Risco de Superbactéria

Exames de bebês isolados no HMI devem ser divulgados até sexta-feira (24)

Diretora técnica afirma que crise causada pelos casos de infecção por bactéria multirresistente é resultado da superlotação da unidade

O Hospital Materno Infantil (HMI) vai manter os 15 bebês que estão em observação na unidade em isolamento até que exames comprovem que eles não estão infectados com a Klebsiella pneumoniae Carbapenemase (KCP). A informação é da diretora técnica da unidade, Sara Gardênia.

Na última semana, duas crianças faleceram em decorrência de infecções causadas pelo microorganismo, classificado como multirresistente por não ser afetado por grande parte dos antibióticos existentes. “Tem bactérias que sofrem mutações com o passar do tempo. Se hoje o antibiótico A resolve para ela, pode ser que amanhã ela encontre um meio de ser resistente. Por isso temos um esquema para esse tipo de caso. Não estamos utilizando o esquema mais forte porque estaríamos causando resistência bacteriana”, explica Sara.

A gestora informa que os resultados do exame realizado nessas crianças – conhecido como hemocultura – devem ser divulgados entre quarta (22) e sexta-feira (24). Os prazos correspondem aos períodos de uma semana após a notificação da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) (15) e à morte do segundo bebê que foi vítima do KPC na unidade, na última sexta (17). O primeiro caso foi registrado na terça-feira (14).

A bactéria é transmitida em ambientes hospitalares e provocam infecções sanguíneas, no trato urinário e em feridas, que podem evoluir para um quadro de infecção generalizada, muitas vezes resultando em morte, especialmente em crianças e idosos. A infecção costuma provocar febre, dores no corpo – principalmente na bexiga – e tosse. Em adultos a evolução da doença é gradual, mas em recém-nascidos o quadro costuma se agravar de forma súbita.

No HMI, os bebês em isolamento dividiam com as crianças vitimadas pela bactéria leitos na Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal (Ucin). Este é o único local do hospital que está em isolamento e que não está recebendo novos pacientes. Os pronto-socorros, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e as enfermarias continuam funcionando normalmente.

Dentre os 15 bebês cujos casos estão sendo investigados, dois deles estão sob vigilância em um regime diferenciado, já que a possibilidade de que estejam infectadas pela KPC é maior do que as demais. “Nós temos crianças com infecção perinatal por outros tipos de bactéria. Quando temos uma evolução semelhante às dos casos de KPC ficamos com aquelas crianças com uma vigilância um pouco mais intensificada, com uso de antibiótico sem mesmo esperar o resultado da hemocultura”, afirma Sara, relatando os casos em questão. Essas crianças contam com uma equipe específica para seus cuidados. Apesar disso, todas têm quadro estável.

Superlotação

Sara declara que o principal fator para o desencadeamento da crise foi a superlotação da unidade. “Especificamente no período do Carnaval, que foi quando tivemos um pico de atendimentos e de internação, nós tínhamos leitos fechados na rede municipal dirigidos para a gestação de alto risco. 24 leitos fechados fazem toda a diferença”, diz a diretora referenciando o Hospital da Mulher e Maternidade Dona Íris (HMDI).

No período citado por ela, a última semana de fevereiro, a Ucin do HMI, que conta com 22 vagas, chegou a ser ocupada por 35 crianças. Foi exatamente nessa época também que os bebês vitimados pela KCP nasceram. A contaminação pode ser o resultado da rotatividade constante de familiares das crianças, além da própria equipe do hospital.

Conforme Sara, a questão da superlotação já é de conhecimento da Secretaria Estadual de Saúde. “Esse diagnóstico de que tem que aumentar a oferta não tem que partir do gestor do hospital. Eles [da secretaria] têm dados e estatísticas que nós mandamos para eles. É uma questão que já conhecem”, diz ela, que afirma acreditar que a secretaria tenha estratégias para aumentar a rede de atendimento.

O problema da superlotação seria uma realidade frequente da unidade. Como hospital de referência, chegam ao HMI não apenas casos de Goiânia e do interior de Goiás, mas de outros Estados, como Tocantins, Mato Grosso, Bahia, Santa Catarina, Maranhão e até Pará.

“Nossa oferta é razoável, mas não é o bastante. Nossa demanda é infinita, mas nossa estrutura é finita”, avalia Sara. “Recursos esgotam, e não estou falando só de dinheiro, mas de pontos de oxigênio, berços, encubadoras, equipes, monitores”, detalha.

Segundo a diretora, o maior problema enfrentado pela unidade acontece em grande parte em decorrência da falta de estrutura nas unidades básicas de outras cidades. Sem possibilidade de atendimento de baixo risco em outros locais, muitas mães recorrem ao HMI, que acaba sobrecarregado de atendimentos de todos os tipos. “Se estivéssemos focados no alto risco, isso resolveria grande parte do problema”, pontua.

Na Ucin, onde os casos relacionados à KPC foram detectados, deveriam ser tratados apenas bebês que necessitam de cuidados intermediários, como aqueles que precisam de algum antibiótico, mas estão em bom estado, ou os que precisam de um capacete de oxigênio, mas não necessitam de ventilação mecânica, por exemplo. No entanto, devido à sobrecarga, a Ucin acaba por ter que atender também pacientes da UTI Neonatal.

A solução não parece simples. “Toda uma rede precisa ser estruturada. Faltam mais leitos de obstetrícia, faltam mais leitos de neonatologia, faltam mais leitos pediátricos no Estado. Não pode toda a expectativa ficar em cima de um hospital. A gente acolhe quem pode, mas chega um momento que esgota”, avalia Sara. “Enquanto não for uma determinação de gestores, continuaremos com as portas abertas até chegar à nossa capacidade. Quando chegar ao limite, vamos ter que regular os pacientes. Enquanto isso a gente espera que a rede se organize”.