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Goiânia 90 anos: “Viraram as costas para nós”, diz dono de banca de revistas no centro

Centro foi abandonado pelo poder público, desabafa seu Ermes Baleeiro

“As autoridades viraram as costas para o centro de Goiânia.” As palavras não são de um político que faz oposição à gestão municipal. A percepção de abandono é manifestada por inúmeros proprietários de estabelecimentos comerciais da região central da capital, que faz 90 anos nesta terça-feira (24). Há 41 anos, Ermes Fernandes Baleeiro adquiriu uma banca de revistas na Avenida Goiás, um dos pontos mais cobiçados no setor. “Isso aqui era diferente… Muito diferente”, diz pausadamente, como se estivesse respirando para voltar ao tempo.

“Aqui era uma avenida bonita. Toda arborizada. Dava gosto de andar. O comércio era muito atrativo”, destaca. A banca foi instalada em 1981. De lá para cá nunca saiu. Com o estabelecimento criou dois filhos. Por muito tempo teve o bairro também como morada. Hoje, vive no Parque das Laranjeiras. De segunda a sábado vai e volta para a casa de ônibus. Às vezes, utiliza o carro.

Até costumava abrir sua banca aos domingos, mas há algum tempo optou pelo descanso sagrado. “Não compensa mais. Teve uma época que compensou, mas hoje sábado após às 14h o centro morre. Não tem mais ninguém por aqui. Só mosca e usuários de drogas. A sensação de segurança não existe. Fica muito perigoso. Não me arrisco”, lamenta.

A construção do BRT Norte-Sul, que atravessa todo o Centro de Goiânia e liga os Terminais Veiga Jardim ao Recanto do Bosque nunca foi uma unanimidade entre os comerciantes da região central. O temor é que as obras pudessem afastar os clientes do polo e, consequentemente, o fechamento dos estabelecimentos. A esperança de alguns era de que o estrago pudesse ser recuperado com a entrega rápida da operação. 

Foto: Jucimar de Sousa | Mais Goiás

Baleeiro até acredita que o BRT Norte-Sul tem sua parcela de culpa. “Está demorando demais para ser entregue. Eu acho que essa obra estragou muito o centro”, lamenta. Mas ele responsabiliza o poder público como verdadeiro responsável pela degradação. “Tiraram as instituições do centro. Tiraram a prefeitura, a Assembleia Legislativa, os cartórios, o Ipasgo, tiraram tudo do centro… Esvaziou o centro”, lembra. 

Enquanto falava sobre o assunto, ele foi interrompido por um cliente que ouvia a entrevista. Ele lembrava que havia um debate para a Câmara dos Vereadores sair da sede onde ocupa atualmente na Avenida Independência. Baleeiro o responde. “Se isso acontecer, aí o centro morre mesmo”, crava.

O cliente não estava ali para comprar revistas. Ao contrário, volta e meia passa ali para prosear com o senhor Ermes. Ele comprou uma latinha de refrigerante. “A gente tem que inovar né? Colocar um pouco de cada coisa. Eu faço hoje impressão, xerox, consulta de Serasa, SitPass, Área Azul. Também vendo essas bebidas. Vira um mini-empório, senão não sobrevive. Vendo até uns bonés, olha aí”, direciona o olhar para uns itens de vestuário. 

Para ele, a revitalização proposta pela prefeitura de Goiânia é um fator positivo, mas apenas ela não resolve. “Tem que ter uma isenção grande de IPTU, dar incentivo aos comerciantes, diminuir os impostos. Tirar por, pelo menos, uns dois anos. O pessoal precisa voltar pro centro”, sugere. “Os donos de imóveis tem que baixar os alugueis. Ninguém dá conta de pagar os aluguéis daqui do centro. É tudo R$ 5, R$ 7 mil… Não tem quem consiga pagar”, atesta.

Dados do Instituto Verificador de Comunicação mostram que só em 2021 a circulação impressa de revistas teve uma redução de 21%. Baleeiro não sabe mensurar em números a queda de sua banca, mas conta na prática sua experiência cotidiana. “As pessoas estão lendo menos. É irônico, mas quase não sai revista na minha banca”, diz em meio a um sorriso tímido. “A que mais sai é a Veja. A dessa semana até esgotou, mas vem bem menos do que vinha no passado”, diz.

Ele também coloca conteúdos especializados como a Revista Quatro Rodas entre os que tem boa saída. “Mas é bem menos do que em outras épocas. A maioria das revistas que vem para cá, a gente troca pelas novas no fim do mês. Tá cada vez vindo menos…”, salienta.

A realidade é a mesma para os jornais diários. “As vendas caíram absurdamente. O Popular, Diário da Manhã… Não tem a mesma saída do que há dez anos atrás. Até vende, né? Mas não tem nem comparação. Vou te falar, o Jornal Daqui até vende mais, mas tem o brinde que digamos que é um incentivo, né”, pontua.

Mas atualmente, há um carro-chefe que é o líder das vendas. “O que mais sai das revistas são as palavras-cruzadas… Sai bastante, precisa de escrever, as pessoas gostam de fazer com caneta. Pela internet fica mais difícil fazer isso, né?”, destaca com uma risada tímida ao rosto. 

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