Goiano sofre golpe, é confundido com bandido e tem nome em 32 BOs pelo Brasil
O goiano Iago Pereira da Silva nunca esteve em Brasília, nem sequer conhece a capital…
O goiano Iago Pereira da Silva nunca esteve em Brasília, nem sequer conhece a capital do Brasil. Mas existem 32 boletins de ocorrências e inquéritos policiais nas delegacias de todo o país, em que vítimas de golpes citam o nome dele como um estelionatário, um golpista. A maioria destes BOs está em delegacias do Distrito Federal.
Porém, o que a maioria dessas vítimas não sabe é que Iago também é vítima, caiu num golpe recorrente e comum: o de ter toda a documentação pessoal extraviada e clonada.
Vendedor num shopping de Goiânia, 27 anos, casado, Iago Pereira hoje enfrenta ameaças diárias de terceiros, como a do penúltimo domingo, dia 10/10, quando dois homens foram a casa da mãe do rapaz e disseram a ela que o pegariam.
“Ontem minha mãe estava em casa e dois homens foram na casa dela dizendo que eu tinha passado cheques sem fundo”, relata.
Ao procurar a polícia, em Goiás, para prestar novo boletim de ocorrência, Iago ouviu um ‘conselho’ , no mínimo, inusitado:
“Fui à delegacia e a polícia me disse que isso está acontecendo muito. Fiquei de mãos atadas. Olha o ‘conselho’ que o policial me deu: ‘Não ir mais à casa da minha mãe e, quando eu for lá, entrar com o vidro do carro fechado, porque é perigoso, uma pessoa uma hora pode me pegar, pensando que eu sou um estelionatário’”.
O rapaz não sabe nem quem são os tais dois homens. Se são aqueles responsáveis pelo extraio da documentação em busca de novas informações pessoais dele; ou se são vítimas desesperadas sedentas por justiça com as próprias mãos.
Goiano confundido com bandido é ameaçado nas redes sociais
“Eu nunca fui em Brasília, não tenho nada com os golpes que dão aí. Ano passado, infelizmente, eles (os golpistas) começaram, já abriram diversas contas em lojas com o meu nome. Mas, de uns tempo para cá existem ameças, tem se intensificado, as vítimas dos golpes estão vindo ao meu Instagram me ameaçar, estou pagando por uma coisa que não fui eu que fiz”, esclarece.
E continua: “Eu até processei a Claro por terem vendido aparelhos telefônicos com documentos falsificados”.
Ele conta que está com um processo de mudança de CPF na Receita Federal, porque não consegue fazer nada utilizando o próprio CPF ou o nome dele.
“Tudo o que eu tenho eles (golpistas) dão um jeito de clonar meus dados, eu já não sei mais o que fazer. Eu tinha uma empresa, eu tive que excluir o CNPJ”, relata. Mas, mudar de CPF não é assim tão fácil, um processo na Receita Federal demanda tempo.
Golpe após anúncio na OLX
O sofrimento do rapaz começou há dois anos, em janeiro de 2019, quando comprou um celular pela OLX, de um anunciante de Brasília. O anunciante, suposto dono de um aparelho celular, solicitava um depósito antecipado.
E somente entregaria o aparelho mediante este depósito. Iago depositou. Isso faz quase dois anos e está no primeiro boletim de ocorrência que ele fez. De lá pra cá, ele não tem paz.
Boa vontade da polícia e ordem judicial
O advogado Matheus Soares de Castro, que cuida do caso, lamenta a morosidade das autoridades policiais em solucionar a questão.
“Estou dependendo da boa vontade de um delegado, de juntar todos esses inquéritos e de anular esses processos. Até porque teve um processo que já foi parar no TJDF. Felizmente este foi anulado. Mas a qualquer momento pode existir uma ordem de prisão para Iago que precisará, claro, ser cumprida, porque é a palavra da Justiça, mesmo Iago sendo inocente”.
E continua: “Tem inquéritos policiais até de Tocantins e da Bahia. A maioria, porém, é de Brasília”.
Entenda o golpe
O golpe funciona da seguinte maneira. Alguém anuncia um produto qualquer, um celular, por exemplo, em sites de vendas como a OLX ou o Mercado Livre. A quadrilha de criminosos procura o anunciante e mostra interesse em comprar e manda fotos clonadas, se passando por outra pessoa.
No caso de Iago, os criminosos se passaram por ele, mandaram fotos e dados dele para terceiros. A pessoa acredita nos golpistas. Os golpistas realizam um depósito no caixa-eletrônico com envelope vazio e passam o comprovante para o anunciante. O anunciante do produto envia o produto para a quadrilha.
*Por Paula Coutinho, do Mais Brasília