Saúde

Funcionários de hospital filantrópico na Cidade de Goiás estão sem salário desde junho

Repasses mensais do Governo Estadual não são feitos desde abril, segundo diretor da unidade. Dinheiro era utilizado para pagamento dos trabalhadores. Sem recursos, alguns estão sem pagar aluguel

Cerca de 100 trabalhadores do Hospital de Caridade São Pedro D’Alcântara, situado na Cidade de Goiás, estão sem salário desde o último mês de junho. Por isso, técnicos de enfermagem e radiologia, enfermeiros, auxiliares de limpeza, médicos ortopedistas e anestesistas se reuniram na manhã desta segunda-feira (29) em um protesto, na frente da unidade, para cobrar atitudes das autoridades. Segundo os próprios funcionários, bem como a direção do hospital, o problema é causado por uma interrupção nos repasses estaduais mensais de R$ 500 mil, os quais não são feitos desde abril.

Em razão da escassez de recursos, o atendimento também tem sido prejudicado: roupas de cama estão rasgadas, medicamentos – como antibióticos e analgésicos – estão em falta, não há produtos de limpeza e internações e cirurgias estão suspensas por tempo indeterminado. É o que afirma a enfermeira Carolina*, que trabalha no São Pedro há cerca de seis anos.

“Todos, exceto médicos do pronto-socorro, estão sem receber há quatro meses. Segundo a direção, os repasses não estão sendo feitos. Só não falta alimento para as refeições no hospital por que supermercados têm nos doado. Mas a situação de muitos em casa é calamitosa, já teve inclusive gente despejada por que não pagava aluguel”, pontua. De acordo com ela, adiantamentos também têm sido negados. “Quando procuramos a direção, ainda perguntam para que queremos o dinheiro. É humilhante, queremos porque é nosso dinheiro”, reforça.

Mês de junho foi quando ocorreu último depósito (Foto: Leitor Mais Goiás)

Carlos*, outro funcionário da unidade, corrobora a afirmação da colega de que apenas médicos do pronto-socorro estão com o pagamento atualizado. “Fica aquele clima chato, de estresse. O pessoal tá com contas atrasadas, com fornecimento de água e energia cortados, outros que estão em situação de despejo. A direção não fala nada, enquanto isso, a UTI está há dois meses, porque a empresa retirou maquinários por falta de pagamento”. A realização de partos também está prejudicada. “Só estão realizando em casos emergenciais”.

Carolina ainda critica o sindicato, segundo a qual não tem “feito nada”. A gente marca reuniões para tentar resolver a situação, mas nunca aparecem. Apenas dizem que não podemos fazer greve ou paralisações. Isso é muito injusto”. Confira imagens do protesto desta segunda:

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) informou que os repasses ao hospital “não são uma obrigatoriedade legal, mas um ato voluntário, discricionário. No entanto a SES já liberou esse ano R$ 1,5 milhão. Novos repasses serão feitos conforme a disponibilidade de recursos disponibilizados pela Sefaz e não tem como a SES definir um cronograma”, diz o texto.

Sindicato

Ivan Pereira de Paula, presidente do Sindicato dos Empregados em estabelecimentos e serviços de saúde no estado de Goiás (SEESSEGO), afirma que a situação é inadmissível e revelou ter tentado diálogo com a Secretaria de Estado da Saúde (SES) para resolver o imbróglio, mas até o momento não foi recebido. “O hospital sobrevive dos repasses e na falta deles, a situação está crítica”.

Para ele, o sindicato tem tentado diversas possibilidades para garantir que os pagamentos sejam efetuados. Neste mês, uma ação civil pública impetrada nesse sentido foi negada pelo juiz do trabalho César Silveira, o qual considerou que os pagamentos estão vinculados, por meio de acordos coletivos, aos repasses estaduais. De acordo com a norma, o pagamento dos funcionários deve ocorrer em até 48 horas após o repasse das verbas estaduais – que não têm sido depositadas.

Possibilidades de paralisação e greve, segundo Ivan, têm sido analisadas, mas ele revela que a Justiça já ressaltou a impossibilidade das atividades na unidade serem suspensas, uma vez que este é o único hospital para atender a demanda da região. “Estamos tentando de tudo. A gente tem que comunicar órgãos competentes para ver se autorizam uma paralização. Estamos correndo de todos os lados para resolver isso. Do jeito que está não dá para continuar”.

Hospital

O diretor do hospital, frei Marcos Lacerda, conversou com o Mais Goiás. De acordo com ele, os pagamentos estão atrasados em razão do atraso nos repasses do Governo de Goiás. “Conforme convenção estabelecida com o sindicato, realizamos pagamento até 24h depois de receber o dinheiro. O problema é que não recebemos desde abril e só conseguimos pagar folhas completas até junho”.

O frei afirma que “na medida do possível”, a unidade realiza adiantamento de recursos aos funcionários. “O dinheiro que entra a gente adianta para as pessoas pagarem água, luz, aluguel. Mas nem sempre o recurso é suficiente para todos. Só esse mês adiantamos mais de R$ 20 mil. Temos cobrado o estado e a prefeitura, por meio da qual os repasses são feitos. Soubemos que a prefeita Selma Bastos (PT) terá uma reunião nesta semana com o governador para tratar da questão”.

Sobre os casos de humilhação relatados por Carolina, frei Marcos rebate: não existem. “Isso não está acontecendo. Sabemos que eles tem direito de receber e todo mundo é bem acolhido”.

*Carolina e Carlos são nomes fictícios. Funcionários pediram para ter identidades preservadas pois têm medo de represálias