ALENTO

Finados: covid-19 amplia o número de famílias que sofreram perdas irreparáveis

Com avanço da vacinação, expectativa é ter intervalos cada maiores entre óbitos pela doença, afirma superintendente de Vigilância em Saúde de Goiás, Flúvia Amorim

Dois minutos de más notícias sobre Covid pioram o emocional das pessoas (Foto: Jucimar de Sousa - Mais Goiás)

Em março deste ano, o pior momento da pandemia da Covid-19, Goiás chegou a ter 98 mortes por dia pela doença. Neste Dia de Finados, 2 de novembro, marcado por orações e homenagens aos que partiram, contudo, um alento. A expectativa de que, com o avanço da vacinação, goianos e brasileiros não viverão mais dias tão trágicos como aqueles deixados para trás.

Vale lembrar, há um ano, Goiás registrou 14 mortes pela Covid-19 no Dia de Finados. Um dia antes, seis. Já a taxa de ocupação estava em 59,1% – números que antecederam o boom de ocupações e mortes de janeiro a março deste ano. Neste dia, em 2021, contudo, a expectativa é melhor. Com taxa de ocupação de leitos destinados a pacientes com o novo coronavírus em torno de 30%, a esperança é que a data não seja marcada por novos óbitos.

A superintendente de Vigilância em Saúde de Goiás, Flúvia Amorim, observa que a tendência é a manutenção da queda dos óbitos pela doença. “Até onde isso vai, a gente não consegue afirmar. Mas hoje, neste cenário com as atuais variantes e avanço na vacinação, a tendência é de queda.”

Segundo, quanto mais se avança na vacinação, mais segura a população fica. “E falamos isso com segurança. Nesse ano, tivemos uma segunda onda, mas grave, principalmente em fevereiro e março. Isso ocorreu, porque poucas pessoas estavam imunizadas e uma nova variante foi introduzida, a gama.”

Em contrapartida, ela lembra que com o avanço da vacinação, mesmo a chegada da variante delta não impactou na curva ascendente de casos. “Por causa da vacina. Ela conseguiu prevenir mesmo sendo anterior a variante.”

Goiás, transmissão e cuidados com a Covid

Em Goiás, já foram mais de 8 milhões de vacinados. São aproximadamente 72% com a primeira dose e 42% com as duas. A expectativa, com este avanço, é que se tornar cada vez mais comum intervalos nos registros de óbitos pela doença.

“Mas não podemos baixar a guarda, mesmo com todos esses avanços. A preocupação é que uma variante escape da vacina”, dá o exemplo. Flúvia afirma que é necessário, ao máximo, evitar a transmissão não só em Goiás, mas no Brasil e no mundo. “Onde tem alta transmissão, é possível que surja uma nova variante.”

Até por isso, a superintendente afirma que não é hora para tirar a máscara. “Ainda não temos um percentual que nos dê segurança.”

Flúvia: “Não podemos baixar a guarda, mesmo com todos esses avanços” (Foto: Jucimar de Sousa – Mais Goiás)

Honrar a memória dos que partiram

Para Flúvia, inclusive, preservar a vida, vacinar e tomas os cuidados necessários para combater esse vírus é uma forma de honrar aqueles que se foram, não só neste Dia de Finados, mas sempre. Se temos armas que podemos usar para preservar a vida, temos que usar todas.”

A superintendente ainda traz um dado novo. Ela afirma que, segundo levantamento da pasta, 93% dos óbitos foram de pessoas não imunizadas. “Isso mostra o quanto a vacina protege. Então, vamos vacinar”, faz um apelo.

Aqueles que perderam entes queridos, não esquecerão…

Apesar do otimismo com o futuro, quem morreu não pode mais voltar. Desta forma, resta a saudade para os familiares dos cerca de 610 mil mortos pela doença no Brasil. E para quem crê, neste 2 de novembro, Dia de Finados, orar, celebrar e homenagear os entes queridos que já se foram.

Além de honrar os mortos, Dia de Finados pode dar esperança aos vivos com o avanço da vacinação
Apesar do otimismo no futuro, quem morreu não pode mais voltar (Foto: Jucimar de Sousa)

Perda e importância da vacina contra a Covid

A cientista social Aymê Souza, 32 anos, perdeu o irmão Augusto, 41, para Covid-19. Ele morreu em 16 maio deste ano, pouco após o momento mais crítico da pandemia e quando já ocorria a vacinação. Inclusive, por ter diabetes e fazer parte do grupo de comorbidades, ele estava prestes a se vacinar.

Vale citar, Aymê, que criou em Goiás a Associação Vida e Justiça – destinada a cobrar de autoridades políticas públicas para vítimas da Covid -, revela que o irmão estava internado em um hospital da capital para tratar a diabetes, quando se contaminou – assim como ela.

“Foi um filme de terror. Ele teve um derrame pleural por causa do diabetes e teve que fazer uma limpeza no pulmão. Ficou intubado 30 dias. Quando desceu da UTI para enfermaria, pegou a Covid.” Segundo ela, na enfermaria havia um paciente há cerca de 20 dias que recebia visitas sem verificação. “Foram várias falhas. Percebi que ele estava com o problema após ter um confusão mental.”

Sete dias após o diagnóstico, ele morreu. Ela, que também teve a doença, diz que o sintoma mais grave foi o psicológico, pois também achou que ia morrer. “Acredito que ele ainda estaria vivo, se as vacinas tivessem chegado no fim do ano passado e ele já estivesse vacinado. As estatísticas estão aí, mostrando que a vacinação reduz as mortes. Isso, porque a maioria das pessoas acredita no pacto coletivo e buscou se imunizar.”

