Hacker que tentou extorquir padre Robson armou fuga frustrada em 2017
O hacker preso em 2017 por suspeita de liderar um esquema de extorsão contra padre…
O hacker preso em 2017 por suspeita de liderar um esquema de extorsão contra padre Robson de Oliveira (religioso investigado na Operação Vendilhões) tem histórico de fuga – e de tentativa de fuga. Em 2016, Welton Ferreira Nunes Júnior fugiu da delegacia Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Goiânia, pela porta dos fundos – na ocasião, ele estava preso acusado de liderar uma organização criminosa que praticava roubo de gado em Goiás. No ano seguinte, ele tentou, mais uma vez, escapar; mas o plano foi frustrado.
Welton foi recapturado pela polícia no dia 30 de junho de 2017, no Rio de Janeiro, quando já era procurado pelo crime de extorsão do padre. Segundo a denúncia oferecida à Justiça pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), referente ao caso, os atos de extorsão ocorreram entre março e junho daquele ano. As ações teriam ocorrido de um apartamento na Barra da Tijuca.
Depois de detido, durante interrogatório – conforme documento do Poder Judiciário de 2019, no qual o delegado Kleiton Dias falou ao Ministério Público –, Welton disse que teria provas sobre o caso de extorsão do padre em seu apartamento, no Rio de Janeiro. Segundo o delegado, foi conseguida a autorização judicial para a viagem com o suspeito, que foi realizada de carro.
“Mas nós percebemos que, na verdade, ele mentiu na polícia, que ele mentiu para todos nós, e ele estava procurando uma oportunidade de fuga”, diz trecho do depoimento do delegado. Segundo ele, foi preciso pernoitar em Campinas, São Paulo, e durante à noite, Welton tentou fugir, mas foi detido por um policial do grupo tático que estava com eles.
A viagem prosseguiu para o Rio e, no local, os agentes perceberam que tudo era “um engodo” para uma tentativa de fuga. “Como não havia nada no apartamento dele, nós pegamos ele de volta e voltamos para Goiânia”, revela outro trecho do documento.
Extorsão praticada dentro da delegacia
Destaca-se que, em depoimento cedido ao juiz Ricardo Prata, por ocasião do processo de extorsão ao padre Robson de Oliveira, o hacker Welton Ferreira disse que continuou com a chantagem contra o religioso mesmo preso na Deic, em Goiânia, com conivência de policiais e delegado.
Welton disse que, ao ser preso (em 2017), quando estava no Rio de Janeiro e trazido para Goiás, não havia provas contra ele, uma vez que utilizava o aplicativo Telegram, que apaga as mensagens enviadas. Assim, ele cita o delegado Kleiton Dias, como conivente com a criação de novas imagens e envio de mensagens ao padre.
Nos autos, Welton diz que ficou por uma semana na Deic criando mensagens falsas para extorquir padre Robson. “…Se for pedir perícia disso aí… As datas dos e-mails tudo eu criei, lá dentro da Deic. Fiquei uma semana dentro da sala do delegado fazendo isso daí. Não tinha nenhuma prova contra eu (sic). Eu criei isso aí, eu falava com o padre sempre por Telegram”, relatou.
Posicionamentos
À época da publicação da matéria “Hacker teria pedido dinheiro a padre Robson de dentro da delegacia”, em 27 de agosto, a Polícia Civil informou, por nota, que “a atual gestão instaurou procedimento na Corregedoria da instituição para apurar eventual transgressão disciplinar de policiais civis. O procedimento é sigiloso enquanto estiver em andamento, razão pela qual não serão prestadas maiores informações”.
A defesa de Welton, por sua vez, disse que o processo que se refere as supostas extorsões ainda não transitou em julgado – apesar de haver condenação em 1ª instância. “Encontra-se em grau de recurso de apelação.”
E ainda: “Considerando que, em razão do processo supra citado, o Ministério Público de Goiás, iniciou uma investigação que culminou na Operação Vendilhões, a pessoa do Sr. Welton ressalta que não há envolvimento, ou mesmo, que esteja sendo investigado a respeito de algo, na referida Operação. Para tanto, não podendo expressar opinião acerca de fatos alheios ao seu conhecimento, ficando a cargo, dos investigados nesta Operação para esclarecer a Sociedade o que por ora achar necessário.”
Operação Vendilhões
A partir do episódio de extorsão, que culminou com a prisão de Welton, Túlio Cezar Pereira, o ex-policial civil Elivaldo Monteiro, Leidina Alves Bessa e Deusmar Gonçalves Bessa, que o Ministério Público iniciou a investigação da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe). A entidade foi alvo de mandados de busca e apreensão na última sexta-feira (21) para averiguar transações financeiras consideradas atípicas. A arquidiocese suspendeu as funções eclesiásticas de Robson. Ele também pediu afastamento da gestão da Associação Filhos do Pai Eterno.
A Operação Vendilhões, então, investiga possíveis crimes de apropriação indébita, lavagem de capitais, organização criminosa, sonegação fiscal e falsidade ideológica praticados pelos dirigentes da Afipe (são três). O MP-GO apura desvios na ordem de R$ 120 milhões nas contas das associações.
O montante de repasses para as empresas de comunicação foram de R$ 456 milhões. Estes também são investigados, pois não teriam afinidade com o objetivo final da Afipe de evangelização.
Pedro Paulo de Medeiros, advogado do Padre Robson diz que o religioso ainda não foi ouvido pelo Ministério Público. Segundo ele, o sacerdote é o maior interessado na verdade e na transparência. “A defesa aguarda e insiste com o Ministério Público para que ele seja ouvido, o que não aconteceu nem foi agendado até então.”
Saiba mais:
https://www.emaisgoias.com.br/saiba-quem-e-quem-no-escandalo-da-igreja-de-trindade/