Infraestrutura precária

Forte chuva causa alagamento em residências no Jardim Atlântico, em Goiânia

Segundo moradores, o problema é causado por escassez e entupimento de bueiros. Desde 2013 diálogo com a Seinfra não resulta em aprimoramento da infraestrutura do bairro  

A chuva da madrugada desta quinta-feira deixou um rastro de destruição no Jardim Atlântico, Região Sudoeste da Capital. Cerca de 12 casas foram alagadas pela água, acumulada nas ruas e avenidas em razão do entupimento ou escassez de bueiros, segundo Associação de moradores do bairro. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os 68 milímetros  da tempestade, que teve duração média de seis horas,  representam 32% dos 214 milímetros esperados para o mês de fevereiro. Na região, casas ficaram alagadas, mas, no caso da residência do casal Josely Thomas Guimarães (62) e Olair Guimarães, que enfrenta o problema pela segunda vez, o problema foi mais grave.

Vinda de um lote baldio, a água atingiu com força o muro traseiro da residência, localizada na Rua do Salmão. A estrutura não resistiu e a água invadiu a residência. Segundo Josely, que estava sozinha no momento da tempestade, o nível da água atingiu 80cm de altura. “Tudo ficou destruído, não sobrou nada. Móveis, eletrodomésticos. Tudo estragado. Fiquei apavorada. Liguei para meus filhos e um deles pediu que eu ficasse em um local alto, enquanto ajuda não chegasse. Foi o que eu fiz”. Na rota da água, tudo ficou destruído. O portão frontal da residência também desabou com a força da água.

Casal faz avaliação de prejuízos após a chuva. É possível ver a quantidade de lama no chão e a marca deixada pelo nível da água na parede, ao fundo (Foto: Denilson Guimarães)

De acordo com Olair, esta é a segunda vez que a famílias, moradora do bairro há 15 anos, é atingida pelo mesmo problema. Da primeira vez, em 2013, tudo ficou destruído. A família move uma ação na justiça solicitando indenização de mais de R$ 200 mil para reparação dos danos. “Já ganhamos em todas as instâncias, mas ainda não recebemos. O processo foi parar na mão do desembargador Ney Telles e parece que está engavetado para a prefeitura não precisar nos pagar. Agora o problema veio ainda mais forte. Vamos processar novamente, mas nosso prejuízo agora é maior. Hoje teremos que dormir na casa de familiares”.

Denilson Guimarães (30), filho do casal e morador da residência afetada, afirma que estava voltando do trabalho quando recebeu a ligação da mãe. “Falei para ela subir em cima de uma cama e aguardar eu chegar. Parece que teve um tsunami aqui. Não levou a casa, mas 90% do que tinha dentro está destruído. A gente exige uma posição da prefeitura”. Vídeo mostra como ficou o interior da casa:

De acordo com o presidente da associação de moradores do bairro, Marco Aurélio Lemes (32), o problema começa nas avenidas Ipanema e Guarapari, duas das principais vias do Jardim Atlântico. “A primeira, em quatro quilômetros, tem apenas dois bueiros. A segunda tem entre 10 e 12, mas estão entupidas. Incapazes de absorver o fluxo, a água invade vias adjacentes. O principal ponto de alagamento é a Rua do Saveu, a mais atingida. Lá a água se acumula e desce com força em direção à Rua do Salmão. Atingiu o muro traseiro, que caiu, e adentrou a residência, saindo depois pelo portão da frente, que também está no chão”.

Providências

Há quatro anos uma Associação de Moradores do bairro foi criada para exigir da prefeitura melhorias de infraestrutura e segurança. No entanto, no que diz respeito ao desentupimento de bueiros e capacidade de drenagem da água da chuva, nunca houve uma resposta definitiva.

De acordo com o presidente da entidade, Marco Aurélio Lemes, projetos já foram encaminhados à Secretaria Municipal de infraestrutura e Serviços Públicos de Goiânia, mas as soluções nunca foram executadas.

Marco Aurélio afirma que irá tentar reunião com o prefeito Íris Rezende para tratar do assunto (Foto: reprodução)

Para Marcos, essa omissão acaba resultando na repetição de episódios como o da chuva desta madrugada. “O problema foi identificado em 2013. Desde então tentamos sensibilizar a prefeitura. Só nesse ano, várias reportagens foram feitas apontando o problema, mas nada foi feito pela Seinfra. Há um mês, a secretaria disse que o problema seria resolvido. Enviou um engenheiro , que não fez nada além da visita. Eu conversei com ele. Ele nos mandou um texto, dizendo que tentará ver como diretor se ele pode construir parte do muro caído para tentar amenizar os danos sofridos pela família. Só que obras só ocorrem após o período chuvoso”.

Com o impacto da chuva da madrugada, Marco revela que tentará agendar uma reunião com o prefeito Íris Rezende. “Ele vai ter que me atender. A gente sempre tentou diálogo, mas o tom vai ter que subir. Estão esperando o quê? Que  alguém seja arrastado pela correnteza ou que morra afogado dentro de casa?”, questiona.

O Mais Goiás aguarda posicionamento da Seinfra sobre o caso.

De acordo com o coordenador executivo da Defesa Civil Municipal Francisco do Carmo Vieira, moradores do Jardim Atlântico entraram em contato e a entidade irá fazer uma visita no local para avaliar a situação. “Estamos visitando vários pontos afetados pela chuva de ontem pela cidade. Vamos avaliar a situação e ver se as famílias precisam do respaldo do Poder Público.

Segundo ele, a Defesa Civil sempre realiza alertas, inclusive para a Seinfra. “Sempre fazemos documentos que são encaminhados para a Seinfra, apontando o problema e sugerindo soluções para ajudar a mitigar as falhas.

Até o momento, Francisco revela que, além do Jardim Atlântico, bairros nas imediações do córrego cascavel também foram afetados. “Um alambrado foi danificado na Avenida T-2 com a Marginal Cascavel; no encontro da Av. Nazareno Rodrigues coma Marginal, na Vila Aurora, também foi afetado. Pela segunda vez, o prédio da Indústria Goiana de Embalagens (Igel), no Setor Rodoviária foi alagada. As duas pistas da Marginal Botafogo foram danificadas. Próximo ao viaduto da Avenida Independência, houve desmoronamento da barreira de contenção e afundamento do asfalto”, avalia.

Mais chuvas

De acordo com a chefe do Inmet Goiás e Tocantins, Elizabete Alves Ferreira, a chuva de ontem fez com que o instituto emitisse o chamado “alerta laranja”, para situações em que há probabilidade de chover entre 50 e 100 milímetros. Para esta quinta-feira (22) permanece a previsão de chuva, mas com alerta amarelo, mais brando, para temporais de podem variar entre 20 e 50 milímetros. “Temos condições favoráveis para a formação de chuva hoje e amanhã. No período da tarde de hoje, a chuva deve se concentrar na Região Centro-Norte do Estado”.

A escala de alertas tem apenas mais um nível, o vermelho, para situações de chuvas com 100 milímetros ou mais.