Francisco supera deficiência visual e chega a 7,5 mil km percorridos em provas de corrida
Aos 64 anos, Francisco já disputou 18 maratonas de São Silvestre
Aos 64 anos, Francisco Lima de Souza já correu profissionalmente mais de 7.500 km – a distância é quase 3.400 km a mais que do Oiapoque ao Chuí. Ele disputou 18 São Silvestres, 70 meias maratonas, 100 maratonas, além de seis caminhadas ecológicas, cinco ultramaratonas de 24h de prova e 18 ultramaratonas de 12h, além de outras corridas – tanto nacionais como internacionais. Detalhe, ele é deficiente visual.
Morador do Residencial Campos Elíseos, em Aparecida, seu Francisco também tem um projeto social para ajudar pessoas com deficiência visual a conseguirem seus direitos e benefícios. A Associação Goiana dos Corredores de Rua (Ascorg) atende a todos, mas principalmente as pessoas com necessidades especiais (PNEs), tanto adultos quanto crianças, na área do esporte e social.
Nascido em Ceará-Mirim, Rio Grande do Norte, o corredor, que tem seis filhos legítimos e um adotivo, se mudou para Brasília em 1970. Em 1990 veio para Goiânia e há 20 anos mora em Aparecida.
Visão
Ao Mais Goiás, ele revela que nasceu sem enxergar do olho esquerdo. A visão do direito foi reduzida a 15% após um descolamento de retina em janeiro de 2003 – ele, que começou a correr aos 20 anos, já corria nesta época.
“Aconteceu quando trabalhava em uma garagem de carro, perto do aeroporto de Goiânia. Escrevia muito e fazia relatórios. O médico disse que a retina descolou por causa disso, pois eu não usava óculos. Hoje eu enxergo 15% do direito. Corro com guia”, revela.
Francisco treina dia sim, dia não. Ele usa a pista de caminhada do setor, onde mora. Nos treinos ele vai sozinho. “Eu e Deus”, brinca. Geralmente, o ritmo é mais devagar, mas a quilometragem varia. “Ontem corri 8 km, mas amanhã vou 12 km.” Em 5 de setembro, ele vai ao Uruguai (Punta Del Este) para uma maratona (42 km e 192 m), onde já foi campeão três vezes. De lá, se tudo der certo, ele segue para Natal (RN), para uma meia maratona – ele também venceu o percurso em três ocasiões.
Patrocínio
Ele diz “se tudo der certo”, porque precisa se viabilizar financeiramente – ainda não garantiu a viagem para o Uruguai. Francisco vive do LOAS, um benefício assistencial ao PNE. Além disso, conta com a esposa Maria do Socorro, com quem é casado há noves anos. Ela trabalha fazendo faxinas.
Francisco também recebe um patrocínio do Centro Universitário Alfredo Nasser (Unifan) de R$ 500, mas o montante das rendas ainda é pouco. Para o Uruguai, por exemplo, ele precisaria de, pelo menos, R$ 1.500. “Vou até Porto Alegre de passe livre e, de lá, pego outro ônibus. A passagem custa cerca de R$ 320. Não tenho como levar guia. Tenho que apelar para os amigos. E ainda tem a comida e o hotel”, descreve a vida de competição.
A última corrida que ele fez foi em Brasília (DF), no domingo (1º), uma meia maratona (21 km). Ele revela que para PNEs não havia troféu e nem prêmio em dinheiro, somente uma medalha. Segundo ele, a São Silvestre também não possui esse tipo de premiação para os PNEs, apenas para os corredores regulares. “Precisamos de engajamento dos políticos para beneficiarem os PNEs.”
“Faz cinco anos que corro em nome da Unifan e sei que se algo acontecer comigo, eles não deixarão minha família de lado. Mas muitos patrocinadores não agiriam da mesma forma. Precisamos de uma lei para assegurar benefícios a esses atletas”, clama seu Francisco.
Atualmente, ele busca outros patrocínios para poder continuar representando o Brasil, Goiás e Aparecida pelos Estados e pelo mundo. “Quem quiser ajudar pode falar comigo ligando (62 99162-1299) ou com a minha esposa pelo WhatsApp (98524-6035)”, finaliza.