Estudantes de Goiás não querem fazer Enem, diz presidente da UEE
Segundo Thaís Falone, aplicação do exame serviria para aumentar ainda mais a desigualdade entre estudantes carentes e aqueles que têm condições
Não, os estudantes de Goiás não querem fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na data prevista. É o que afirma a presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE), Thaís Falone. Segundo ela, a secretária de Educação, Fátima Gavioli, foi desonesta ao dizer que os alunos querem fazer a prova. “Não houve uma pesquisa ampla que expressasse a opinião da maioria dos estudantes, pra que fosse possível alcançar essa porcentagem dita pela secretária [que seria de 90%]”, garante a representante da UEE.
A secretária defendeu, na quarta-feira (13), a manutenção do cronograma do Enem. Além disso, Gavioli afirmou que a pasta fez uma busca ativa junto aos alunos do terceiro ano do Ensino Médio, perguntando a eles se queriam ou não a suspensão do certame deste ano, e que os estudantes teriam dito que gostariam que houvesse a realização da prova.
Thaís diz não acreditar que a secretária tenha ligado para todos os estudantes dos 246 municípios. Além disso, ela afirma que a realização do teste serviria apenas para aumentar ainda mais a desigualdade entre estudantes carentes e aqueles que têm condições.
“Os 15 minutos de aula que estão sendo dados por dia na TV não são suficientes para os estudantes do Estado. Principalmente para os mais vulneráveis”, ampliou. Para ela, manter a data é acabar com o sistema de educação. “Na quarta, mesmo, tive a denúncia de uma aluna que mora na zona rural e não tem acesso a internet. Ela só tem os 15 minutos de aula por dia.”
Não é hora
Para Thaís, não é hora de discutir data, somente o adiamento. “Esperamos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) o adiamento. É o momento de pedir somente isso. Não dá para tratar de data em um momento, no qual o País está com 13 mil mortos pelo coronavírus”, declarou. “Todas as instituições deveriam estar voltadas para a saúde.”
Questionada sobre adesão dos alunos, apesar do posicionamento, ela afirma que as inscrições foram feitas. O intuito é utilizar os inscritos para entrar com uma ação na justiça via entidades nacionais. Além disso, ela revela que os estudantes já realizam um abaixo-assinado pelo cancelamento com 250 mil assinaturas.
Já sobre o Ministro da Educação Abraham Weintraub, principal defensor da manutenção do Exame, Thais classifica como irresponsável. “Disse que o Enem não era medida de acesso à diminuição da desigualdade. A ideia é justamente deixar o processo mais igualitário. O Enem nos dá acesso a conseguir um sonho. É só mais uma forma de beneficiar os alunos com melhores condições.”
Nota
Além de conversar com o Mais Goiás, a UEE, por meio de sua presidente, emitiu uma nota sobre o tema. Confira a seguir.
“ADIA ENEM!
Na última terça-feira (13/05), foi veiculada no Jornal OPopular, declaração da Secretária de Educação do Estado de Goiás, a professora Fátima Gavioli, afirmando que 90% dos estudantes são favoráveis a manutenção da realização do Enem. A declaração surpreende a comunidade escolar uma vez que não houve a realização de qualquer pesquisa para a afirmação.
Como presidente da União Estadual dos Estudantes UEE Goiás, também me questiono sobre a condução da Secretária no enfrentamento à crise educacional que vivemos em razão da pandemia do Covid-19.
A afirmação demonstra não só o desconhecimento da Secretária diante da realidade social dos estudantes goianos nos 246 municípios de Goiás – muitos sem acesso à internet -, mas de seu próprio sistema educacional. Não é honesto afirmar que os estudantes em situação de vulnerabilidade estão sendo plenamente alcançados pelo regime especial não presencial de aulas e ainda menos colocar na conta dos estudantes uma posição pessoal da Senhora Secretária em favor de uma decisão que só beneficia uma parcela privilegiada dos estudantes goianos.
Falta à Secretária um olhar carinhoso para com os estudantes do Estado. É momento de pensar soluções para preservar a vida da nossa população no enfrentamento à pandemia e na redução dos danos econômicos provocados.
Defender a manutenção do Enem é assinar um atestado pela continuidade de aumento das desigualdades sociais através do acesso restrito à educação no Brasil.”
Thaís Falone Bernardes
Presidente da União Estadual dos Estudantes de Goíás.
UNE
Presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão, explica que a entidade tem atuado em várias frentes. Eles, por exemplo, estão por trás do abaixo-assinado citado pela presidente da UEE.
Além disso, a UNE tem feito movimento nas redes sociais, articulado projetos de lei com deputados e fazendo a pressão para tentar chegar ao governo. “Além disso, temos construído ações na justiça.” Iago lembra que um mandado de segurança já foi negado Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas que a União irá, agora, ao juízo do Distrito Federal, que pode tratar de questões de Inep.
De volta às pressões, ele cita que estas servem para ganhar a opinião da sociedade e, quanto mais adesão, maior a chance de um resultado positivo. “O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), já disse ao presidente Bolsonaro que Enem deveria ser adiado”, relata Iago.
Questionado sobre a manutenção do certame, ele diz que é uma insensibilidade. Ele afirma que não se recorda de nenhum especialista ou entidades ligadas a universidades, e reitores, que defendam que o Enem seja mantido. “Eles dizem que é necessário cancelar para não aumentar as desigualdades”, conclui.