“O Avesso da Pele”: Escritor protesta contra recolhimento de livros em escolas de Goiás
A Secretaria de Estado da Educação de Goiás determinou o recolhimento do livro nas unidades de ensino do Estado
O escritor Jeferson Tenório, autor do livro “O Avesso da Pele” que está sendo recolhido por diversas unidades de ensino do país incluindo Goiás, classifica a atitude como inconstitucional. Em nota publicada por meio de suas redes sociais, Tenório afirmou que são atos violentos e que remotam dias sombrios do regime militar. “Inaceitável uma atitude antidemocrática como essa em pleno 2024. Não vamos aceitar qualquer tipo de censura”, garante.
Segundo o escritor, nenhuma autoridade, seja ela diretora, secretário, vereador, deputado, governador ou presidente, tem o poder de mandar recolher materiais pedagógicos de uma escola. “É uma atitude inconstitucional. É um ato que fere um dos pilares da democracia que é o direito à cultura e à educação. Não se pode decidir o que os alunos devem ou não ler com uma canetada”, completa.
Na última quarta-feira (6), a Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc-GO) determinou o recolhimento do livro incluído na lista de obras literárias aprovadas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) em 2022. Segundo a pasta, as obras devem ser analisadas conforme a proposta pedagógica do currículo estadual.
A decisão
A decisão da Seduc-GO vai ao encontro da discussão levantada pelo deputado bolsonarista Amauri Ribeiro (UB), que usou a Tribuna da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), durante sessão ordinária, na última terça-feira (5), para discutir trechos da obra. Nela, parlamentares da direita denunciaram expressões, jargões e descrição de cenas de sexo na publicação, que alegaram ser inadequadas para exposição a menores de 18 anos.
O candidato do chapéu classifica a obra como ”uma porcaria” e uma ”pornografia”. O parlamentar cobrou a retirada dos livros das escolas estaduais de Goiás.
O Avesso da Pele foi alvo de polêmicas após ser selecionado pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) para professores e estudantes de escolas públicas de todo o país. Todo o imbróglio começou quando uma professora em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, publicou um vídeo criticando a obra.
A oposição rebateu Amauri Ribeiro. Segundo a deputada estadual Bia de Lima (PT), presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação em Goiás (Sintego), é o parlamentar que tem a mente suja. ‘A discussão na escola não passa por essa coisa suja que talvez o deputado esteja acostumado’, argumenta Bia.
Em nota, a Seduc confirmou o recolhimento dos livros e garantiu que fará a leitura e a análise com vista a definir se o livro poderá ou não ser distribuído.
Livro já foi vencedor de prêmio
A obra literária escrita por Jeferson Tenório venceu o prêmio Jabuti, em 2021. O que causou toda a polêmica foi a parte do texto em que uma personagem branca, é questionada sobre características físicas e comportamento do namorado negro, durante relações sexuais.
No decorrer da história, em outro trecho, o namorado negro relata momentos do ato sexual com a namorada branca. Após o livro ser alvo de polêmica, suas vendas aumentaram em 400% na Amazon desde a última sexta-feira (1).