“Essa é nossa última cartada”, diz estudante que participou da tomada da sede da Seduce
Funcionária relata momentos de terror ocorridos na noite de ontem, mas apoiadora do movimento de ocupação refuta que tenham havido episódios de violência
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Em mais um capítulo do imbróglio entre secundaristas e o governo estadual sobre a implantação de Organizações Sociais (OSs), a sede da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte
(Seduce) foi tomada por estudantes. Invadida para os críticos das manifestações, ocupada pelos defensores, o fato é que dezenas de jovens encapuzados entraram no local ainda durante o expediente e exigiram a saída dos funcionários.
A assessora de imprensa da Seduce, Régia Laranjeiras, era uma das pessoas presentes no momento da “invasão” e relata momentos de terror. Ela conta que toda a situação se desenrolou por volta das 18h desta terça (26). “Eles eram por volta de 20 e chegaram esmurrando as portas, falando para todo mundo sair. Um deles estava armado com um facão e entrou pela janela”, relata.
Segundo ela, o fato de os manifestantes estarem encapuzados trouxe ainda mais medo aos funcionários presentes. “Não dava para saber se eram homens, mulheres, adultos ou adolescentes”, afirma. Eles teriam espalhado um tipo de pó pelo local, que a assessora não soube identificar.
No meio da confusão, alguns dos funcionários da Seduce acabaram ficando presos em algumas salas. “Ficamos mais de cinco horas lá e saímos escoltados pela polícia”, declara Régia. “Foi uma situação bem difícil, me senti bastante agredida”, ressalta.
Para ela, o ato ocorrido ontem foi uma ação criminosa. “Eu considero uma invasão por encapuzados. Se não for crime…”
OUTRO LADO
A estudante Natália (nome fictício) também participou da “ocupação” e contesta a versão de Régia. A jovem já está cursando a faculdade, mas tem apoiado o movimento contra as OSs desde o início.
Conforme seu relato, cerca de 20 estudantes, a maioria secundaristas, participaram da ação de ontem. A intenção, desde o início, era mesmo o de ocupar a sede da Seduce, já que todas as tentativas de diálogo teriam falhado. “Não adianta tentar dialogar. Já tentamos antes”, disse.
Os cerca de 20 que iniciaram o protesto logo se tornaram quase 150 com a chegada de apoiadores. A jovem contesta a versão de que havia gente armada entre eles. “Pelo menos não que eu tivesse visto”, declara.
Natália relata que durante o ato de ontem alguns dos funcionários deliberadamente se trancaram em algumas salas, como teria sido o caso do subsecretário Marcelo Oliveira. “Ele se trancou na sala da Raquel, certamente para pegar papéis e documentos”, diz. “Foi uma jogada muito estratégica. Com isso os policiais disseram que estávamos fazendo cárcere privado e que iriam invadir.”
De acordo com Natália, os manifestantes temem episódios de violência policial. “Estão todos com medo de retaliações. Tinha cerca de 30 viaturas no local, do Choque, camburões. Se entrarem lá vão espancar sem dó”, afirma. Após uma deliberação, os manifestantes entraram em acordo com a polícia e decidiram permanecer em barracas na parte externa da sede da Seduce.
A estudante atesta que a tomada da sede da Seduce foi, em parte, motivada pelas desocupações recentes de pelo menos oito unidades em todo o Estado. “O governo começou a manipular pais e professores, dizendo que eles perderiam gratificações, então mesmo aqueles que são contrários às OSs acabaram tomando essa iniciativa”, analisa.
Sem a perspectiva de novas reuniões ou mesmo de que o governo estadual possa recuar na medida de implementação das OSs na educação, Natália diz que o objetivo agora é “atrapalhar” o trabalho da Seduce. “Essa é a última carta que estamos lançando”, conclui a estudante.
Na manhã desta quarta (27/1), cerca de 25 jovens permanecem na entrada do local. Os funcionários que chegam estão sendo orientados a voltarem para casa até que a situação se resolva.
A assessoria da Polícia Militar afirma que há agentes da corporação nas redondezas da sede da Seduce. A quantidade seria o suficiente “para manter a ordem”.