Além de honrar os mortos, Dia de Finados pode dar esperança aos vivos com o avanço da vacinação
Aymê diz que este Dia de Finados será mais triste (Foto: Jucimar de Sousa – Mais Goiás)

Decréscimo

Para ela, a vacina, que não é 100% eficaz (nenhuma é), garante que os impactos da doença sejam menores. “Prepara o corpo para lutar contra o vírus.”

Desta forma, ela afirma que nunca será possível reduzir as mortes a zero, mas a vacinação em massa poderá, sim, contribuir para a normalidade. “Sei que é difícil, pois ainda existem negacionistas. Mas quando atingirmos mais de 90% será possível controlar, levar uma vida normal. Se já reduziu com o número atual… Esse é o projeto da vacina.”

Dia de Finados

E apesar de não ter a tradição, o Dia de Finados deve ser mais triste. “Vou me recordar das pessoas que amo e já não estão mais aqui, e descansar.”

Sem crença religiosa, Aymê afirma que por ser uma data que rememora pessoas que já se foram, Dia 2 provavelmente será marcante para muita gente, inclusive ela. “Dia de vazio, de saudade.”

De Londres para Goiânia

Michelly Souza, 29 anos, mora em Londres há três anos. Neste ano, o Dia de Finados para ela será mais triste, já que perdeu a mãe, a designer de moda Maria Andréia de Souza, 46 anos em fevereiro, em decorrência da Covid-19. Maria lutou cinco dias contra a doença, mas não resistiu. Michelly teve que antecipar seus planos e vir à capital.

Ela revela que os planos eram vir a Goiânia em março. Após uma ligação da irmã, preocupada com alguns sintomas que a mãe apresentava, Michelly ligou e pediu dona Maria que fosse ao hospital.

“Quando ela pegou o resultado, que não demorou muito, o médico disse que o pulmão estava atacado e ela precisava se internar. Ela me ligou na hora que estava sendo transferida, pois não poderia ficar com celular, e mal falou comigo. Já estava esperando para ir na ambulância.”

Segundo Michelly, naquela época, no meio da pandemia, ela não poderia deixar o país, já que as companhias aéreas estavam com poucos voos. “Com muito custo consegui uma passagem com um amigo do Brasil, dono de uma agência de viagem, e comprei a passagem com escala na Alemanha. Quando cheguei na Alemanha, eu recebo a pior notícia da minha vida: ela tinha sido entubada.”

Michelly chegou ao Brasil e só queria ver a mãe, mesmo intubada. Infelizmente, não foi autorizada. E em uma sexta-feira (19), Maria faleceu. “Sem mesmo ter um enterro digno, sem poder ao menos escolher uma roupa pra ser enterrada, sem mesmo poder despedir naquela hora. Eu fiquei seis meses [em Goiânia] para dar apoio para minha irmã, que ia ter um bebê, e minha vozinha, segunda mãe.”

Sobre essa data, ela diz que não fazia parte do costume. “Até perder minha mãe. Todas as comemorações que envolvem algo trazem ela em mente, não será mais um dia normal.”

Michelly e a mãe, Maria (Foto: Arquivo Pessoal)

Vacinação

A vacinação no Brasil começou em janeiro. Em Londres, Michelly estava prestes a se vacinar, mas precisou deixar o país e vir para cá. “A vacinação no Brasil estava lenta. Ainda está”, diz ela ao lembrar que, na Inglaterra, quase 100% das pessoas – inclusive crianças – estão imunizadas.

“Eu defendo muito a vacinação. Taxas de internação e mortes mostram que, mesmo antes de 3ª dose, vacinas evitaram mortes e casos. Quem não se vacina não coloca apenas a própria saúde em risco, mas também a de seus familiares e outras pessoas com quem tem contato, além de contribuir para aumentar a circulação de doença pra sociedade.”

Ela lamenta que a mãe ainda não tinha se vacinado. “Minha mãe foi muito cedo. Eu acredito que se ela estivesse vacinada, evitaria tudo isso. Se o Brasil tivesse comprado as vacinas quando elas foram ofertadas pela primeira vez, teria 50% a mais do que tem hoje. Ou seja, quase 150 milhões de doses em vez das 100 milhões atuais. Isso seria suficiente para vacinar praticamente todos os brasileiros dos grupos prioritários, que somam quase 80 milhões de pessoas.”

Assim como março, fevereiro deste ano também foi um mês crítico da pandemia.

(Foto: Jucimar de Sousa – Mais Goiás)

Dados da Secretaria de Saúde de Goiás

Segundo a secretaria de Saúde de Goiás (SES-GO), 14 pessoas morreram em 2 de novembro e 2020 em Goiás. Só em outubro daquele ano foram 937 óbitos. Já em outubro deste ano – até dia 29 -, 363, quase 1/3 do do total do mesmo período de 2020.

Inclusive, comparado a setembro deste ano (758 óbitos), outubro teve uma redução de 52,1%. “A medida em que a vacinação contra Covid-19 avança, observa-se queda do número de casos, do número de internações e de óbitos”, avalia a pasta.

Em relação ao número de profissionais da Saúde mortos pela Covid-19 em Goiás, desde o começo da pandemia, a SES-GO informa que 100 evoluíram a óbito. “Destes, as principais categorias foram: técnico ou auxiliar de enfermagem, médico, enfermeiro e cirurgião dentista.”