RECOMEÇO

Goiânia comemora 88 anos em clima de retomada econômica

Após mais de um ano em crise econômica e sanitária, cidade dá primeiros passos para a retomada comercial

Goiânia comemora, neste domingo, 88 anos. Após mais de um ano em crise econômica em razão da Covid, a cidade vive a retomada comercial. (Fotos: Jucimar de Sousa/Mais Goiás)

A cidade de Goiânia comemora, neste domingo (24), 88 anos. Após mais de um ano em crise econômica e sanitária em razão da pandemia da Covid-19, a cidade dá sinais que apontam a retomada comercial ainda no contexto do “novo normal”. Estabelecimentos que ficaram total ou parcialmente fechados agora reabrem quase que completamente sob protocolos de segurança em saúde e dão esperança a empresários que tiveram a renda comprometida.

Segundo dados da Junta Comercial do Estado de Goiás (Juceg), Goiânia é o município que mais atrai investimentos no território goiano. Atualmente, a cidade tem 283 mil empresas ativas, incluindo os microempreendedores individuais, os chamados MEIs. Os números na cidade refletem ao restante do Estado. Goiás, puxado pela capital, superou o montante de 25,9 mil CNPJs abertos entre janeiro e setembro de 2021.

Este cenário de esperança ao empresariado, no entanto, nem sempre foi assim. O ano de 2020 foi um verdadeiro caos para estabelecimentos de Goiânia e outros municípios goianos. No ano passado, 9,6 mil empresas encerraram as atividades em Goiás.  Quem conseguiu manter as portas abertas precisou inovar e apostar na internet como forma de sobrevivência, assim como três empresários entrevistados pelo Mais Goiás, que contaram os momentos de dificuldade e alívio nos períodos mais críticos e brandos da doença na cidade.

Da crise à retomada: Comércio tem o que celebrar no aniversário de Goiânia

Rafael Mendonça, um dos donos do Caserato Bar e Restaurante, conta que a crise causada pela pandemia foi a pior já vivida em cinco anos da empresa. Conforme expõe o proprietário, o local vinha de um bom período quando foi tomado por um ‘balde de água fria’ em razão do fechamento do comércio não essencial por cerca de cinco meses, medida adotada para evitar a proliferação da Covid, em março do ano passado.

“Tivemos muito prejuízo. Achamos que seria algo em torno de 30, 45 dias. Os meses foram passando e os bares continuaram fechados. Nosso caixa foi embora porque as despesas não pararam. Tivemos que dispensar funcionários. A migração para o delivery foi o que nos salvou”, relembrou.

(Rafael Dâmaso Mendonça (de branco) e Tales Garcia Araújo, donos do Caseratto. Foto: Jucimar de Sousa/Mais Goiás)

O empresário relata que, mesmo com bom relacionamento com bancos, não conseguiu fazer empréstimos com o CNPJ do estabelecimento. Por conta disso, precisou fazer acordo e dispensar cerca de 20 funcionários. Todos eles aceitaram parcelamento, já que o bar não possuía condições financeiras para pagar todos de uma vez.

De acordo com Rafael, a ‘salvação’ veio com auxílio emergencial destinado à classe de bares e restaurantes, bem como empréstimos pessoais. Para quitar as dívidas, o estabelecimento também precisou inovar. A aposta foi a inserção da modalidade delivery na rotina de trabalho do local.

“Foi assim que geramos renda ao menos para pagar as contas. O período foi extremamente complicado. Hoje, dada a importância do delivery, é algo que não temos a intenção de tirar. Já faz parte do faturamento”, disse ao comentar que este foi o único lado positivo da crise, pois até então o comércio não tinha esse tipo de serviço.

Retomada comercial com restrições: a luz no fim do túnel

Depois de mais de cinco meses – entre março e julho de 2020 – funcionando apenas com entregas, o bar voltou a receber o público, mas com apenas 30% da capacidade do local. “Tivemos autorização para abrir, mas com restrições. Havia horário reduzido de funcionamento, mesas com limitações de clientes e uma série de outras medidas”, ressaltou Rafael.

Ainda segundo ele, as restrições atrapalharam o desenvolvimento do estabelecimento, mas as liberações foram vistas como “luz no fim do túnel”. Nos últimos dois meses, após Goiânia avançar na vacinação contra Covid e estabilizar o número de contágio, surgiram novas flexibilizações quanto ao horário e quantidade de clientes em empreendimentos do ramo.

(Rafael Dâmaso Mendonça (de branco) e Tales Garcia Araújo, donos do Caserato) Foto: Jucimar de Sousa/Mais Goiás)

O empresário relata que, com a nova movimentação, foi possível recontratar parte dos 20 funcionários demitidos no ano passado. “Já voltamos com 90% do quadro de funcionários pré-pandemia. O movimento não é o mesmo de antes da pandemia, mas melhorou bastante. “Nossa expectativa é que, com o prosseguimento da vacinação, a cidade continue nessa fase de melhorias e as restrições fiquem cada vez menores”, disse esperançoso.

Retorno das atividades e a volta das ofertas de emprego em Goiânia

De acordo com dados do Sindicato dos Empregados no Comércio Hoteleiro do Estado de Goiás (SECHSEG), cerca de 12 mil pessoas ficaram desempregadas no segmento de bares, hotéis e restaurantes durante a pandemia na capital.

Apesar do alto número de dispensa, Danillo Mendes, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Seccional Goiás (Abrasel-GO) ressalta que o momento atual é de contratação e reposição de vagas no setor. “O que percebemos é uma procura em massa por mão-de-obra não só na capital, mas em todo o estado e também no Brasil”, disse.

