“Figura do capeta”: homem é preso após fazer comentários homofóbicos contra casal de mulheres
Inquérito já foi concluído e o homem indiciado por injúria, mas ele foi solto e responderá pelo crime em liberdade
O jovem Renan Lemes Santana, de 26 anos, foi preso por suspeita de injúria após fazer comentários homofóbicos contra um casal de mulheres. Crime aconteceu nesta terça-feira (13), em uma sorveteria situada no setor Urias Magalhães, em Goiânia. Segundo o boletim de ocorrência, Renan afirmou ser “cristão” e teria se dirigido a uma das vítimas dizendo “você é a figura do capeta, não poderia nem ser chamada de gente”. Situação foi registrada pelas vítimas através de um vídeo.
De acordo com a Polícia Civil, o inquérito já foi concluído e o homem, indiciado por injúria. Entretanto, ele foi solto e responderá pelo crime em liberdade. O processo foi encaminhado ao Poder Judiciário.
À reportagem, as vítimas, Angélica Francielly e Karuliny Divina, relataram que a confusão começou depois de Renan entrar na sorveteria com a esposa. Ao ver o casal de mulheres, o sujeito disse “vamos embora desse lugar porque eu não gosto de ‘sapatão’, não gosto de gente desse tipo”.
Diante disso, Karuliny pediu por respeito e o jovem rebateu dizendo que era cristão e que não gostava “desse tipo de coisa” e saiu para a área externa do local. Fora do estabelecimento, Renan continuou com as agressões e disse que Karuliny “não poderia ser chamada de gente” e que era a “figura do capeta”. Disse também ser “filho de policial e advogada” e que, por isso, a ocorrência não iria “dar nada”.
Karuliny relatou que Renan ficou mais alterado depois de ela dizer: “Você está maluco de falar isso”. Em seguida, de acordo com ela, o jovem respondeu: “Isso aqui que você queria ter né? Você quer ser homem, mas não é. O que eu tenho, você nunca vai ter. Quer ser homem, tem que bater de frente comigo”. Depois, ele teria colocado a mão no órgão genital.
Angélica diz que chegou a entrar na frente da esposa para que o homem não agredisse Karuliny. Pessoas que acompanharam a situação, chamaram a Polícia Militar (PM), que estava próxima e interveio na situação. Assim, os envolvidos foram levados para a Central de Flagrantes.
A Polícia Civil de Goiás possui o Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, que é uma delegacia para esses casos, mas as vítimas não foram levadas para lá.
Alegou depressão
De acordo com a polícia, o suspeito disse em depoimento que é portador de esquizofrenia, depressão e outras doenças. Por esse motivo, faz uso de medicação de uso controlada, mas está há dois meses sem utilizar a medicação por dificuldade financeira.
Conforme expõe o boletim de ocorrência, Renan também assumiu ter ofendido as mulheres, mas alegou ter agido por impulso após, segundo ele, uma delas ter olhado “para as pernas de sua esposa”. Além disso, ele alegou ter sido abusado sexualmente por um homem quando era criança e, por isso, não tolera a homossexualidade e se diz arrependido.
Renan assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), sob acusação de injúria simples e foi liberado.
O Mais Goiás não conseguiu contato com Renan e nem com seus advogados para pedir um posicionamento. Espaço está aberto.
Medo
Ao portal, Angélica diz que ela e a esposa estão casadas há 7 anos, mas essa é a primeira vez que sofrem com uma agressão desta proporção. “Sofremos preconceito, mas pequenos gestos…desse jeito, com essa agressão, não. De verdade, estamos com medo! Não sabemos do que ele é capaz”, lamenta.
Angélica também lamenta que Renan esteja em liberdade. Ela afirma que o delegado não caracterizou o crime como homofobia, somente como injúria. “Temos uma audiência marcada para novembro, mas vamos dar entrada hoje no processo contra ele. É um sentimento de impunidade, porque ele ta solto, rondando as proximidades da Barbearia da Karuliny e fazendo vídeos mentirosos na internet. Mas não temos a intenção de nos calar sobre esse assunto”, afirmou.
Vale mencionar que no dia 13 de junho de 2019 o Supremo Tribunal Federal (STF) tornou a homofobia e a transfobia em crime qualificado como racismo. A decisão do STF, entendeu que a prática pode ser qualificada dessa maneira para quem tiver condutas dicriminatórias homofóbicas e transfóbicas, contra homossexuais, transexuais, heterosexuais e que sejam identificados pelo agressor como Lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBTs).