Boa ação

Ex-aluno comprova vínculo empregatício de professora com tarefas antigas, em São Luís (GO)

Documentos foram guardados pelo ex-estudante durante 25 anos. Professora buscava provar período de trabalho para sua aposentadoria por tempo de contribuição

Uma audiência de instrução na Vara do Trabalho de São Luís de Montes Belos, cidade da região Central do Estado a 127 km de Goiânia, foi marcada por emoção e nostalgia, na última semana. Isso porque um ex-aluno utilizou tarefas escolares do jardim de infância para comprovar vínculo empregatício de uma professora com uma escola de Firminópolis, 25 anos após ter tido aula com a educadora. Profissional buscava provar período de trabalho para sua aposentadoria por tempo de contribuição.

Conforme os autos, a professora identificada como Maria de Fátima possui Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) anotada como profissional da escola no período de maio de 1996 a dezembro de 1997. No entanto, a mulher alega que o primeiro ano de trabalho, em 1995, não foi registrado. Na contestação, os representantes do colégio negaram que a professora tivesse dado aula nessa época, sob a justificativa de que não existiam provas na CTPS, nem em outros documentos.

Segundo o advogado da educadora, Leni Júnior Assunção, a cliente apresentou uma folha de caderno com assinaturas, que representava o ‘batimento do ponto’ da época. “Ela precisava da contabilização desse ano em que trabalhou na escola sem registro para fins previdenciários. O juiz não estava muito satisfeito com a prova apresentada. Então, nós informamos à professora que ela precisaria de duas testemunhas para comprovar o vínculo”, disse.

A professora escolheu uma colega que também trabalhou na unidade e um ex-aluno do colégio. “A primeira testemunha informou que se lembrava da época em que elas trabalhavam na escola porque iam juntas para a cidade de Firminópolis. Ela alega que a situação ficou marcada principalmente porque estava grávida e precisava se deslocar todos os dias com a Maria de Fátima para darem aula”, afirmou Leni.

Foi a segunda testemunha, no entanto, quem marcou a audiência. O ex-estudante, hoje advogado e professor, Orion Rabelo, relatou que ainda guardava as “tarefinhas” da época. O juiz Lucas Carvalho de Miranda Sá suspendeu a audiência para que o ex-aluno buscasse os documentos. Ao retornar, a emoção foi grande: desenhos, tarefas e provas de português e matemática já amareladas pelo decurso do tempo ainda traziam visível o nome da professora e o ano de 1995.

“O Orion e eu moramos na mesma cidade, então nos vemos algumas vezes. Quando o advogado disse que eu precisava de testemunha, pensei imediatamente nele porque foi um aluno que marcou bastante. Era muito querido e atencioso. Ele se dispôs a me ajudar, mas eu não imaginava que ele ainda guardasse as tarefas. Quando vi o material não me contive e chorei de emoção. Foi muito gratificante”, contou Maria de Fátima.

Para a professora, o sentimento que fica é o de gratidão. “Serei grata eternamente. Fico feliz em ver que ele ficou marcado pelo meu trabalho, aprendeu e pratica o que ensinei. Sempre procurei fazer o melhor e atuar com amor. Acredito muito no trabalho humano. O bem que você faz sempre volta. A recompensa vem um dia”, disse.

Durante a audiência, o ex-aluno afirmou que se sentiu grato por poder ajudar a professora de infância e comentou que busca repassar aos seus alunos todo o carinho, respeito e aprendizado recebido durante sua vida escolar. Para ele, profissionais humanistas hoje estão em falta. “Essa demanda demonstrou como uma audiência deve ser realizada na busca da verdade real”.