45 DIAS SEM FEIRA

Feira Hippie pede autorização para funcionar; prefeitura não responde

Maioria dos autônomos não conseguiu acesso ao auxílio emergencial do governo federal; situação é desesperadora, relatam

Feirantes continuam sem prazo, após reunião com a prefeitura

A tradicional Feira Hippie, em Goiânia, abriga quase seis mil feirantes – ou abrigava, antes da pandemia do novo coronavírus. Desesperados, eles se reuniram na frente do Paço Municipal para pedir uma “bolsa feirante”, de no mínimo R$ 500, para minimizar os prejuízos e também uma previsão de retorno aos trabalhos. Valdivino da Silva, presidente da Associação dos Feirantes da Feira Hippie, afirma que o prazo não foi dado, mas o documento pedindo o auxílio foi entregue.

O encontro se deu entre ele e o titular da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Ciência e Tecnologia (Sedetec), Walison Moreira. “Ele disse que vai tentar uma ação uma ação especial para a Feira Hippie, Feira do Sol e da Lua. A Feira Hippie está a mais de 45 dias parada. Nós não conseguimos mais ficar parados sem o apoio do município e do Estado”, declarou Valdivino.

Questionado sobre o auxílio emergencial do governo federal, ele afirma que 80% não conseguiu ter acesso. “Está em análise. Inclusive o meu, que não tenho carteira assinada e sou microempreendedor individual (MEI)”, informou o presidente, que vai na superintendência da Caixa Econômica Federal (CEF), nesta terça-feira (5), para tentar entender o que está acontecendo.

Contrapartidas

Valdivino reafirma que a categoria precisa de contrapartidas. Segundo ele, o município e o Estado somente mandaram fechar. “Pegou as pessoas de surpresa, que já tinham gastado na véspera. São 45 dias com tecidos e produtos na mesa, mas sem comida”, revela a situação de desespero.

Para que as pessoas não passem fome, a solução paliativa, que a associação tem encontrado, segundo ele, depende do auxílio das Centrais de Abastecimento de Goiás (Ceasa). “Temos ido na Ceasa pegar verduras doadas em quatro Kombis e um caminhãozinho. Levamos para a porta da associação cerca de 200 cestas”, revela ele, ao citar, ainda, que a Organização das Voluntárias de Goiás doou mil cestas básicas. “Mas somos seis mil. Tentando conseguir mais mil, pelo menos.”

As pessoas, conforme informa Valdivino, têm ficado em casa, sem nada, com o nome sujo. Na associação, todas as contas atrasadas. Segundo Valdivino, se não houver um retorno breve por parte do poder público, “as ações vão acontecer”. Sem detalhar, ele afirma que não haverá mais protocolo de segurança. “Então morreremos de vírus ou de fome.”

Previsibilidade

Karla Karolliny da Silva Jacino é membro da Associação dos Feirantes da Feira Hippie. Segundo ela, alguns feirantes já estão passando fome. Ela acredita que o problema com o auxílio emergencial do governo federal tenha ocorrido pela declaração do imposto de renda. “Alguns declararam um valor maior para conseguir um empréstimo e de repente tudo parou.”

Segundo Karla, todos têm os protocolos de segurança de Vigilância Sanitária, são a favor de locais de higienização e pelo rodízio da feira. Por isso, para ela, o principal é ter uma data para retomada. “Para que o psicológico do feirante possa sossegar.”

Situação calamitosa

A família de Marinet Arrai Machado Chaves toda depende de Feira Hippie. O marido, os filhos e o genro são montadores de barraca. Todos sem renda, neste momento. “Temos ido atrás de cestas básicas, meu esposo e eu temos procurado bicos. De lá para cá ele só conseguiu dois. Duas diárias de pedreiro, de R$ 120.”

Com o dinheiro das diárias do marido, Marinet comprou comida para casa. Sobre o auxílio, ninguém de sua família conseguiu. “E eles não explicam porquê.”

Ela revela que nunca ninguém havia precisado deste tipo de ajuda, pois sempre trabalharam e nunca passaram por isso tipo de situação. “Então, queremos uma previsão garantindo a nossa volta. Se querem que fiquemos parados, tem que fornecer ajuda, pois não temos aonde buscar.”

Situação semelhante vivem Luze Elena Aparecida Coelho e filha, que também atuam na fabricação e venda de produtos na feira. Ela, que tinha uma pequena economia, revela que o dinheiro acabou. “Nós ficamos completamente sem renda. Estamos esperando o poder público, mas quase não sabemos nado que acontece.”

De acordo com ela, que também não recebeu o auxílio federal, se não voltar logo, “vai ser difícil para viver”. “A maior angústia é não saber quando vamos voltar. Se soubesse, a gente ia remediando, mesmo que demorasse. Mas queremos que seja rápido.” Na expectativa que dê certo o “bolsa feirante”, ela destaca que os R$ 500 ajudam, mas ainda é pouco. “Por isso, o que queremos é voltar.”

Prefeitura de Goiânia

A prefeitura de Goiânia se manifestou por meio de nota. Ao Mais Goiás, foi informado que a administração municipal recebeu os representantes da Feira Hippie e do Mercado Aberto. “No encontro, ficou acertado que as demandas solicitadas serão encaminhadas ao gabinete de crise para análise.”

Protesto

Nesta terça-feira, cerca de mil trabalhadores informais da Feira Hippie se concentraram na frente do Paço Municipal. Antes de chegar no local, eles fizeram uma carreta, por volta das 8h30, em direção a Praça Cívica. Na sede da prefeitura, eles protestavam, enquanto o presidente da Associação se reunia com o secretário Walison.

Recadastramento

Segundo o presidente da Associação de Feirantes, cerca de 80% dos autônomos que atuam na Feira Hippie não conseguiram realizar o cadastro para receber o auxílio emergencial do governo federal.

Na segunda-feira (4), conforme divulgado pelo presidente da CEF, Pedro Guimarães, pelo menos 12,4 milhões de brasileiros que pediram o auxílio emergencial de R$ 600 (R$ 1,2 mil para mães solteiras) devem refazer o cadastro no aplicativo do programa ou no site auxilio.caixa.gov.br. Ele explicou que este é o total de inscritos que tiveram o cadastro classificado como inconclusivo, porque as informações não puderam ser analisadas pela Dataprev, estatal de tecnologia que processa os pedidos.