Estudantes, torcidas e sindicatos se unem em ato pela democracia em Goiânia
“Poucas vezes vimos uma movimentação prévia tão grande”, diz membro do DCE-UFG. “Acredito que será um ato expressivo”
“Estamos organizando uma manifestação em Goiânia em conjunto com vários apoios para o próximo domingo na Praça Cívica contra o governo Bolsonaro”: um simples tuíte do estudante universitário Felipe de Souza, no último domingo (31), viralizou mais do que ele podia imaginar. Em algumas horas, eram 1.200 compartilhamentos. Neste momento, mais de 2 mil e 4 mil curtidas. A postagem foi o suficiente para o start da manifestação pela democracia do próximo domingo (7), que ocorre na Praça Cívica, em Goiânia, às 15h.
Estamos organizando uma manifestação em Goiânia em conjunto com vários apoios para o próximo domingo na Praça Cívica contra o Governo Bolsonaro. Logo teremos mais informações de horários.
Infelizmente temos de fazer isso em plena Pandemia, infelizmente…
RT, RT, RT GOIÂNIA!!
— Felipe 🚩 (@Banquetas) May 31, 2020
Ao ver o engajamento, o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Goiás (DCE-UFG) se uniu ao estudante para auxiliar. Segundo Luciana Rodrigues de Oliveira, tesoureira do DCE-UFG e com experiência em organização de atos, poucas vezes ela viu uma manifestação prévia tão grande.
Inclusive, existe, também, uma convocação unificada das torcidas dos três maiores clubes de Goiânia: Vila Metal (Vila Nova), Dragão Antifascista (Dragão) e Esmeraldinos Antifas (Goiás). Para Igor Dias, presidente da Vila Metal, quem não é fascista não vai se ofender com o ato, que é antifascista.
Antifascismo
Ao Mais Goiás Felipe, as pautas do movimento são: lutar contra o racismo, antifascismo e dar voz ao movimento negro. “E queremos aproveitar o momento para lembrar as pessoas que ainda vivemos a pandemia do novo coronavírus e estamos sem ministro da Saúde [desde a saída de Teich. Há quase um mês Bolsonaro está sem falar seriamente da Covid-19.”
O estudante lamenta que a manifestação precise ser feita em meio a pandemia, mas diz ser por um bem maior. “Pensando nessa situação, estamos levantando doações de máscara para levar e dar a quem não tenha. Teremos, também, várias pessoas orientando, dando álcool em gel, mantendo o distanciamento para não contribuirmos com a contaminação. Além da manifestação, nosso foco é não contribuir para disseminação”, garante.
Grupos antidemocráticos
Segundo Felipe, manifestações antidemocráticas têm ganhado espaço neste governo. “Estão tendo suporte e liberdade. Nas manifestações pró-governo é possível ver bandeiras de supremacia branca.” Ele lembrar que, no último sábado, o grupo conhecido como “300 de Brasília”, fez uma manifestação “claramente direcionada à Ku Klux Klan (KKK)”.
Ele aproveitou o momento, ainda, para citar a fala do ministro Abraham Weintraub do dia 22 de abril, que disse odiar o “termo povos indígenas”, pois só existe um povo brasileiro. Para ele, quando coloca tudo “no mesmo bolo”, há um discurso racista. “83% mortos em favelas do Rio são negros; 60%, inocentes. Logo lembramos do Amarildo, da Marielle, do João Pedro, daquela criança vindo da escola… Ele quer enquadrar todos no mesmo parâmetro e isso não real. Pessoas brancas com cassetete levam tapinha nas costas da polícia, em manifestação. Um homem negro é agredido (por menos). Vemos a diferença de tratamento.”
DCE-UFG
Segundo Felipe, a repercussão no Twitter chamou a atenção do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Goiás (DCE-UFG), que entrou em contato e, agora, atua junto na manifestação. A tesoureira do DCE-UFG, Luciana Rodrigues de Oliveira, aluna de Direito, confirmou a fala do estudante.
Segundo ela, tudo foi muito rápido e, após as manifestações ocorridas em São Paulo, Rio e Belo Horizonte, o DCE viu a postagem de Felipe. Após verificar que ele não era um militante organizado, o grupo resolveu entrar em contato e oferecer ajuda.
“Já conseguimos encaminhar algumas coisas, nesta segunda. Conseguimos carro de som com sindicatos e estamos tentando organizar doações”, revela Luciana, que já confirma a participação do Sindicato dos Trabalhadores Urbanitários (Stiueg) e do núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública.
Torcidas de clubes
As torcidas organizadas dos três maiores clubes da capital (Goiás, Vila Nova e Atlético Goianiense) também estarão presentes no evento e o DCE-UFG tenha alinhar uma agenda única. Nesta segunda-feira, um flyer conjunto foi divulgado pela Vila Metal, Dragão Antifascista e Esmeraldinos Antifas. Além de convocar o ato, na Praça Cívica, às 14h, o chamamento pede pelo uso de máscara, manifestação pacífica e respeito aos rivais.
Segundo Luciana, a intenção é chegar ao local e falar com todos os grupos presentes, a fim de unificar o ato. “Até para dar mais segurança. Apesar de manter a distância exigida, temos que estar próximos para evitar repressões.”
Sobre a adesão e expectativa, ela afirma que, nesta terça-feira (2), o Fórum Goiano Contra a Reforma da Previdência – grupo formado há algum tempo por diversos segmentos e que discute os atos na cidade – irá debater a pauta. “Mas poucas vezes vimos uma movimentação prévia tão grande”, garante ela que esteve à frente da manifestação pela educação em 15 de maio, de 2019. “Acredito que será um ato expressivo. Temos conseguido angariar diferentes segmentos da sociedade.” Luciana prefere não dar previsões, pois, apresar da movimentação, o cenário é pandemia.
Vila Metal
Igor Dias é presidente do Movimento Vila Metal Antifascista, criado em 2007 por torcedores do Vila Nova. Segundo ele, o grupo sempre se posicionou e, devido a escalada de manifestações antidemocráticas, de pessoas pedindo por ditadura e mais, foi preciso organizar um ato. “Não era para acontecer [por conta da pandemia], mas não podemos deixar o bem maior, que é a democracia, ser ameaçado. Respeitamos o isolamento, mas tememos o futuro”, afirma.
Ele afirma, ainda, que a ideologia antifascista não é de direita ou esquerda. “Pode ser de centro, direita, esquerda, liberal… qualquer um, desde que comprometido com a democracia. Antifascismo é um movimento contra a barbárie.” Para ele, quem não é fascista não vai se ofender com o ato, que é antifascista.