'COMUNIDADE TERAPÊUTICA'

Goianápolis: operação fecha clínica de reabilitação que sequestrava “pacientes” em casa e na rua

O local não tinha alvarás de funcionamento e mantinha vítimas encarceradas contra a vontade

Uma operação, que aconteceu nesta segunda-feira (13), fechou uma clínica de reabilitação que sequestrava “pacientes” em suas casas e/ou na rua. O local, que ficava na zona rural de Goianápolis, não tinha alvarás de funcionamento do órgão sanitário municipal e estadual. Além disso, os responsáveis pelo local faziam internações compulsórias e uso de medicamentos vencidos e proibidos nos internos.

Rodrigo Arana Vargas, um dos delegados responsáveis pelo caso, informou que a Secretaria de Saúde da cidade comunicou à Polícia Civil que os donos da comunidade terapêutica levavam as vítimas à Assistência Social para que realizassem registro no Cadastro Único (CadÚnico).

A intenção dos suspeitos, segundo o investigador, era obter benefícios assistenciais eventualmente concedidos aos alegados pacientes em condição de dependência química.

O órgão, porém, negou pedidos no primeiro atendimento por falta da presença de um representante legal dos “acolhidos”. Em razão disso, uma fiscalização prévia foi realizada na comunidade onde os internos estavam.

“Semelhante a casa de detenção”

Segundo o delegado, no lugar, agentes constataram aproximadamente 49 pacientes e internos. Uma ala era destinada a recém-chegados, que ficavam isolados dos demais em dormitórios com grades nas janelas. Segundo registro da PC, o ambiente era “semelhante a uma casa de detenção”.

Outras alas eram destinadas a “pacientes” idosos e indivíduos estabilizados diante de crises de abstinência. Diante disso, a Secretária de Saúde verificou com o órgão sanitário municipal e estadual que não havia nenhum processo de legalização para o funcionamento do local. A falta de documentação foi constatada pela corporação na segunda-feira.

Agentes encontraram medicamentos fracionados e sem procedência, medicamentos vencidos, equipamentos sem condições de higiene e indicativos de possível uso de medicação proibida (lidocaína).

Sequestros ou “resgates”?

Os delegados ouviram os internos e, durante as entrevistas, parte deles demonstrou insatisfação em suas permanências no local, alegando que estavam sendo mantidos contra suas vontades. Durante as oitivas, alguns internos disseram aos investigadores que foram sequestrados de suas casas e até mesmo na rua, mesmo expressando vontade de não serem internados.

Segundo o delgado Rodrigo Aras, a Polícia Civil descobriu ainda que dois internos, que já estavam recuperados, ajudavam na administração da clínica e realizam os sequestros – chamados por eles de “resgate”.

“Diante da constatação da autoria, materialidade e circunstancias delitiva, foi dada voz de prisão em flagrante em desfavor do proprietário pela prática da contravenção penal de exercício ilegal da profissão e dos crimes de cárcere privado e adulteração ou corrupção de produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais”, revelou a Polícia Civil.

“Também foi feita a prisão em flagrante em desfavor do motorista e o coordenador/interno, ambos pela prática do crime de sequestro ou cárcere privado. Finalizada a autuação em flagrante delito, os detidos foram recolhidos na Unidade Prisional de Goianápolis e ficarão à disposição do Poder Judiciário de Goianápolis”, finalizou a corporação.

Segundo Rodrigo, as investigações continuam com intuito de ouvir os familiares e parentes dos internos.

Vale ressaltar que a ação denominada de Operação Resgate foi realizada pela 3ª Delegacia Regional de Polícia de Anápolis, Grupo Especial de Investigações Criminais (Geic), Grupos Especiais de Repressão aos Crimes contra o Patrimônio (Gepatri) e Delegacia de Polícia de Goianápolis, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Goianápolis, Vigilância Sanitária Estadual e Polícia Militar (PM).