IVERMECTINA E AFINS

Goiana cotada para Ministério da Saúde condena “tratamento precoce” para covid

Ludhmilla Hajjar, nascida em Anápolis, diz que no Brasil faltou ciência e sobrou negacionismo

Médica goiana Ludhmilla Hajjar no aeroporto de Congonhas, na manhã deste domingo, a caminho de Brasília (Foto: Divulgação)

Em entrevista concedida ao jornal Opção no dia 7 de março deste ano, a médica goiana Ludhmilla Hajjar, que emerge como a mais provável substituta de Eduardo Pazuello no Ministério da saúde, afirmou que o combate à pandemia no Brasil enfrentou retrocessos por causa de pessoas que defendem “aquelas medicações completamente ineficazes” para salvar pacientes com covid-19.

“Os conselhos de medicina muitas vezes adotaram fake news, não ajudando a população, só piorando tudo com a venda de uma imagem de que o tratamento preventivo com aquelas medicações completamente ineficazes pode salvar as pessoas. Um conjunto de erros que culminou agora nesta tragédia que o Brasil está vivendo”, disse Hajjar.

A cardiologista lamentou o fato de que governadores e presidente da República tenham gasto energia com brigas, em vez de se unirem para combater a disseminação do vírus. “No que o povo vai acreditar? Na propaganda da televisão, no que o presidente fala, no que o Ministério da Saúde orienta ou no que o governador fala? O discurso tem de ser um só”.

Ludhmilla Hajjar diz que “faltou foi ciência, foi combater o negacionismo”. Realmente há uma desordem nacional, uma desconfiança gigantesca que a população está vivendo e isso tem nome. As pessoas… na própria classe médica, quanta gente atrapalha o tratamento da doença difundindo medicações fantasiosas, difundindo cura da doença, sendo que essas pessoas deveriam estar buscando fazer diagnóstico, assistir os pacientes, aumentar o número de leitos”.

Veja alguns trechos da entrevista que ela concedeu na ocasião:

Kit covid-19
Sabemos que cloroquina não funciona há muitos meses, que azitromicina não funciona há muitos meses, que ivermectina não funciona há muitos meses. Mas ainda tem esses kits por aí. Tem conselhos que defendem. Tem conselhos que não negam. É uma conjunção de fatores – o não conhecimento e a não adoção de práticas baseadas em evidências científicas – que só coloca a vida das pessoas em risco.

Política de vacinação
Não tivemos uma política de adoção das vacinas que pudesse ter atendido a população de uma maneira geral. Hoje temos um número muito pequeno da população vacinada. Isso tudo tem um resultado hoje catastrófico, que estamos, infelizmente, assistindo no nosso dia a dia.

Faltou liderança
Foi uma ineficiência na adoção de medidas que poderiam ter minimizado muito a prevalência da doença. Ao mesmo tempo, não tivemos uma liderança nas três esferas que pudesse falar a língua do povo, que pudesse organizar a resposta das pessoas e da população. Não tivemos medidas sociais para tentar adequar todas as medidas protetivas que são orientadas.

Com avançar na vacinação?
Sem dúvida a compra. Mas a compra não é só ter o recurso e comprar. Depende de uma reconstrução rápida de uma política internacional. Depende de o Brasil demonstrar que está em uma situação frágil e que precisa de ajuda. 

Toque de recolher nacional
Não concordo com a medida. Discordo completamente. O Brasil é um país continental que tem 27 Estados. Cada Estado tem a sua epidemiologia local, a sua realidade, o seu número de leitos. A questão de fazer lockdown e toque de recolher tem de ser tratado Estado por Estado, semana a semana, pelos técnicos e cientistas locais. Não acredito que deve haver uma medida nacional única que sirva para todo o Brasil. Tem de ser tratado individualmente.

Brigas entre políticos
É lamentável ver governador brigar com o presidente, presidente brigar com governador. Toda esta energia tinha de ser usada no combate à pandemia. Este é o problema. Isto não está sendo feito. No que o povo vai acreditar? Na propaganda da televisão, no que o presidente fala, no que o Ministério da Saúde orienta ou no que o governador fala? O discurso tem de ser um só.