Crise na saúde

Greve no Hugo pode paralisar 70% do hospital na próxima quarta (16)

Trabalhadores não aceitaram proposta da OS e exigem pagamento dos salários atrasados

Trabalhadores do Hospital de Urgências de Goiânia – Hugo ameaçam entrar em greve caso salários atrasados não sejam pagos até a próxima quarta (16). A decisão foi tomada em assembleia geral realizada nesta segunda (14) nas dependências do hospital.

Os funcionários reclamam de atrasos nos proventos de dezembro e da segunda parcela do 13º de 2018. Além disso, reivindicam o repasse das férias e da primeira parcela do 13º de alguns trabalhadores, bem como o cumprimento de acordo coletivo e de condições de salário e assistência.

Júlio Cesar Gonçalves da Silva é técnico de enfermagem e funcionário hospital desde 2013. Ele afirmou que a decisão foi tomada após uma reunião com diretores do Instituto Haver, Organização Social – OS que administra o Hugo.

“Eles fizeram a proposta de quitar somente os salários dos trabalhadores que ganham até R$ 2 mil. Afirmaram ter recebido uma verba, mas que ela não era suficiente para pagar tudo”, disse Júlio César.

A proposta da OS não agradou os trabalhadores. “Marcamos uma assembleia para quarta (16) com indicativo de greve. Se os atrasados não forem pagos, iremos paralisar 70% das atividades no Hugo”, ressaltou.

OS notificada

O Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás – Sindsaúde/GO esteve presente na movimentação dos funcionários e encaminhou uma notificação nesta terça-feira (15) para o Instituto Haver. No documento, eles comunicam as reinvindicações e as pautas dos trabalhadores.

SindSaúde/GO notifica OS Instituto Haver sobre indicativo de greve no Hugo. (Foto: Divulgação / SindSaúde/GO)

“Receber o salário integral na data correta é o mínimo que se espera em uma relação trabalhista”, alertou a presidente do sindicato, Flaviana Alves. “Esperamos que a regularização do pagamento seja feita o quanto antes e que as reivindicações quanto às demais demandas também sejam prontamente atendidas”, concluiu.

Em nota, o Instituto Haver afirmou que “tão logo os créditos sejam liberados na conta da instituição, procederá o pagamento dos salários de dezembro do Hugo”.

Problemas recorrentes

Os problemas com atrasos de salários no Hugo vem desde 2018, com a falta de repasses do governo do estado. Em novembro a Secretaria da Saúde de Goiás (SES-GO) definiu uma nova OS para administrar o Hugo. O Instituto Gerir, responsável até então, encerrou as atividades de gerência no dia 26 do mesmo mês. Desde então, a responsabilidade pelo hospital passou para o Instituto Haver.

A mudança de gerência se deu porque o Instituto Gerir solicitou a rescisão do contrato. A OS afirmou que os motivos foram os “atrasos recorrentes de pagamento e déficits constantes, que resultam em falta de recursos materiais e humanos para que a organização social continue prestando o trabalho de excelência desenvolvido nas duas unidades”.

A mudança na gestão, entretanto, não resolveu a questão. No dia 9 de janeiro os trabalhadores realizaram uma manifestação e bloquearam a Avenida 1ª Radial por uma hora. Os funcionários protestavam contra o atraso de salários, a falta de pagamento de férias e de 13º.

Trabalhadores do Hugo bloqueiam Av. 1ª Radial em protesto contra atraso de salários no dia 9 de janeiro. (Foto: Reprodução)

Na ocasião, a SES informou que “iniciou o Governo de Goiás com dívida de R$ 720 milhões na área da Saúde”. A secretaria afirmou ainda que o secretário da pasta, Ismael Alexandrino, se reuniu com os representantes das OSs. No encontro ficou acertado que não haveria paralisação das atividades. Em contrapartida, a atual gestão se comprometeu em manter os repasses.

Em nota, a SES informou agora que o realizou o repasse de R$ 37,5 milhões às Organizações Sociais que administram 19 unidades hospitalares nesta terça-feira (15) e que até o fim da semana outros R$ 12,5 milhões serão pagos a fornecedores de medicamentos.

 

Confira a nota completa encaminhada pela Secretaria de Saúde:

Saúde repassa R$ 50 milhões e vai focar na regionalização e regulação

R$ 37,5 milhões foram destinados proporcionalmente aos contratos de 19 unidades; até o fim da semana, mais R$ 12,5 mi serão pagos aos fornecedores de medicamentos.

O secretário de Estado da Saúde de Goiás, Ismael Alexandrino, anunciou o primeiro repasse de sua gestão às Organizações Sociais que administram 19 unidades hospitalares. Os recursos, liberados na tarde de terça-feira, 15, somam R$ 37,5 milhões e foram divididos proporcionalmente às especificidades de cada contrato. “Com esse primeiro repasse, demonstramos o trato que teremos em nossa gestão com as OSs, que será de total transparência e exigência de excelência no atendimento”, explicou o secretário. Até o fim da semana, outros R$ 12,5 milhões serão pagos a fornecedores de medicamentos.

A regularização dos repasses é uma das prioridades de Ismael Alexandrino, que herdou um passivo de cerca de R$ 700 milhões na pasta da Saúde. “Assumir uma pasta com mais de meio bilhão de reais em dívidas é um grande desafio, mas não costumo fazer gestão olhando pelo retrovisor. Nossas prioridades serão organizar muito bem os hospitais existentes, para atendimento qualificado e de fácil acesso”, adiantou.

São também pontos cruciais da administração de Ismael Alexandrino, a regulação de vagas do Sistema Único de Saúde (SUS) e a regionalização. “Com a regulação de vagas, vamos atender aos princípios da equidade e universalidade”, explicou.

Regulação

Sobre regulação, o secretário a entende como um instrumento de fortalecimento da vocação de cada região e uma solução para o drama de pacientes que precisam viajar até mais de 500 km para conseguir um atendimento. “Isso ocorre principalmente com moradores das regiões do nordeste e do Entorno sul do Estado, que têm vazio assistencial muito grande”, afirma.

“Por isso, a regionalização será uma de nossas prioridades que, com certeza, vamos realizar”, garantiu, para citar um dos passos rumo a esse objetivo: “Estamos mapeando estrategicamente as cidades que têm estrutura e vontade política para atuarmos na regionalização da saúde. Nas próximas semanas, vou visitar alguns municípios.”

Dessa forma, acredita o secretário, a Saúde de Goiás contribui para a construção de uma nova gestão da saúde. “O Brasil precisa de uma nova era, e a gestão pública precisa se profissionalizar, aproximar do usuário e atender a demanda do usuário. Certamente estamos entrando em nova era de gestão”, analisa.

*Notícia atualizada às 14h04 do dia 16/01/2019