Fertilizantes, preço da carne e da gasolina: como a guerra na Ucrânia pode afetar Goiás
Embora Goiânia esteja a 10,2 mil km de distância de Kiev, capital da Ucrânia, a…
Embora Goiânia esteja a 10,2 mil km de distância de Kiev, capital da Ucrânia, a guerra patrocinada pela Rússia no leste europeu vai interferir de forma direta na economia de Goiás caso se prolongue. Economistas ouvidos pela reportagem afirmam que o agronegócio do Estado precisa dos fertilizantes exportados pela Rússia, e por isso há apreensão. Sem falar no risco de alta no preço do combustível e de outras commodities, pelo aumento da procura e escassez de demanda.
“O Brasil exporta principalmente carne para Rússia e importa de lá os nutrientes para produzir adubos e outros elementos químicos importantes para agricultura e pecuária”, afirma o economista Valdivino de Oliveira, que já foi secretário da Fazenda do governo de Goiás. “É evidente que, se a Rússia prolongar a sua participação na guerra, poderá reduzir o montante de adubo e sais minerais que exporta para o Brasil”.
O professor de geopolítica e historiador Norberto Salomão acrescenta que o Brasil é grande importador do trigo russo e que a guerra eleva os custos de produção em escala global, o que deve impactar também na inflação. Norberto afirma que o pequeno e o médio produtor – “que é quem abastece a mesa do brasileiro” – vai ter sérias dificuldades para comprar os insumos de produção e repassar o reajuste ao consumidor.
“Vai ser uma situação desagradável, porque o pequeno e médio produtor não vai conseguir recompor suas perdas. Em outra linha, os grandes produtores do agronegócio podem até auferir alguma vantagem, porque a demanda por alimentos no mundo tem aumentado e, apesar de os insumos também terem aumentado para o grande produtor, ele consegue recompor perdas no momento de vender no mercado externo, porque aí a cotação é em dólar”.
Efeitos para Goiás a curto e médio prazo
O economista André Braga aposta que o primeiro impacto da guerra deve ser no preço do combustível, uma vez que o preço do barril de petróleo já bateu na casa dos 103 dólares. Também no curto prazo, André projeta novo aumento no preço das commodities. “P mais provável é de que os países que são mais dependentes de produtos primários estejam fazendo bons estoques e se preocupando com longo prazo”.
O economista reforça que a Rússia é grande comprador de carne bovina e aviária do Brasil e que pode-se esperar que haverá grande pressão internacional para que esse fornecimento seja cortado. “Caso uma interrupção aconteça, poderemos ter uma oscilação nos preços de produtos que estão na mesa do goiano, no caso dessa proteínas, com o excesso de oferta de produtos o preço no mercado interno poderá cair, porém esse resultado para os produtores poderá ser ruim”.
Por fim, e a exemplo do que diz o professor Norberto, André entende que o conflito pode se traduzir em ganhos financeiros para os grandes produtores rurais do Brasil.
“A atual reação do mercado financeiro é de aumento de preços dos produtos primários, dentre eles o valor da soja, o que no primeiro momento, trará aumento das divisas do nosso país. Estamos passando por uma desvalorização do dolar frente ao real, mas, mesmo assim, até o presente momento, a variação percentual dos grãos estão superando o da moeda e isso pode ser benéfico para o Brasil.”