CASO AFIPE

Hacker teria pedido dinheiro a padre Robson de dentro da delegacia

Em depoimento cedido ao juiz Ricardo Prata, por ocasião do processo de extorsão ao padre…

Em depoimento cedido ao juiz Ricardo Prata, por ocasião do processo de extorsão ao padre Robson de Oliveira, o hacker Welton Ferreira disse que continuou com a chantagem contra o religioso mesmo preso na Delegacia Especializada em Investigações Criminais (Deic), em Goiânia, com conivência de policiais e delegado.

Segundo relata o depoimento colhido pela Justiça, Welton diz que, ao ser preso, quando estava no Rio de Janeiro e trazido para Goiás, não havia provas contra ele. Já que utilizava o aplicativo Telegram, que apaga as mensagens enviadas. Assim, ele cita o delegado Kleiton Dias, como conivente com a criação de novas imagens e envio de mensagens ao padre.

Nos autos, Welton diz que ficou por uma semana na Deic criando mensagens falsas para extorquir padre Robson. “…se for pedir perícia disso aí… As datas dos e-mails tudo eu criei, lá dentro da Deic. Fiquei uma semana dentro da sala do delegado fazendo isso daí. Não tinha nenhuma prova contra eu (sic). Eu criei isso aí, eu falava com o padre sempre por Telegram”, relatou.

O hacker, em depoimento, diz que o delegado queria dinheiro dele e o agredia para obter acesso aos recursos. Assim, ele teria sacado R$ 165 mil da própria conta e repassado aos policiais. “… o delegado falou ‘eu quero dinheiro, eu quero dinheiro‘, e batia em mim. Aí [diz o nome de outro agente] colocava o saco na minha cabeça, dando murro, murro, batendo, batendo. Até que eu falei ‘então vamos buscar o dinheiro‘”, afirmou.

Welton relatou que ainda teria fugido uma primeira vez da Deic pelo portão dos fundos, sem dar detalhes de como havia conseguido sair do local.

Imagens

Welton diz que foi contratado a princípio para extorquir R$ 1,5 milhão do religioso, mas acabou pedido R$ 2 milhões. A partir daí, ele invadiu o WhatssApp do padre e, logo depois, o e-mail e passou a forjar imagens para constranger Robson.

O hacker relata que enviou pelo Telegram imagens do padre em encontros amorosos com uma mulher casada, além de um outro homem, em um motel. Ele afirma que havia também conversas do advogado com o padre. “Tudo coisa errada dele. Ele desviando dinheiro da Associação. Ele compra a fazenda por dois milhões, põe na Associação por seis, e põe quatro no bolso dele”, afirmou ao juiz.

A partir do episódio de extorsão, que culminou com a prisão de Welton, Túlio Cezar Pereira, o ex-policial civil Elivaldo Monteiro, Leidina Alves Bessa e Deusmar Gonçalves Bessa, que o Ministério Público iniciou a investigação da Associação Filhos do Pai Eterno. A entidade foi alvo de mandados de busca e apreensão na última sexta-feira (21) para averiguar transações financeiras consideradas atípicas. A arquidiocese suspendeu as funções eclesiásticas de Robson. Ele também pediu afastamento da gestão da Associação Filhos do Pai Eterno.

Ameaças

Em depoimento, o padre Robson disse ao Ministério Público que não conhecia anteriormente qualquer um dos envolvidos na extorsão. Ele cita apenas Deusmar que havia feito “contato frente a frente, visual” e que eles faziam contato por e-mail, sempre pelo codinome “Detetive Miami” ou “Double Infinity” ameaçando divulgar conteúdo supostamente forjado para embaraçar e ameças à família do religioso.

O padre diz que além das ameaças chegou a ter a casa monitorada pelos criminosos. Ele afirma ter sido seguido por um carro. “Eu virava, fazia curva e ele vinha junto, eu fui, voltei para casa, ele veio junto. Percebendo isso, entrei. Ele ficou 20 minutos na porta da minha casa, para me intimidar. Durante duas vezes ocorreu isso… coisas pesadas mesmo”, disse em depoimento

“Chegou a extremos de falar que ia nos prejudicar, que ia acabar com a minha família, comigo… mas assim, forçosamente mesmo, tentando fazer uma pressão moral”, continuou padre Robson.

Entre as montagens realizadas está uma suposta troca de mensagens com uma mulher casada, que daria a entender que padre Robson havia um romance com ela. O religioso ainda cita que o hacker queria divulgar que ambos (o padre e Welton) teriam um relacionamento, além de um outro identificado como Rodrigo.

A defesa do religioso nega qualquer envolvimento e diz que todos os conteúdos foram forjados.

Nota da Polícia Civil

A Polícia Civil se manifestou por meio de nota. Veja a íntegra:

“Em relação ao questionamento formulado, a Polícia Civil de Goiás informa que a atual gestão instaurou procedimento na Corregedoria da instituição para apurar eventual transgressão disciplinar de policiais civis. O procedimento é sigiloso enquanto estiver em andamento, razão pela qual não serão prestadas maiores informações”.

Nota da defesa de Welton

Tendo em vista, o que vem sido amplamente noticiado nos canais de comunicação do Estado de Goiás, assim como, a nível Nacional, Welton Ferreira Nunes Junior vem por meio de seus outorgantes, comunicar e esclarecer:

1. O Processo de Nº 201792352000, que refere-se as supostas Extorsões, embora haja condenação em 1ª Instância, não há, até a presente data, trânsito em julgado desta. Para tanto, encontrando-se em grau de Recurso de Apelação, e, em sendo assim, primando-se pelo princípio da presunção da inocência, conforme preconiza a nossa Carta Magna, em seu Art. 5º, inciso LVII, não se pode afirmar ou levantar ilações quanto aos possíveis fatos narrados de como se deram, ou tão pouco, o suposto vínculo com as demais partes envolvidas nestes Autos.

2. Considerando que, em razão do processo supra citado, o Ministério Público de Goiás, iniciou uma investigação que culminou na Operação Vendilhões, a pessoa do Sr. Welton ressalta que não há envolvimento, ou mesmo, que esteja sendo investigado a respeito de algo, na referida Operação. Para tanto, não podendo expressar opinião acerca de fatos alheios ao seu conhecimento, ficando a cargo, dos investigados nesta Operação para esclarecer a Sociedade o que por ora achar necessário.

Não obstante, nenhum direito pode ser exercido de maneira absoluta. A mesma Constituição Federal que prevê o direito à liberdade de expressão estabelece também, no artigo 5º, X, que são invioláveis a intimidade, vida privada, honra e até mesmo a imagem das pessoas. Dito isto, embora respeitamos a liberdade de impressa, resta claro que há um persistente conflito entre esta e os direitos da personalidade do Sr. Welton, já que, o foco da Investigação Vendilhões é o Padre Robson de Oliveira, então Gestor da Associação Filhos do Pai Eterno – AFIPE, dentre outros, porém, o que se apresenta até o presente momento amplamente, é a tentativa de desvirtuamento destes.

À oportunidade, afirmamos o compromisso com a Justiça, tanto no Processo 2017, ao qual este ainda responde, quanto a eventuais esclarecimentos que se fizerem necessários judicialmente na Operação Vendilhões.  

Goiânia, 27 de Agosto, 2020.

Silvestre Advogados Associados.