“Hater”: julgamentos na internet podem desencadear problemas psicológicos, aponta especialista
Após expor que vivenciava um relacionamento abusivo, cujo desfecho foi a morte do pai e…
Após expor que vivenciava um relacionamento abusivo, cujo desfecho foi a morte do pai e a prisão do ex-namorado, a filha do policial civil aposentado, morto em uma farmácia na última segunda-feira (27), recebeu críticas nas redes sociais sobre os motivos de ter se mantido em um relacionamento conturbado.
“E porque a bonita (filha do policial) nunca relatou essas coisas aos pais? E, depois desse fato (ameaças e suposta agressão), foi a delegacia junto ao pai prestar queixa por violência doméstica?”, comentou uma mulher em uma das reportagens sobre o caso. “Culpada é ela de se envolver com quem não presta”, afirma outro comentário.
A psicóloga Jordana Ribeiro explica que julgamentos como estes podem desencadear transtornos psicológicos para a mulher que já passa por um sofrimento.
“Não é momento de levantar o dedo, apontar e julgar. Precisamos acolher essa vítima e essa família com muito amor e empatia. Ela já está com a sensação de ser a culpada e ainda recebe julgamentos da sociedade, é totalmente desumano. Tanto ela quanto os demais membros da família estão propícios a desenvolver quadros de depressão, transtorno de ansiedade, síndrome do pânico ou outros transtornos psicológicos. É um momento de resguardar essa família para que esses possíveis quadros não se perpetuem. Eles vão precisar de apoio psicólogo para se reerguerem”, afirma a psicóloga.
Em entrevistas aos veículos de comunicação, os familiares revelaram terem dificuldades para dormir devido a um estresse pós-traumático que desenvolveram após o crime. A psicóloga conta que esse tipo de estresse é causado pelo momento de tensão que deixa o corpo em alerta e aumenta a produção de cortisol, hormônio do estresse.
De gentil e carinho para abusivo e agressivo
Também em entrevistas, a ex-namorada de Felipe Gabriel contou que no início do relacionamento, ele mostrava ser um homem carinhoso e gentil, mas, meses depois, demonstrou um lado abusivo e agressivo ao ponto de colocar uma arma apontada para a cabeça dela e fazer ameaças de morte contra a sua família. A especialista ressalta que as mudanças de comportamento dos agressores são sutis e, em alguns casos, romantizadas, o que dificulta a saída das mulheres deste tipo de relacionamento.
“O agressor não é o tempo inteiro agressivo ou ruim. Ele começa com comportamentos sutis que, às vezes, é romantizado com uma tendência de que é amor, é um cuidado porque ele está com ciúmes. Começa a manipular redes sociais, ler mensagens, mandar nas roupas que a mulher veste ou no que ela fala. São comportamentos que alteram a identidade da mulher. A partir do momento em que ela deixa de ser ela já é um abuso e, geralmente, essas mulheres estão em extrema vulnerabilidade ou dependência emocional, com uma autoestima baixa e a esperança de que ele vai mudar”, explica Jordana.
Pode acontecer com qualquer um
Dados da Secretária de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) apontam que no primeiro trimestre de 2022 foram registrados 2.624 casos de mulheres vítimas de agressão e 3.841 foram ameaçadas no âmbito da violência doméstica. Grande parte dessas violências são causadas pelo companheiro das vítimas e pode resultar na morte delas ou de familiares.
“Qualquer um de nós está vulnerável a isso. Se a pessoa não tem um trabalho bem feito com a autoestima dela, um acompanhamento psicológico, um fortalecimento emocional, ela está sujeita a uma relação abusiva. É importante que cada um olhe para si e perceba quais são os aspectos emocionais e psicológicos que precisam trabalhar internamente”, conclui a psicóloga Jordana Ribeiro.
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