Para se ter ideia, um feirão realizado no último mês de setembro ofereceu cerca de mil vagas para contratação imediata de profissionais com ou sem experiência. Em agosto, puxado por Goiânia, o estado bateu recorde na geração de empregos: foram 11.667 trabalhos com carteiras de trabalho assinadas contra 6.914 no saldo de agosto de 2020.

Segundo Danillo, com o cenário de flexibilização e vacinação, as pessoas adquiriram mais confiança para irem a bares e restaurantes. “Estamos entrando em um período de flexibilização. Com a vacinação, a disseminação do coronavírus tem reduzido. Ainda temos restrições, mas são mais brandas. Em breve nem mesmo essas restrições existirão. Isso tudo influencia na retomada, e, consequentemente, na geração de empregos”.

As viagens ficam de lado

Assim como bares e restaurantes, o ramo do Turismo foi bastante prejudicado no estado. Weverton Tavares de Paula, de 29 anos, tem uma agência de viagens desde 2009, em Goiânia. A proposta inicial era de realizar excursões em Goiás. No entanto, a demanda por outros destinos cresceu e o negócio foi se expandindo.

Em março de 2020 todos os planos mudaram. O empresário precisou fechar o local por conta de decretos que restringiam as atividades comerciais. Desde então, não retornou mais à loja física e fez do virtual seu novo ambiente de trabalho. “Estávamos no auge, já tínhamos frota de ônibus própria. As viagens estavam em alta. Foi tudo muito desesperador quando tivemos que parar com tudo”.

(Foto: Jucimar de Sousa/Mais Goiás)

Ele conta que toda a equipe de trabalho precisou ser dispensada nos meses de fechamento total do comércio. “Nós trabalhávamos com esquema de diarista com motoristas e guias. Se tem viagem, tem trabalho e tem pagamento. Sem as viagens ficou impossível de efetuar qualquer pagamento”.

O homem cita que 20 dias após o decreto de 17 de março de 2020, se isolou do mundo e passou a ficar depressivo com tantas notícias ruins. “Pensamos que seria rápido, mas fomos vendo aquilo tomar uma proporção gigantesca. Foi desesperador”, lamentou.

Weverthon diz que com a suspensão das viagens muitos companheiros da categoria precisaram desmanchar os ônibus para conseguirem dinheiro para comer. “Foi um período difícil até para a venda de veículos. Ninguém queria comprar. Alguns colegas chegaram a vender os pneus e as peças dos ônibus para ter o que comer”

Turismo volta a caminhar

Segundo o empresário, a retomada das viagens foi gradual. Ele lembra que ficou cerca de cinco meses sem organizar uma excursão sequer. A volta da agência de turismo ocorreu em agosto de 2020. O destino? Caldas Novas.

“Em julho de 2020, Caldas Novas publicou decreto ‘abrindo’ a cidade de novo aos turistas. Fizemos uma excursão para lá. Até que tivemos muitas pessoas, claro respeitando a quantidade máxima permitida. Muitas outras me falaram que iriam esperar a vacina”, comentou.

Weverthon afirma que a retomada ocorreu de forma gradual, de acordo com as determinações de cada cidade. Desde setembro, ele vê o fluxo aumentar consideravelmente. “Passamos a viajar com todas as vagas preenchidas. Para o mês de outubro, por exemplo, todas já estão esgotadas.

(Foto: Jucimar de Sousa/Mais Goiás)

De acordo com ele, o avanço da vacinação e ânsia por viver após longo período de restrições são os principais responsáveis por todo o movimento. “Tivemos que voltar com o dobro da equipe que estava antes da pandemia. As pessoas estão procurando viagens a todo tempo, acho que como uma forma de recuperar o tempo perdido.

O homem diz que o novo cenário requer cuidados especiais, principalmente no quesito higienização. “A gente toma um cuidado maior. Os passageiros ficam todos de máscara. Há álcool gel nos veículos e higienização a cada viagem, detalhou.

Questionado sobre previsões para o futuro, ele afirma: “nossa expectativa é de dias melhores. Que a gente continue fazendo um trabalho com segurança e respeito às restrições, vivendo nosso ‘novo normal’”

De volta aos treinos

Outra empresária que teve a vida modificada pela pandemia foi a personal trainer Ana Angélica. Em março de 2020, assim que a pandemia chegou a Goiânia, ela trabalhava em uma academia da capital. “De manhã, dava aula como personal e à tarde/noite instruía alunos na academia”, disse.

Quando os estabelecimentos foram fechados com o primeiro decreto governamental nº 9.637, de 17 de março de 2020, a profissional entrou em desespero. Porém, ela precisou inovar. Comprou equipamentos e passou a dar aulas nas residências dos alunos. Depois, para dar maior agilidade nos atendimentos, passou a fazer uma espécie de “aulão” em praças da região Noroeste.

(Ana Angélica, personal trainer. Foto: Jucimar de Sousa/Mais Goiás)

No final daquele ano, porém, outro problema surgiu: o período chuvoso. “Como as aulas eram ao ar livre, a chuva acabava atrapalhando. Foi aí que passei a ter a ideia de montar o studio. Ainda levei alguns meses para concretizar o objetivo. Em julho de 2021, a realização do sonho deu certo”, contou.

A mulher afirma que perdeu alguns alunos durante a pandemia. “Uns não quiseram treinar em casa, outros estavam com medo. Até a chegada das vacinas a insegurança era tremenda”.

No estúdio, já com as flexibilizações e cenário estável da Covid em Goiânia, Ana Angélica viu os atendimentos aumentaram em grande escala. “A melhora é perceptível e a gente espera que continue, claro. Espero que o coronavírus fique cada vez mais longe e que as pessoas continuem tomando os cuidados para voltarmos a viver como antes. É só o início de um bom momento”, pontuou.

Ana Angélica, personal trainer. Foto: Jucimar de Sousa/Mais Goiás