Goiás teve 5,2 mil registros de agressões a mulheres nos seis primeiros meses de 2021
O número é cerca de 3% maior do que o registrado no primeiro semestre do ano passado, com 5.092 crimes de lesão corporal
O estado de Goiás teve, somente nos seis primeiros meses de 2021, mais de 5,2 mil registros de agressões a mulheres. O número é cerca de 3% maior do que o registrado no primeiro semestre do ano passado, com 5.092 crimes de lesão corporal. Casos de violência doméstica como o da jornalista e apresentadora Silvye Alves, no último mês de junho, e de Pamella Holanda, ex-mulher do DJ Ivis, engrossam a estatística e reforçam a insegurança das mulheres não só no território goiano, mas em todo o país.
A violência física, moral e psicológica, juntamente com o feminicídio, ainda assombram as mulheres goianas. O ‘boom‘ de casos de violência doméstica dá indícios do tamanho da problemática.
Conforme dados da Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), somente no mês de janeiro de 2021, 995 mulheres foram vítimas de lesão corporal. Os índices de agressão também foram altos nos demais meses do 1º semestre do ano: foram 784 registros em fevereiro; 786 em março e 872 em abril. Maio e junho registraram 984 e 817 crimes deste tipo, respectivamente.
Um dos casos que compõem a triste estatística ocorreu no final de junho, contra a jornalista Silvye Alves, agredida pelo ex-namorado, na frente do filho dela, uma criança de 11 anos. Um dia depois do crime, a Justiça mandou soltar o agressor, o empresário Ricardo Hilgenstieler.
Feminicídio e outros crimes
Os dados acerca do feminicídio no Estado também não são animadores. Até agora, 22 mulheres tiveram a vida ceifada em 2021. A maioria dos supostos autores são companheiros e ex-companheiros que não aceitaram o término do relacionamento.
Durante o primeiro semestre do ano, o território goiano também registrou 119 casos de estupro, 7.822 de ameaça e 5.035 crimes contra a honra, como calúnia, difamação e injúria.
Machismo enraizado
Em declaração dada ao Mais Goiás, Carla Monteiro, diretora do Centro de Valorização da Mulher, o Cevam, afirmou que a violência doméstica revela o machismo instaurado e perpetuado na sociedade brasileira. Segundo ela, a violência tem traço forte na questão cultural e construção histórica de uma estrutura baseada em ideias deturpadas sobre as relações entre homem e mulher, em que há uma crença de soberania masculina e submissão feminina.
Conforme Monteiro, o problema da violência doméstica remonta ao Brasil Colônia e à falta histórica de direitos das mulheres. “Essa problemática não é de hoje. Constitucionalmente, a mulher só adquiriu cérebro e alma há 32 anos, quando conseguiu ser considerada um ser vivente, com CPF e direito ao voto. Antes, éramos vistas como propriedade e só podíamos andar na rua ao lado do marido ou com uma autorização por escrito”, explicou.
A psicóloga Vera Morselli, especialista em família e casal, coaduna com Carla Monteiro. Para a profissional, o cerne da problemática está relacionado a uma cultura formada há séculos, que cria homens para serem detentores do poder e mulheres para obedecer. “É uma estrutura enraizada. Os homens não conseguem lidar com a independência das mulheres. Não conseguir ouvir “não” e respostas negativas”, afirmou.