Goianas investem na fabricação de máscaras de pano para enfrentar crise do coronavírus
Diante da queda na produção de itens habituais, costureira e artesã se dedicam à criação de máscaras de pano para tirar o sustento
Há cerca de 15 dias a população goiana teve a rotina completamente alterada por conta da pandemia de covid-19. Um decreto estadual proibiu, entre outras coisas, a abertura de comércios relacionados a serviços não essenciais à vida para evitar a proliferação do coronavírus, de modo a afetar o trabalho de milhares de autônomos que têm se virado como podem para enfrentar a crise, cujas repercussões financeiras já causam preocupações. Como alternativa, goianienses investiram na fabricação de máscaras de pano para reforçar o sustento e auxiliar na demanda do produto que está em falta e/ou com preço elevado nas farmácias.
Maria de Souza é costureira há mais de 25 anos e passa pelo pior cenário econômico que já viu. Em todos estes anos de profissão, essa foi a primeira vez que a mulher ficou sem nenhuma encomenda. Diante da falta de serviços habituais e necessidade de obter algum tipo de renda, a profissional precisou se reinventar. Após procurar máscaras cirúrgicas para se proteger e encontrá-las a R$ 50, R$ 60 e até R$ 75, a costureira decidiu fabricar o próprio item.
Inicialmente, a produção era destinada ao próprio uso, mas depois de perceber a eficácia do produto passou a produzi-lo para venda. E o investimento tem dado certo. Com a ajuda da família, Maria fabrica, todos os dias, aproximadamente 150 máscaras. “Vendo todas”, diz. De acordo com ela, os produtos passaram a sair ainda mais rapidamente após a recomendação do Ministério da Saúde para que todas as pessoas utilizem as máscaras para se prevenir.
“Tem sido uma loucura. Cheguei a ficar sem saber o que fazer porque não tinha de onde tirar meu sustento. Hoje a procura é tão grande que precisamos até dispensar algumas encomendas. Estamos conseguindo garantir os gastos básicos da família. Tudo o que sei fazer é costurar, essa é minha profissão”, afirma emocionada.
A costureira conta que comercializa as máscaras a R$ 5 cada e disse que optou por vender os itens por um preço mais em conta para que todos possam comprar. “Estamos passando por um momento complicado. Quem consegue pagar R$ 50 em uma máscara descartável como as farmácias têm cobrado? Não dá. Meu foco não é apenas a venda, mas o bem-estar das pessoas porque a saúde importa mais do que o dinheiro”.
Vendas e dicas
A artesã Madalena Gomes, de 54 anos, também encontrou na fabricação das máscaras uma alternativa de sobrevivência. Após ser diagnosticada com câncer em 2007, a mulher fez do artesanato sua profissão. De lá para cá, os itens produzidos por ela são a fonte de renda para o sustento. Assim como no caso de Maria, Madalena não conseguiu vender um produto sequer desde o início da quarentena.
Foi observando a crise e as orientações do ministro Luiz Henrique Mandetta que ela passou a fabricar e vender kits de máscaras de pano. A artesã produz praticamente tudo sozinha: corta o tecido, costura, arremata e separa os itens para a entrega. Ela conta apenas com a ajuda da filha e, juntas, produzem cerca de 40 máscaras por dia.
As vendas, segundo ela, têm sido ótimas. Para se ter ideia, a mulher já possui encomendas para entregar nos próximos 4 dias. A divulgação tem sido feita pela filha nas redes sociais, grupos de WhatsApp e entre amigos e membros da igreja que frequentam. Tudo isso virtualmente já que o objetivo é a proteção contra o coronavírus.
Além das vendas, Madalena também tem um projeto de doação das máscaras de pano a pessoas em situação de vulnerabilidade como moradores de rua, por exemplo. “A ideia da minha mãe é tirar o sustento, mas também ajudar as pessoas que não tem condição financeira de se proteger e já estão em uma situação vulnerável”, diz Emilly Miranda, filha da artesã.
Nas redes sociais, além de anunciar os produtos, Madalena dá dicas e orientações de como fazer a higienização das máscaras e de como a pessoa tem que se portar ao fazer o uso do equipamento ao sair na rua. “É um dos trabalhos mais importantes. São dicas de utilidade pública. Se as máscaras não forem manuseadas da forma correta a pessoa ainda poderá ser contaminada. Então minha mãe decidiu dar essas orientações baseadas no que o Ministério da Saúde determina”.
Na expectativa
Se por um lado as duas primeiras empreendedoras já se consolidaram no mercado e realizam inúmeras vendas, a auxiliar administrativo Selma Vieira Bessa vive a expectativa da primeira comercialização. Ela conta que, inicialmente, fabricou as máscaras para uso pessoal dela e da família.
“Todo mundo que viu disse que era bem-feita e me deu a ideia de vender. Comecei a divulgar no sábado (4), mas ainda não teve nenhuma saída”, disse. Ela explica que a produção é apenas uma forma de obter renda extra, já que possui emprego fixo. “O meu intuito é conseguir uma quantia a mais para ajudar em casa porque está bem complicado”.
As máscaras produzidas por Selma são de algodão ou TNT e os modelos são copiados da internet, seguindo as recomendações do Ministério da Saúde. Elas custam entre R$ 3 e R$ 5 mas o valor pode mudar diante da necessidade do cliente. “O meu foco principal não é o dinheiro, se aparecer alguém precisando posso vender mais barato ou até mesmo doar. A gente precisa se unir para vencer o que estamos passando. De pouco em pouco vamos conseguir”, afirmou.