Faculdade privada barra entrada de filhos de alunos em salas de aula
Estudantes de uma faculdade privada de Aparecida de Goiânia denunciam que estão sendo proibidas de…
Estudantes de uma faculdade privada de Aparecida de Goiânia denunciam que estão sendo proibidas de assistirem aulas na companhia dos filhos. Mulheres alegam que não têm onde deixar as crianças e podem ter que trancar o curso caso não consigam levá-los para a instituição. Faculdade Alfredo Nasser (Unifan) afirma que ambiente é acadêmico, adulto e não lúdico à criança.
O caso mais recente aconteceu com a aluna do 7º período de Administração Nayanne de Farias Matos. Na última segunda-feira (14), ela não pôde entrar na sala de aula e fazer uma atividade avaliativa pois estava acompanhada da filha de seis anos.
“O professor não me deixou nem entrar na sala. Na frente da minha filha e de outros alunos, ele disse que eu não poderia entrar com a criança. Foi muito constrangedor. Já levei ela outras vezes para aula do mesmo professor e não tive problema algum, mas dessa vez não pude assistir aula”, afirmou.
Na coordenação do curso, Nayanne foi informada de que a orientação de não levar crianças para aulas é antiga. Ela alega, no entanto, que nunca foi comunicada da proibição.“Fui pega de surpresa porque nunca teve isso. É uma situação difícil porque vou ter que pagar alguém para cuidar dela ou parar de estudar”.
Caso semelhante
Estudante de administração há dois anos e meio na instituição, Bruna Alves de Lima se vê em uma situação complicada para concluir o curso. Há dois semestres da formatura, a aluna afirma que não sabe se irá conseguir continuar estudando. Isso porque ela tem dois filhos, um menino de 11 anos e uma garota de 5, e não tem com quem deixá-los para ir até a faculdade.
“Tenho duas opções: levo as crianças para as aulas ou paro de estudar. Meu filho de 11 anos, em todo caso, já consegue ficar sozinho, mas a minha filha de 5 anos não consegue. Não tenho com quem deixar. Ou vão comigo ou não irei concluir o curso”, disse.
A mulher alega que desde o início do curso leva as crianças para as aulas por não ter com quem deixá-las. “Meu primeiro dia de aula foi com meus dois filhos”, pontua. Segundo a estudante, nunca houve nenhuma restrição com relação à presença das crianças no local. “Quando fiz a matrícula ninguém avisou sobre isso. Também não houve nenhum comunicado formal sobre a proibição. Simplesmente as alunas estão chegando com os filhos e não são autorizadas a ficarem”.
Bruna relata ainda que as crianças não prejudicam o andamento da aula. “Essa proibição é absurda porque não há prejuízo algum. Eles ficam sentados quietinhos e não atrapalham. Também não há conteúdo impróprio nas aulas. É um absurdo”, criticou.
Instituição
Ao Mais Goiás, o diretor de desenvolvimento da Faculdade Alfredo Nasser, professor Divino Gustavo, informou que a faculdade possui uma portaria interna há mais de 12 anos, que trata sobre o assunto. “Na verdade não é uma proibição. A portaria fala que o espaço é inteiramente acadêmico e não apropriado para crianças. O ambiente é de pesquisa e não lúdico para crianças”, afirma.
O professor explica que a situação não é restrita às mães, mas a pais também. “Nós temos pais que estudam e levam os filhos também. Não são apenas as mães. Mas a gente pede que os responsáveis pelas crianças compreendam que é um local acadêmico e adulto”.
Segundo ele, muitas pessoas entram para a sala de aula e deixam os filhos correndo nos corredores, o que acaba atrapalhando o desenvolvimento das atividades. “A partir do momento que a criança está na faculdade, a responsabilidade também é da instituição. Por isso orientamos para que não levem os filhos, exceto as mães que ainda estão amamentando, que é um direito garantido por lei”, disse.
Sem legislação
Segundo o vice-presidente da Comissão de Direito do Consumidor da OAB Goiás, Luiz Fernando Caldas Freitas, não há uma lei que proíba a presença de crianças em salas de aula do Ensino Superior acompanhadas pelos pais.
“Tem uma lei que ainda não foi aprovada que visa conceder autorização para pais levarem as crianças para a sala de aula. Por enquanto, é necessário seguir o regramento de cada instituição de ensino, mas sempre levando em conta o bom senso, para não inviabilizar o acesso da mãe ao ensino”, afirma.
De acordo com o Luiz Fernando, no caso de mães em período gestacional há a possibilidade de realização de atividades acadêmicas em casa, sem necessidade de estar presente na faculdade. “Lembrando que até isso se estende até o período de amamentação da criança”.
O advogado ressaltou ainda que nos demais casos a orientação é no sentido de chegar a um acordo com a instituição. “Seria uma conversa para explicar que não haverá prejuízo no andamento das aulas e atividades”, pontuou.