Vaquejada é cultura, feira não

Feiras de gastronomia, moda e design são proibidas na Vila Cultural Cora Coralina

Segundo a Secretaria de Cultura, os eventos não são consideradas atividades artísticas e culturais

A Vila Cultural Cora Coralina, no Centro de Goiânia, não pode mais receber feiras de expositores locais por uma determinação do Governo Estadual. O espaço, que tem acesso pelas escadarias do Teatro Goiânia, na Avenida Tocantins, foi palco de eventos e comércio de moda, design e gastronomia por mais de três anos. Segundo a Secretaria de Cultura (Secult), as feiras não são consideradas atividades artísticas e culturais.

A nova gestão da pasta afirma que algumas atividades realizadas na Vila precisaram ser repensadas e que está em curso um processo de reorganização e readequação dos espaços culturais geridos pelo órgão. “A Vila Cultural Cora Coralina é um espaço destinado a exposições e apresentações relacionadas intimamente com preceitos artísticos e culturais e não é aceitável o desvio de sua atividade fim”, diz o comunicado. Confira a nota completa no fim da reportagem.

Mercado das coisas

Um dos eventos que acontecia na Vila era o Mercado das Coisas. Com mais de 200 expositores cadastrados, ocorria há três anos. A organizadora, Thaty Cunha, afirma que a informação foi repassada a ela pelo segurança do espaço. E que o motivo seria que o projeto “não se encaixa em projetos culturais”.

“Não consigo entender o porquê da feirinha não ser considerada como evento cultural, pois lá há pessoas que fazem arte, coisas manuais como pintura e crochê. Além disso, temos oficinas de arte, levamos crianças, tem acessibilidade para cadeirante, pode entrar cachorro. Não se resume a quadros, telas e esculturas, mas é muito maior e mais amplo que isso”, argumenta.

Go Vegan

A feira gastronômica vegana Go Vegan recebeu o anúncio por telefone depois da edição de fevereiro deste ano. “Não tivemos tempo para nos organizar. A partir do comunicado não pudemos fazer mais eventos lá. Às pressas conseguimos improvisar um local para fazer a edição de março e não parar”, relata a organizadora, Nayara Assunção.

Segundo Nayara, a justificativa da proibição é de que a Vila é um local museológico e que as feiras atrapalhariam as exposições. Ela ainda diz que os comerciantes não gostaram da notícia. “Por ser um espaço público era muito tão bom para os nossos eventos”, conta.

Alternativas

Apesar da impossibilidade de organizar as atividades no lugar de costume, as organizadoras procuram outras alternativas. “Não vou deixar o negócio morrer, porque pessoas dependem disso. Tem gente que vive do que vem de lá, e não irei deixar o projeto morrer”, garante a precursora do Mercado das Coisas.

A Secult ainda informou que busca soluções para as feiras que aconteciam na Vila. E cita o Centro Cultural Martim Cererê como uma possibilidade “por ser um espaço multicultural e com área aberta, se adequa melhor ao perfil de algumas atividades (incluindo feiras)”.

Confira a nota completa da Seduce:

Em um processo de reorganização e readequação dos espaços culturais vinculados à Secretaria de Estado de Cultura de Goiás, algumas atividades que vinham sendo realizadas nas dependências da Vila Cultural Cora Coralina precisaram ser repensadas. Nesse sentido, eventos como feiras, que não se encaixam no perfil da atividade desta unidade da Secult Goiás, deixam de funcionar na Vila Cultural Cora Coralina.

O governo está aberto ao diálogo para encontrar uma solução e para que as atividades continuem ocorrendo. A ideia é que elas possam ser direcionadas para outro espaço vinculado à Secult Goiás. No entendimento da atual gestão, o tradicional Centro Cultural Martim Cererê, por ser um espaço multicultural e com área aberta, se adequa melhor ao perfil de algumas atividades (incluindo feiras). Atualmente, o Martim Cererê já abriga a Feira do Troca, o Mercado de Pulgas e a Feira das Minas, por exemplo.

A Vila Cultural Cora Coralina é um espaço destinado a exposições e apresentações relacionadas intimamente com preceitos artísticos e culturais e não é aceitável o desvio de sua atividade fim. O calendário do espaço a partir de agora, inclusive, está sendo construído claramente com esse pensamento em mente.

Comunicação Setorial Secult Goiás.

*Larissa Lopes é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo