VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Grávida usada como escudo pelo companheiro relutava em encerrar relação: “queria um pai para minha filha”

Após vizinhos denunciarem, homem fez gestante como escudo para resistir à prisão

Vítima de violência doméstica, em Goiânia, gestante não queria que filha nascesse em pai (Foto: Pixabay)

A grávida que foi usada como escudo pelo companheiro no momento em que ele resistia à prisão no último dia 24, em Goiânia, disse, em entrevista ao Mais Goiás nesta quarta, que já havia sido agredida por ele outras vezes, mas que não deu fim ao relacionamento porque não queria que a filha nascesse sem pai.

“Minha gravidez é de risco, tive descolamento trofoblasto no primeiro trimestre e sangramento. Fiquei sem poder trabalhar e ele começou a me humilhar, a reclamar de pagar as contas, o aluguel e até os remédios que o médico pedia”, conta a mulher, que tem 32 anos e é terapeuta.

A gestante diz que não queria que a filha nascesse sem ter um pai e, por isso, mantinha o vínculo afetivo. O homem já tem cinco filhos de um outro relacionamento.

O início de tudo

O casal se conheceu no início de 2022 durante um evento em que trabalharam juntos. De acordo com a vítima, o companheiro fazia tudo por ela, mas depois de um tempo as ofensas começaram. Apesar de demonstrar apoio profissional à mulher no início do relacionamento, ela teve que abandonar tudo o que amava aos poucos.

A terapeuta, que também atuava como assessora de moda, conta que teve que fechar a loja onde trabalhava porque o homem não permitia que ela comparecesse aos eventos, apesar de a ter conhecido nesse meio. “Eu sempre fui bem sucedida em tudo e estava aceitando uma pessoa me diminuir desse jeito”.

Denúncia

A primeira denúncia ocorreu em abril deste ano no apartamento onde o casal morava de aluguel. Conforme a ocorrência, o suspeito danificou uma das portas de entrada da residência e a porta do banheiro. O casal teria se desentendido após o homem sair para beber e ter retornado de madrugada para casa.

Após o companheiro ter sido preso por agredir a gestante e danificar o imóvel onde moravam de aluguel, a mulher fez um pedido de medida protetiva. No entanto, após uma ligação da mãe do homem dizendo que estava sofrendo com a situação, a mulher decidiu ir à delegacia e solicitou a retirada da ordem judicial.

A segunda denúncia aconteceu na véspera de Natal (24). O homem teria saído para beber na casa de um amigo, mas teria ficado violento ao voltar para casa. A Polícia Militar foi acionada por vizinhos que escutaram o suspeito ameaçando e jogando eletrodomésticos contra a mulher.

Durante a abordagem, o homem fez a gestante como escudo para resistir à prisão. Além disso, ele teria sentado na barriga da mulher e jogado uma televisão contra os militares. O indivíduo foi autuado por ameaça, dano, resistência a abordagem e lesão corporal praticada. O homem, de 37 anos, foi solto sob o uso de uma tornozeleira eletrônica.

A identidade do indivíduo não foi divulgada e, por isso, não foi possível localizar a defesa dele.

Próxima etapa

Grávida de sete meses, a mulher disse que pretende comprar o enxoval da filha, e se cuidar para que a criança não nasça prematura. “Vou voltar a trabalhar como terapeuta e reabrir a minha loja que fechei desde que comecei a me relacionar com ele”.

Existem canais específicos para denunciar casos de violência contra a mulher. A Plataforma da Mulher Segura, do Governo Federal, disponibiliza o serviço de telefone 24 horas, todos os dias da semana, em qualquer local do Brasil e em mais de 16 países. Para violência contra mulheres, Ligue 180.