HEROÍNA

Goiana que vive nos EUA ajuda a salvar menino de 11 anos que sofria abusos

A goiana ofereceu ajuda em um pedaço de papel e acabou descobrindo que o menino era vítima de tortura em casa

Uma garçonete de 44 anos ganhou as manchetes brasileiras e norte-americanas na última semana, após vir à tona um ato de heroísmo por parte dela que contribuiu para o salvamento de um menino de 11 anos. Flaviane Carvalho, que é natural de Goiás mas vive nos Estados Unidos há mais de uma década, estava a serviço em um restaurante de Orlando quando percebeu o comportamento estranho e hematomas no rosto e braços de uma criança que estava acompanhada de um casal. A goiana ofereceu ajuda em um pedaço de papel e descobriu que o menino era vítima de tortura em casa.

O caso ocorreu no dia 1º de janeiro, no restaurante Mrs. Potato, em Orlando, Estados Unidos. Flaviane é de Goiânia, mas mora nos EUA há 13 anos. Ela relata que no dia em questão, já perto do horário de fechar o restaurante, uma família de quatro pessoas – um casal e duas crianças – chegou e fez o pedido a uma garçonete do estabelecimento.

Flaviane diz ter estranhado o fato de o homem e a mulher terem pedido somente três pratos, sendo que eram quatro na mesa. A goiana se aproximou da mesa para confirmar se o pedido estava correto, uma vez que uma das crianças da mesa, um menino, não estava comendo. A resposta do homem a intrigou ainda mais. “Ele virou pra mim e disse ‘Está tudo bem. Ele vai ter o jantar dele esta noite em casa'”, conta.

A mulher relata que o comportamento do menino chamou sua atenção. Segundo ela, a criança “não se pronunciava, não falava nada e só ficava de cabeça baixa”. “Não estava tão frio no dia, mas ele estava usando um moletom, com o capuz, óculos e máscara. Dava pra ver muito pouco do rosto dele”, relembra Flaviane.

Pedido de socorro

Flaviane conta que começou a prestar atenção no menino sentado à mesa e compartilhou suas suspeitas com outros funcionários do restaurante. Segunda ela, conforme a criança se movimentava, hematomas e machucados eram vislumbrados. “Ele fez um movimento de cabeça que eu consegui ver um pequeno sinal roxo do lado do olho dele, e quando ele puxou o braço, o moletom desceu e deu pra ver o roxo no braço”, recorda.

A garçonete decidiu agir. Flaviane pegou um pedaço de papel e escreveu “Are you ok?” (Você está bem?) e se posicionou num ponto do corredor do restaurante que somente o menino podia vê-la. A criança viu a mensagem e acenou, de forma tímida, com a cabeça. A goiana não se convenceu.

Foto: Reprodução

“Quando alguém passava perto dele, ele olhava e abaixava a cabeça. Ele estava pedindo ajuda”, afirma.

Flaviane, então, pegou outro papel e escreveu “Do you need help?” (Você precisa de ajuda?). Dessa vez, o menino confirmou “sim” com a cabeça. A mulher rabiscou um rápido “Ok” no papel, mostrou a ele novamente e acionou a polícia.

Vítima de tortura

Conforme Flaviane, os policiais chegaram poucos momentos depois. Eles levaram o menino para fora e ouviram um extenso relato de maus-tratos e torturas. Segundo a goiana, ele levantava o moletom e mostrava aos policiais dezenas de hematomas e machucados de diferentes cores, o que indicava que eles teriam sido adquiridos em diferentes ocasiões.

O homem, que era padrasto do menino, saiu preso do local. As duas crianças que estavam com o casal foram levadas para o hospital numa ambulância do Corpo de Bombeiros. No dia seguinte, a polícia norte-americana efetuou também a prisão da mãe. As autoridades chegaram a conceder uma coletiva de imprensa alguns dias depois, dando conta de que o menino, de 11 anos, era vítima de maus-tratos e tortura em casa.

Imprensa americana repercutiu o caso | Foto: Internet

Flaviane é casada e tem duas filhas, de 18 e 21 anos, no entanto, o resto de sua família ainda vive em Goiás. Ela afirma não se vê como uma heroína mas que apenas “cumpriu com sua obrigação como ser humano”. “Pra mim, é o que qualquer pessoa deveria fazer. É natural, eu não consigo entender isso sendo diferente pra outras pessoas. não me sinto heroína, não fiz nada demais”, conclui.

Flaviane Carvalho | Foto: Arquivo pessoal