CIÊNCIA E SAÚDE

Ferramenta criada em Goiás possibilita tratamento multidisciplinar a pacientes autistas

Profissionais que trabalham como Transtorno do Espectro Autista (TEA) terão a oportunidade de conhecer e…

Profissionais que trabalham como Transtorno do Espectro Autista (TEA) terão a oportunidade de conhecer e testar o ABA+, um software facilitador da integração e supervisão das terapias utilizadas cotidianamente no tratamento do TEA. A ferramenta visa eliminar a papelada usada pela equipe multidisciplinar, otimizar o tempo e aumentar a eficácia do tratamento. O ABA+ acaba de chegar ao mercado e será apresentada nesta sexta-feira (23/11), às 17h30, no Instituto Goiano de Análise do Comportamento, durante o lançamento do livro Análise do Comportamento Aplicada ao Transtorno do Espectro Autista, organizado pelas pesquisadoras Ana Carolina Sella e Daniela Ribeiro.

Os criadores do ABA+ são a professora universitária Sandra Paro e o analista de sistemas Vinícius Reis, pais da Valentina, uma criança autista de 5 anos. Eles tiveram a ideia de criar essa ferramenta para que a filha, assim como todos os pacientes com TEA, pudessem ter seu desenvolvimento e ganho de autonomia mais acelerados. Eles perceberam a necessidade de se criar uma ferramenta tecnológica que auxiliasse a equipe multiprofissional que cuida de autistas após constatar que todo o controle das informações, elaboração de relatórios e sugestões de intervenções são feitos manualmente.

Desenvolvido com base na terapia Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e disponível para desktop, Android e IOS, o ABA+ é direcionado aos terapeutas que trabalham com a ciência ABA. O sistema foi visualmente projetado de forma totalmente responsiva e otimizada ao toque e conta com interfaces dinâmicas. A equipe terapêutica, mediada pelo ABA+, terá a oportunidade de, frequentemente, reavaliar seus programas de objetivos e, de forma personalizada, atender às demandas específicas de cada paciente, mais aceleradamente.

Partindo desses princípios que o ABA+ foi desenvolvido. As metas, objetivos e programas de ações sugeridos pelos profissionais envolvidos no tratamento, dificilmente serão atingidos com a agilidade proporcionada pelo software. O que há de mais importante é a ideia de trazer maior coesão à equipe de terapeutas. Entretanto, mesmo havendo toda a integração da equipe, o ABA+ dispõe perfis diferentes para cada tipo de usuário.

O software foi desenvolvido sob a consultoria e constante supervisão de profissionais especialistas na terapia ABA. A principal consultora do projeto é a psicóloga Leana Bernardes, mestra em análise do comportamento e que atualmente está nos Estados Unidos aprofundando seus conhecimentos. O ABA+ constitui-se numa aplicação desenvolvida em arquitetura web e visa justamente dar suporte à toda equipe terapêutica envolvida no atendimento de pessoas portadoras do TEA.

Pais da Valentina, menina autista, criadores do software querem que sistema faça a integração entre profissionais no tratamento (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)

Autismo

O autismo é uma condição permanente – a criança nasce com autismo e torna-se um adulto com autismo. Para conseguir viver bem em sociedade, o tratamento e acompanhamento constantes são fundamentais. O tratamento para o autismo infantil é multiprofissional: fonoaudiólogo, psicólogos comportamentais, terapeuta ocupacional, dentre outros profissionais. A terapia ABA proporciona aquisição de autonomia, independência, interação social, comunicação e novos aprendizados, tão importantes àqueles com transtornos do espectro autista.

Por ser um espectro, o autismo engloba vários e diferentes níveis de funcionamento e transtornos. Desde 2013, quando foi lançado o último Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais da Associação Americana de Psiquiatria, o DSM-5, a classificação do autismo mudou. Antes, ele era dividido em cinco categorias, como síndrome de Asperger e outras. Hoje, é uma coisa só, com diferentes graus de funcionalidade.

O tratamento para o TEA envolve profissionais multidisciplinares, por meio de intervenções psicoeducacionais, orientação familiar, desenvolvimento da linguagem e comunicação. Cada paciente é avaliado e tem um programa específico a ser seguido, de acordo com suas necessidades. Alguns dos profissionais envolvidos no tratamento são: psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, educadores físicos, dentre outros.

Um estudo divulgado pelo Center of Deseases Control and Prevention (CDC), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, revela que uma criança a cada 100 nasce com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Os dados revelam um aumento no número de casos de autismo em todo mundo. Há poucos anos, a estimativa era de um caso para cada 500 crianças. Com isso, calcula-se que no mundo, exista mais de 70 milhões de autistas e, no Brasil, aproximadamente dois milhões. As pesquisas ainda revelam que os meninos são mais afetados pelo transtorno do que as meninas.

Mesmo diante de tamanha demanda, os tratamentos e diagnósticos adequados ainda são um problema grave. A estimativa atual é de que 90% dos brasileiros com TEA ainda não tenham sido diagnosticados por causa da falta de informação. Um dos principais problemas é o diagnóstico do transtorno. Como ainda não há marcadores biológicos e exames específicos para o autismo, o diagnóstico é clínico, feito por meio de observação direta de comportamentos e uma entrevista com pais ou responsáveis. A ciência ABA é, então, o principal meio, tanto de diagnóstico, como de tratamento do autismo.

Qual é a relação entre o ABA+ e a ciência ABA?

A Análise de Comportamento Aplicada (ABA) é um método terapêutico estruturado, que possibilita compreender as ações e habilidades no espectro autista e como elas podem ser influenciadas pelo meio ambiente. Ela pode proporcionar melhorias nas interações sociais, no aprendizado de novas competências e habilidades e comportamentos positivos.

Como o ABA+ foi desenvolvido com base na ciência ABA, possibilita compreender as ações e habilidades no espectro autista e como elas podem ser influenciadas pelo meio ambiente, possibilitando melhorias mais rápidas nas interações sociais, no aprendizado de novas competências e habilidades e em comportamentos positivos.

Nas intervenções da ABA são avaliados determinados dados que possibilitam verificar se o comportamento está mudando na direção esperada e os objetivos estão sendo alcançados. O ABA+ auxilia a equipe terapêutica que trabalha com ABA a agilizar as sessões e, ao longo do processo terapêutico, proporciona agilidade no desenvolvimento do paciente. (Com