Fogos de artifício causam transtorno em autistas: entenda
Autistas são dotados de hipersensibilidade ao barulho e podem até ferir a si mesmos
Para muitos, a queima dos fogos de artifício na virada do dia 31 de dezembro para 1 de janeiro é um dos momentos mais marcantes dos 365 dias do ano, ou 366 para anos bissextos. Mas para pessoas diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um verdadeiro pesadelo. Cloves Alencastro Veiga Neto, psicólogo pela Universidade Salgado de Oliveira e técnico de referência em Psicologia no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Britânia, município a 315 km da capital, explica que autistas possuem hipersensibilidade auditiva e ficam desconfortáveis com a sobrecarga de barulhos.
“O autismo causa dificuldades no processamento sensorial, uma hipersensibilidade auditiva, por exemplo. Sendo a audição uma das formas de captarmos informações do ambiente, a sobrecarga de barulho causa desconforto e irritabilidade pois foge da rotina do autista. A reação pode ser um momento de irritabilidade, de comportamentos repetitivos, que buscam por sanar essa alteração sensorial causada pelos fogos”, explica o psicólogo.
A psicóloga infantil e especialista em crianças com autismo e atraso no desenvolvimento Juliana Cardozo Bomfim explica que as crianças com TEA são as mais prejudicadas, pois os sons causados por fogos de artifício causam um excesso de estímulos no processamento sensorial delas, o que pode dificultar a adaptação ao ambiente em que ela está e desencadear estereotipias, comportamentos disfuncionais e crises em função da sobrecarga sensorial.
Fogos podem fazer o autista se auto machucar
Em alguns casos, essa alteração sensorial pode levar a uma agitação extrema e provocar uma crise em que o autista passa a se machucar propositalmente por não conseguir se reestabelecer e voltar a um nível de calmaria. “Ele pode correr pela casa, bater em algum móvel, buscar por formas de minimizar a alteração causado pelos fogos. Alguns podem se auto machucar, se bater, se morder, Ele se assusta e não sabe o que está acontecendo, como se entrasse em desespero”, explica Cloves Alencastro.
Dicas para minimizar uma possível crise na queima de fogos
Para os pais ou responsáveis por crianças com TEA. Juliana Bomfim explica que é essencial transmitir segurança física e emocional, mostrar que tudo vai ficar bem além de antecipar e prevenir a criança para essas situações.
“A equipe terapêutica pode auxiliar nesse momento, mas é importante antecipar com a criança possíveis mudanças na rotina e excesso de estímulos, como barulhos, lugares novos, muitas pessoas, som e os fogos. É importante mostrar para a criança alguns vídeos de fogos de artifício para que ela saiba como é antes do momento. Há estratégias também que podem ser utilizadas de forma individual dependendo de cada caso, como fones de ouvido, se afastar do local no momento, entre outros”, explica a psicóloga que trabalho na equipe do IGAC, especialista em terapia aba e intervenção precoce.
Juliana reforça que é de extrema importância avisar a equipe terapêutica sobre qualquer mudança na rotina ou excesso de estímulos, pois assim, a equipe pode trabalhar com a antecipação e prevenção de possíveis comportamentos disfuncionais e crises. A psicóloga explica que cada caso precisa ser avaliado de forma individual para que os pais sejam orientados da forma correta e todos possam aproveitar as festividades de final de ano da melhor forma possível, pensando não só já criança, mas em todos os familiares presentes.
Especialistas dizem ter esperança da população alterar a tradição
Os dois psicólogos afirmam que tem esperança de que a população se conscientize e pare de soltar fogos que prejudicam não só os autistas, mas bebês, idosos, animais e a natureza também.
“O ideal será no dia em que a sociedade entenda e respeite e que essa tradição seja trocada por algo tão bonito quanto os fogos e mais bonito ainda sabendo que não estará causando esse momento de desconforto para outras pessoas”, conta Cloves.
“Acredito que com a informação e conscientização da população, muitos já possuem consciência do prejuízo que os fogos de artifício podem causar não só para as crianças com TEA, mas em bebês, idosos, animais e a natureza e, por isso, evitam nesse momento. A caminhada em direção a conscientização é longa, mas necessária para que todos tenham empatia ao próximo”, diz Juliana.
*Jeice Oliveira compõe programa de estágio do Mais Goiás sob supervisão de Alexandre Bittencourt