Gerente pode virar réu por discriminação de raça após ofender caminhoneiro em fazenda de Goiás
Homem também foi denunciado por porte ilegal e disparo de arma de fogo após episódio de furto de milho em Cabeceiras
O Ministério Público de Goiás (MPGO) denunciou o gerente de uma fazenda que humilhou um caminhoneiro ao chamá-lo de “ladrão”, no momento em que o homem tentava furtar cerca de 20 espigas de milho na propriedade rural localizada às margens da GO-346, em Cabeceira, a 339 km de Goiânia. Ele pode responder por discriminação de raça ou procedência nacional, porte ilegal e disparo de arma de fogo. Caso ocorreu em no último 6 de maio, mas a denúncia só foi oficializada na sexta (8/7).
No entendimento do MP, Fernando Rosbach cometeu os crimes de discriminação de raça ou procedência nacional ao se referir à população goiana com termos pejorativos e generalizados. Na ocasião ele afirmou que “vou mostrar como faz essa ‘goianada’ roubando milho, não tem vergonha na cara, não tem caráter”. De acordo com a lei 7.716/89, o crime pode ser atribuído a quem pratica, induz ou incita a “discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa”.
Ele ainda pode ter pena aumentada, se condenado, por ter exposto o caminhoneiro nas redes sociais. Rosbach ainda teve seis armas sem registro apreendidas durante buscas da Polícia Civil em sua residência.
Relembre
A filmagem mostra um caminhoneiro trajado com o uniforme de uma empresa com espigas de milho nas mãos a caminho do caminhão quando o gerente se aproxima e diz que vai denunciar o furto para a polícia. “Aqui o motorista ladrão, roubando meu milho. Parabéns cara, o senhor acaba de ser notificado como ladrão. Vou passar para a polícia”, diz o gerente no vídeo.
O trabalhador afirma que o gerente está correto, pede desculpas e segue até a caminhonete de Fernando para colocar as espigas na carroceria quando é surpreendido por um disparo para o alto, segundo o promotor de justiça.
Generalização
O gerente ainda chama a população goiana de “sem caráter” e afirma que vai educar os moradores de Goiás. “Vou mostrar como faz essa ‘goianada’ roubando milho, não tem vergonha na cara, não tem caráter. Aqui no Goiás tem essa mania de roubar as coisas dos outros, então vou educar esse pessoal (sic)”, diz o homem.
Na época, o dono da fazenda se pronunciou e contou que o milharal sofre furtos com frequência, mas afirmou não compactuar com comportamentos preconceituosos. “Já houve casos de pessoas com carga completa de milho e em caminhonetes e pequenos caminhões. Em algumas oportunidades, pessoas armadas praticando o furto. Porém, é uma atitude injustificável, não apoio comportamentos e atitudes preconceituosas como as proferidas pelo gerente”, disse o proprietário da fazenda.
O prefeito de Cabeceiras, Everton Francisco de Matos “Tuta” (PDT), também emitiu uma nota de repúdio. “Foi com muita tristeza que recebi o vídeo desse episódio envolvendo o caminhoneiro e o gerente da fazenda. É inadmissível que uma pessoa se ache no direito de corrigir um erro com exageros e humilhações”, relata.
À pedido do prefeito, Fernando gravou um vídeo com pedidos de desculpas. “Não era minha intenção jamais falar aquilo de pessoas de bem. Eu estava chateado com o roubo de umas mudas, peguei o cara roubando milho, então não era para ofender a população”, disse o denunciado.
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*Jeice Oliveira compõe programa de estágio do Mais Goiás sob supervisão de Hugo Oliveira