Falta de acesso à tecnologia coloca em dúvida universidade federal digital em Goiás
O Ministério da Educação (MEC) planeja criar uma universidade federal digital para ampliar o acesso…
O Ministério da Educação (MEC) planeja criar uma universidade federal digital para ampliar o acesso dos estudantes de todo o país à rede pública federal de ensino. Para professores que atuam em universidades de Goiás, a possibilidade requer uma avaliação profunda e precisa de investimentos para ser concretizada e ter o resultado esperado no acesso e qualidade. O ministro Milton Ribeiro disse que a iniciativa segue o modelo já implementado por outros países e respeita as diretrizes, metas e estratégias definidas no Plano Nacional de Educação (PNE).
De modo preliminar, um documento do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, de maio deste ano, cita a avaliação de viabilidade da iniciativa entre as metas da Secretaria de Educação Superior (Sesu-MEC) para promover a educação à distância nas instituições federais de ensino superior por meio do programa Reuni Digital.
O reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), professor Edward Madureira disse que seria uma forma de expansão de vagas utilizando a educação a distância.
“O que é discutido no âmbito das universidades é que elas vão incorporar depois de todo esse processo de ensino remoto a possibilidade de mais atividades oferecidas de forma remota e digital. Isso a partir de um estudo de cada universidade vai ser possível um novo planejamento e desenho das universidades, inclusive, com a possibilidade de expansão de vagas sim”, afirma.
“Acesso que não é simples e não é universal”, diz reitor
“Agora, tomando alguns cuidados que são fundamentais, o primeiro é o acesso que não é simples e não é universal. Encontramos dificuldades para que as atividades alcancem lugares com conectividade menor e a fragilidade econômica das pessoas é um ponto”, completou.
De acordo com o reitor da UFG, é preciso investir em infraestrutura para que se consiga ampliar essa oferta de disciplinas em um modo remoto.
“Temos que investir em plataformas, redes, conectividade dentro e fora da universidade. Mas, avaliamos que não é impossível e vai ser um caminho natural que mais atividades aconteçam dessa forma. Não podemos imaginar que seja possível substituir em uma universidade a presença, porque uma universidade é composta por presencialidade, mas ela pode ter atividades híbridas (remotas e presenciais)”, explica.
“Se houver investimentos é possível ampliar vagas otimizando o uso recursos digitais”
Edward Madureira, acredita que será feito um sistema novo combinando esses dois tipos de ensino, que vai estar presente em todos os cursos. “Se houver uma disposição de investimentos é possível sim ampliar vagas otimizando o uso recursos digitais que hoje não são usados na sua plenitude”, ressalta.
O ministro da educação disse que o uso das modernas tecnologias de informação pode baratear os custos do ensino de qualidade. Mas, para o reitor da UFG, essa afirmação precisa de uma análise mais aprofundada.
“Nossa experiência com educação a distância não sinaliza uma redução de custo, mas talvez sinalize a inclusão. Temos que pensar no alcance e ampliar o acesso. O custo será consequência do aumento da eficiência, mas não pode ser o único pressuposto”, diz.
“A universidade pressupõe qualidade e uma presencialidade que faz parte da formação do estudante. Talvez seja possível sim reduzir custo, mas, o mais importante que isso é ampliar o acesso”, pontuou.
Modelo de exclusão de grupos da sociedade
A professora da PUC Goiás e do IFG Campus Goiânia, além de pesquisadora do Grupo que estuda as relações entre tecnologia e educação (Kadjót), Daniela Rodrigues de Sousa, acredita que o modelo de uma universidade federal digital é uma forma de exclusão para grupos da sociedade.
“Temos na Constituição Federal que a educação é um direito e um dever do Estado e quando falamos em tecnologia digitais sabemos que tem um percentual da população que não tem acesso aos meios tecnológicos, e já estão sendo excluídos. Até as pessoas que tem acesso as tecnologias, tem uma diversidade social, econômica e cultural muito grande no país e para trabalhar com recursos tecnológicos eu tenho que me apropriar das tecnologias. É preciso observar de que forma isso será feito e como que os professores e os alunos vão estar preparados”, enfatiza a especialista.
Para Daniela Rodrigues, se é uma instituição pública por princípio ela tem que ser acessível a todas as pessoas. “Enquanto tiver uma desigualdade de acesso e apropriação de tecnologia não pode dizer que ela é para todos. A alfabetização digital e o acesso as tecnologias é importante, mas temos que entender isso dentro do contexto da realidade atual”.
“A questão não é ser contra ou a favor. É ver qual a qualidade social dessa tecnologia e a quem ela serve”, avaliou a professora especialista em educação.