Grevistas do iFood tentam impedir entregadores que querem trabalhar em Goiânia, diz empresário
Movimento grevista diz que é contra e não apoia intervenções baseadas na agressividade
Motociclistas que promovem paralisação por melhores condições de trabalho no aplicativo de entregas iFood em Goiânia e região metropolitana querem impedir de trabalhar aqueles que não aderiram à greve. A informação é de um empresário que o Mais Goiás chamará de “João”, de modo a proteger sua identidade. João, que possui uma empresa de logística com equipe de entrega de 52 profissionais, diz que seus colaboradores foram ameaçados nas portas de restaurantes para não missões atribuídas pelo iFood.
“Eu atendo toda Goiânia e Aparecida. Já recebi mais de 40 relatos de ameaças, inclusive com arma”, afirma João. “Não sou contra a greve, eles têm esse direito. Mas não podem impedir aqueles que querem trabalhar. Isso é crime”, relata. O empresário explica que quando algum membro da equipe chega a um restaurante, já há um dos grevistas para impedi-lo. “Aí nós ficamos no prejuízo. A empresa, os motoqueiros e os restaurantes…”
Segundo ele, parte da equipe ainda tenta trabalhar. “Minha equipe continua parcialmente na rua. Aqueles que não se sentiram ameaçados ainda tentam trabalhar.” Segundo apurado, terão novos atos do tipo no período noturno.
Sobre a manifestação, a categoria, que realizou uma motociata nesta sexta (11), diz que reivindica melhores taxas, fim da priorização de entregadores fixos, revisão de contas bloqueadas de forma indevida, além de pontos de distribuição de máscara facial e ambientes para carregar os aparelhos celulares e usar banheiros. A organização diz não ter conhecimento de ameaças e afirma que a manifestação é pacífica e que ninguém está impedido de trabalhar.
Resposta de um representante
Miguel Veloso, um dos representantes do ato, disse que não tem notícias de nenhum tipo de ameaça. Segundo ele, se isto ocorreu é de um grupo pequeno e fora da organização. “Se alguém ameaçou, pode ser alguém que quer prejudicar a manifestação. A manifestação é pacífica”, garante.
De acordo com ele, o que existe é um “breque”. “Não há impedimento para quem quiser trabalhar. A manifestação não vai parar hoje, só quando tivermos uma resposta [do App]. O que temos são algumas equipes que foram até os locais da cidade para conscientizar e informar aqueles que não sabem do ato. Mas não há nada pela força.”
E completa: “Se isso acontecer, não compactuamos. A manifestação é pacífica, sem danos materiais ou físicos.”
Antes da conclusão da matéria, ele ligou para o Mais Goiás para reforçar que a Polícia Militar (PM) também acompanha o ato. Ele afirma, ainda, que passou em todos os pontos que a equipe da organização está e não verificou nenhuma ação deste tipo. “Nossa intervenção é pedagógica.”
Empresas terceirizadas priorizam entregadores fixos e prejudicam entregadores “nuvem”
De acordo com os organizadores da paralisação, os entregadores são divididos em dois grupos: entregadores fixos na plataforma (Operadores Logísticos) que possuem horário estabelecido pelo Ifood para iniciar e finalizar o trabalho e os entregadores denominados “nuvem”, que trabalham de acordo com horário estabelecido por eles mesmos.
“Os entregadores fixos tem uma espécie de ‘contrato’ com empresas terceirizadas que fornecem entregadores, as chamadas Operadoras Logísticas (OL). Com a saída da Uber, outras duas operadoras entraram para o Ifood e cada uma opera com cerca de 150 a 200 entregadores. Isso prejudicou os ‘nuvem’ porque o aplicativo só manda corrida para os entregares fixos e deixam os outros sem entrega, os ganhos caíram em torno de 50% para os nuvem, sendo que todos nós cumprimos o mesmo papel”, diz um representante dos entregadores.
Os Operadores Logísticos atuam em regiões de alta demanda de entregas, essas regiões são chamadas Sub Praças e são exclusivas para entregadores fixos, ou seja, eles são priorizados para atender aos pedidos. “Em último caso, quando o aplicativo percebe que o pedido está muito atrasado, é que ele aciona os nuvem que está logado há bastante tempo. Nós não queremos essa divisão, todo mundo é entregar, tem família para sustentar e despesas para pagar e o aplicativo vem sacaneando esse grupo com isso. O que queremos é trabalhar, queremos que a mesma quantidade de pedidos que toca para os fixos, toque para nós”, explica o entregador.
De acordo com Marcione Luiz Araújo Silva, conhecido como “Ferrugem” e um dos organizadores, a capital tem mais de 2 mil entregadores. Destes, 75% são nuvem. “Desde dezembro deram prioridade para os Operadores Logísticos nas seguintes áreas: Marista, Bueno, Oeste, Jardim Goiás, Centro, Jardim América e Parque Amazonas. A pauta, então, é derrubar essa prioridade.”
Fraudes de clientes fazem com que entregadores sejam bloqueados no Ifood de forma indevida
De acordo com a categoria, destinar pedidos em atraso aos entregadores gera outro problema: reclamações de clientes que podem causar o bloqueio de contas dos entregadores sem que eles sejam ouvidos ou tenham possibilidade de se pronunciar sobre qualquer denúncia contra eles.
Após receber e consumir o pedido, o solicitante realiza uma denúncia para o aplicativo com a alegação de que o pedido não foi entregue. O app estorna o valor para o cliente e bloqueia o entregador.
Taxa pagas aos entregadores não cobrem gastos, diz categoria
Outra reivindicação dos entregadores são as taxas pagas pela plataforma que atualmente é de R$5,35 por entrega. A categoria afirma que o valor não cobre os gastos com gasolina, revisões e conceitos de suas motocicletas. Além disso, as entregas por aplicativo é a única fonte de rende de muitos entregadores e com a atual taxa, fica cada vez mais difícil levar o sustento para a família.
“A gente que trabalha com aplicativo só quer ser valorizado e ter taxas justas”, conclui o representante dos entregadores do Ifood em Goiânia.
Nota completa:
“Sobre as desativações de conta e reajustes, o IFood esclarece que está em andamento a avaliação com prazo até março de 2022 para:
– dar mais transparência sobre desativações de conta;
– revisões das contestações sobre desativações mais humanizadas, exceto em situações de fraude financeira;
– uso de conta por terceiros e fraude de cadastro, que configuram desativação permanente de acordo com os termos e condições;
– e avaliar a possibilidade de reajuste anual das tarifas e ganhos..
Vale destacar que algumas medidas já adotadas também partiram dessa construção de diálogo com a categoria. Por exemplo, os reajustes da taxa mínima e quilômetro percorrido em 2021, a criação de código de validação da entrega, seguros contra acidentes pessoais, lesões temporária, invalidez e morte no valor de até R$100 mil para os entregadores durante o período em que estiverem logados na plataforma e também no “retorno para casa”. Além disso, a criação de um fundo de combustível de R$ 8 milhões para minimizar o impacto do custo do combustível no dia a dia desses profissionais.”