“Foi como um soco”, diz jovem que perdeu nariz ao ser atingido por fogos em Caldas Novas
O fogo de artifício fez com que ele perdesse o nariz, praticamente todos os ossos abaixo da região dos olhos e também parte dos dentes
Na noite de 17 de novembro de 2012, o então técnico de iluminação Samuel Rodrigues, hoje com 29 anos, precisou subir na área de iluminação do palco de um show que acontecia em Caldas Novas, região turística de Goiás, para fazer ajustes. O que o jovem, que tinha 19 anos na época, não sabia é que havia fogos de artifício perto das luzes do palco. Ao dispararem, um deles atingiu Samuel no rosto e mudou para sempre sua aparência.
Samuel é morador de Trindade, Região Metropolitana de Goiânia. Em entrevista à BBC dez anos depois, o rapaz relata que precisou recomeçar a vida após o acidente, mas levando consigo todas as marcas que ele deixou: o fogo de artifício que o atingiu fez com que ele perdesse o nariz, praticamente todos os ossos abaixo da região dos olhos e também parte dos dentes – principalmente da arcada superior.
“No momento, não percebi que tinha sido atingido. O impacto foi como um soco, eu fiquei um pouco tonto e deitei com o peito pra baixo, na estrutura do palco, para não cair. Tive um apagão de milésimos de segundos. Quando levantei um pouco a cabeça, vi os fogos estourando perto de mim e tive a noção de que um havia me acertado”, recorda. O rapaz contou que não tinha noção da gravidade do ocorrido, mas começou a preocupar-se ao ver que as pessoas choravam ou viravam o rosto quando olhavam pra ele.
Na ocasião do acidente, Samuel foi levado para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e, de lá, para o Hospital das Clínicas da UFG, em Goiânia, onde teve que passar por uma cirurgia de emergência que durou quase 24 horas.
Reconstrução facial e recuperação
Um ano depois do acidente, o jovem Samuel deu início a um longo e doloroso processo de recuperação e cirurgias para tentar reconstruir seu rosto. Ele foi submetido a um transplante autólogo do próprio corpo, procedimento que exigiu retirada da pele, tecido e músculo de sua coxa para implantação no rosto; um enxerto com ossos retirados da bacia para uso na deles na face; uma reconstrução nasal e uma lipoescultura que objetivou ajustar o tecido transplantado no rosto.
“Foi uma recuperação traumática, porque imobilizaram a minha boca por um tempo. Fiquei muito estressado e nervoso nesse período. Isso me afastou das consultas e dos exames na época”, revelou o rapaz à BBC.
No entanto, outros procedimentos ainda são necessários para devolver funcionalidades essenciais ao seu rosto. Samuel destaca sua vontade por uma cirurgia em específico para terminar parte do nariz – perdido no acidente. “Na primeira vez, fizeram um molde nasal, mas os buracos para respirar não cicatrizaram bem e taparam”, afirma o rapaz, que respira através de uma traqueostomia.
Além das perdas em toda a região do nariz e boca – interna e externamente -, o fogo de artifício que o atingiu uma década atrás também prejudicou gravemente sua visão. Hoje, Samuel é totalmente cego do olho esquerdo e tem apenas 20% da visão no olho direito.
O recomeço
Depois do acidente que deixou um buraco em seu rosto, Samuel precisou reaprender a viver. À BBC, ele relata que recebeu amplo apoio de familiares e amigos, e até de desconhecidos. Mesmo assim, o estado em que ficou seu rosto fez com que ele começasse a se esconder de olhares alheios.
O rapaz relata que só compartilhava fotos de máscara nas redes sociais. Nos encontros de família, Samuel optava até por comer coisas mais fáceis e que demandavam o mínimo de remoção da máscara. “Nem todo mundo sabe lidar com isso, por isso preferi me esconder”, pontua. Porém, a vida não parou.
Meses após o acidente (que gerou uma indenização de quase R$ 1 milhão para o rapaz), a preocupação da amiga Karla Giovana com o estado de saúde de Samuel fez com que eles se aproximassem. A aproximação virou uma amizade sólida e amizade transformou-se num relacionamento amoroso. Atualmente, Samuel e Karla são casados e pais de um menino que até brinca com o enxerto de nariz do pai. “Acredito que agora ele esteja descobrindo a diferença que eu tenho das outras pessoas”, conta.
Com o passar do tempo, Samuel passou a aceitar melhor sua aparência e, alguns meses atrás, mostrou o rosto pós-acidente pela primeira vez nas redes sociais. “Foi uma sensação libertadora”, relembra. Hoje, Samuel compartilha vídeos nas redes (o goiano tem 30 mil seguidores no Instagram) e divide momentos do seu cotidiano, assim como sua história de superação.