Figurinhas da Copa movimentam bancas de revista em Goiânia
Muitas bancas estão investindo em pontos de trocas e venda de cromos avulsos
A dois meses da Copa do Mundo, a busca por figurinhas para completar o álbum da competição movimenta as bancas de revistas de Goiânia. A procura tem sido tanta que, por duas vezes, os cromos acabaram em todos os estabelecimentos da capital e os colecionadores precisaram esperar cerca de cinco dias até chegar uma nova remessa.
Bruno Henrique Colicchio pode ser considerado um especialista na área. Desde a Copa de 2006 trabalha em uma banca de jornais no Setor Leste Vila Nova que funciona como ponto de trocas e venda de figurinhas avulsas para ajudar os colecionadores a completar os álbuns. Ele explica que na comparação com 2014, a procura por cromos duplicou.
Bruno diz estranhar o crescimento, já que que a Copa do Mundo de 2014 foi no Brasil. O estranhamento, contudo, é acompanhado de caixa cheio. “Os donos de bancas conseguem tirar a renda de seis a sete meses de trabalho apenas no período da copa, esse é um período muito esperado para quem trabalha com isso”, explica.
Muitas vezes, na ânsia de completar o álbum, os colecionadores oferecem quantias elevadas por uma única figurinha. Isso costuma acontecer com os cromos mais especiais e raros e por isso mais difíceis de encontrar, como os escudos e as lendárias, novidade lançada pela Panini neste ano e que relembra títulos de Copas passadas. Bruno conta que uma cliente comprou o Pelé por R$ 10.
Além do crescimento na procura, Bruno observa que de 2014 para 2018 está mais difícil completar o álbum. Ele explica que as figurinhas mais raras estão em escassez na cidade toda. “A gente chegou a pensar que a Panini está segurando figurinhas. Essa dificuldade de achar as mais raras é na cidade toda, nós conversamos com donos de bancas em outros setores e a situação é a mesma”, conta.
Trocas
A banca em que Bruno trabalha funciona como um ponto fixo de trocas de figurinhas. Os colecionadores chegam até o locam e mostram ao rapaz as figurinhas que precisam e então ele negocia entre as que possui e as que precisa. Desta maneira, no estabelecimento há uma espécie de estoque (imagem acima).
Bruno explica como funciona o sistema de trocas no local, que não agrada a todos o clientes. “Como a gente trabalha para negócio, muitos colecionadores acham ruim porque a gente não troca uma por uma, troca duas figurinhas normais por uma, duas cromadas por uma cromada e duas do Brasil por uma do Brasil. A gente faz isso porque muita gente compra individual mas não é para o álbum, é para colocar em caderno, por exemplo”.
Outras bancas da capital também servem como ponto de troca. Além disso, os colecionadores utilizam grupos em redes sociais para combinar horários e locais para se reunirem e tentar completar o álbum.
Bruno Henrique estima que com 70% das figurinhas compradas é possível obter o restante e completar o álbum apenas trocando. As trocas ajudam inclusive a economizar. Muitos colecionadores reclamaram do preço dos pacotinhos, que neste ano estão sendo vendidos a R$ 2, o dobro das edições passadas.
Tradição
O engenheiro da computação Bruno Cavalcanti acredita que as redes sociais ajudam a colocar os colecionadores em contato e obter figurinhas de forma mais rápida. ele coleciona álbuns desde o brasileirão de 1996 e já completou os álbuns da Copa nas edições anteriores. O engenheiro diz sentir diferença no modo como o álbum passou a ser visto com as redes sociais e novas tecnologias, que apesar de ajudarem tiram “grande parte da diversão”.
A estudante Izabella Araújo, de 23 anos, também já tem o hábito de colecionar os álbuns da Copa do Mundo. Ela e os irmãos Gabriel, de 24, e Rafael, de 21, consideram a prática como um hobby que praticam desde a infância.
Para Izabella, o preço das figurinhas impede que muitas pessoas completem o álbum. Ela acredita que se não dividisse as despesas com cromos com os irmãos, talvez fosse inviável prosseguir com o hobby. A estudante diz já ter perdido a conta de quanto gastou este ano.
Cavalcanti, no entanto, acredita ter gastado em torno de R$ 300, mas ainda não conseguiu completar todo o álbum. Bruno Henrique acredita que com R$ 310 seja possível obter todas as figurinhas com a ajuda das trocas. Este foi o valor que o funcionário da banca, que também é colecionador, utilizou para completar seu álbum.
A tradição e a modernidade se unem quando o assunto é completar o álbum. Neste ano, uma das novidades que ajuda os colecionadores são os aplicativos que contabilizam quais figurinhas a pessoa já possui, quais as repetidas e quantas e as faltantes. Algumas plataformas geram arquivos em PDF para mandar para os amigos os cromos que ainda faltam e facilitar a troca.
*Amanda Sales é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo