso acervo é da Fundação Dorina Nowill para Cegos, localizada em São Paulo. Nós somos cadastrados nessa instituição e recebemos os livros que são fabricados lá. aqui nós temos uma impressora braille mas fazemos apenas pequenas impressões”, explicou. De acordo com ela, a biblioteca está produzindo livros digitalizados com ledores te tela. “É um trabalho que exige bastante cuidado. Os usuários da biblioteca faz o pedido e nós digitalizamos, mas atendemos também cidades do interior e até pedidos de fora do país”, disse.
No local, há um sala com dez computadores para acesso ao público. São computadores antigos utilizados principalmente por usuários que não possuem o equipamento em casa. “Nós oferecemos além dos computadores, um professor para ensinar informática para as pessoas que tem dificuldade ou que não sabem mexer. é um trabalho simples mas que faz diferença para esses usuários”, concluiu Vitória.
Visibilidade
Atualmente, as bibliotecas em todo o mundo buscam oferecer mais do que apenas acesso à livros. Esses espaços estão se destacando pela tecnologia, modernidade e arquitetura. Além de disponibilizar uma gama de novas opções para os visitantes. Um exemplo é a Biblioteca São Paulo, construída no terreno onde existia o Complexo Penitenciário Carandiru, palco do massacre em que morreram 111 presos no ano de 1992. O local oferece uma estrutura moderna, com acessibilidade e tecnologia, com o objetivo de promover a inclusão por meio da leitura e renovar o conceito de biblioteca.
Segundo Andréa Pereira dos Santos, professora do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal de Goiás (UFG), falta essa visibilidade para a Biblioteca Pio Vargas. “A biblioteca de São Paulo tem uma arquitetura muito convidativa, quem passa pela estação enxerga a biblioteca, vê que é uma biblioteca. Tem toda uma estrutura que diz que é um espaço público. A suntuosidade do prédio e o letreiro chamam a atenção das pessoas. Muito diferente da Pio Vargas que fica escondida. As pessoas que passam pela Praça Cívica não conseguem enxergar a biblioteca, a população não sabe onde é”, explicou.
A hipótese da professora e também pesquisadora, é que o espaço físico é de extrema importância para que ocorra uma mudança de comportamento. “É preciso que o espaço seja convidativo para que o cidadão tenha vontade de conhecer. Aqui em Goiânia falta visibilidade e um maior trabalho com o público. A biblioteca pode ter até bastante tecnologia, mas se não trabalha a questão da visibilidade para sociedade, mesmo com a tecnologia ela vai continuar obsoleta”, disse Andréa.
Responsáveis
O prédio onde se encontra a Biblioteca Pio Vargas é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), de modo que quaisquer intervenções devem passar pela autorização do órgão. Porém, a assessoria de imprensa garantiu que isso não impede que uma sinalização seja feita no local.
Por nota, a Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Esporte (Seduce) informou que, em março de 2016, elaborou o Circuito Cultural da Praça Cívica, aprovado pelo Iphan. O objetivo era reformar toda a praça, inclusive para dar mais visibilidade aos sete prédios que a compõem. Entretanto, o projeto nunca saiu do papel, antes por falta de verba, e agora pela mudança de governo.