O Hospital Geral de Goiânia Alberto Rassi (HGG) é um dos poucos no País com um Programa (específico) de Atenção ao Pé Diabético. O programa existe há 12 anos e visa evitar ulcerações e mutilações causadas por complicações decorrentes do diabetes e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. O programa atende a uma média de 60 pacientes mensalmente. Nos casos mais graves esse atendimento é feito semanalmente.
De acordo com o chefe da Divisão de Endocrinologia do Hospital, o médico Nelson Rassi, problemas como dificuldades técnicas para a realização dos exames, a falta de profissionais na área e o não reconhecimento da importância dos cuidados com o pé diabético (muitas vezes negligenciado pelos próprios profissionais da saúde), tornam raro esse tipo de tratamento e atendimento no País.
Para ser atendido no HGG o paciente deve passar primeiro por uma unidade de atendimento básico de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) onde será atendido por um clínico geral. Em seguida o paciente deverá conseguir um encaminhamento para um especialista, e deverá ainda estar regulado no município que dará sequência ao tratamento.
Consequências graves
De acordo com Nelson Rassi, aproximadamente 70% da população portadora da doença não têm os pés examinados durante uma consulta, e 90%, desconhecem as complicações que o diabetes provoca nos pés.
“E isso é muito grave porque pacientes diabéticos têm facilmente os pés lesados e machucados, até mesmo pelos calçados que utilizam, e pela perda de sensibilidade provocada pela má circulação. Muitas vezes o médico não examina esse pé e o próprio paciente não percebe que tem um ferimento que, uma vez negligenciado, tende a evoluir para casos graves e acaba resultando em ulcerações muito graves cujas consequências diretas são amputações e mutilações”, explica ele.
De acordo com Cristina Pereira, enfermeira responsável pelo Programa no HGG, um paciente diabético é capaz de pisar em cacos de vidro ou mesmo sofrer graves queimaduras nos pés sem sentir nenhuma espécie de dor, o que representa um fator de risco muito grande para essas pessoas. Ela explica que durante o atendimento no HGG, além do curativo em pacientes que já possuem lesão, também são feitos exames neurológicos para verificação de neuropatia diabética.
Uma vez constatada a neuropatia, já com início de deformidade, é feito o pedido do sapato adequado para esse paciente na rede pública. Nesse caso o paciente retira uma autorização junto ao Samu e é, consequentemente, encaminhado ao Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer), caso seja residente na capital; e à Vila São Cotolengo, em Trindade, caso seja residente no interior do Estado.
O sapato e a palmilha especiais para o paciente diabético, que custam juntos uma média de R$ 500, são repassados, gratuitamente, ao paciente nesses locais.
Milton Silva da Anunciação tem 69 anos e faz tratamento no HGG há 10 meses. Ele diz que passou por muitos lugares nos últimos dois anos, antes de conseguir o tratamento no HGG. Por complicações decorrentes de um calo, ele foi obrigado a passar por um processo de amputação de parte do pé direito e hoje se recupera por meio do tratamento, agora mensal, que faz no HGG.
Judith Mesquita Faria é a médica coordenadora do projeto no HGG. Segundo ela o trabalho desenvolvido no hospital é multidisciplinar e esse é um dos diferenciais do atendimento prestado. De acordo com Judith, graças às capacitações realizadas pela Secretaria de Estado da Saúde e HGG, hoje já existem locais no interior do Estado que já começam a desenvolver esse mesmo tipo de tratamento por meio de médicos multiplicadores que repassam o conhecimento adquirido nas capacitações. Ela ressalta a importância de se diagnosticar a neuropatia antes do surgimento da ulceração, segundo ela o hospital realiza uma abordagem que é tanto preventiva quanto terapêutica, e isso também é outro fator diferencial no tratamento lá oferecido.
Cuidados especiais
O paciente diabético deve ficar atento a cortes, ferimentos e até mesmo a rachaduras nos pés. Sensações de inchaço e/ou calor localizado também devem ser cuidadosamente observados. Esses pacientes devem usar sapatos adequados e prescritos por médicos, e devem ainda evitar o uso de sandálias, e também meias e sapatos apertados. Tratamentos com banhos de imersão, bolsas de água quente e o uso de travesseiros térmicos também devem ser evitados por esses pacientes.É importante lembrar que o paciente diabético deve seguir corretamente as indicações de seu médico e fazer sempre o acompanhamento periódico.
Diabetes
Conforme dados do Ministério da Saúde, o diabetes atinge mais de 10 milhões de pessoas. Em Goiás aproximadamente 381,5 mil pessoas, 6,2% da população geral, são portadoras do Diabetes Mellitus (DM) tipo 2, também conhecido como diabetes tardia. No Brasil a mortalidade por Diabetes no ano 2000 foi de 20,8 para cada 100 mil/habitantes, e no ano de 2012 esse número subiu para 29,3 a cada 100 mil/habitantes.
No período de 2000 a 2012, o diabetes foi responsável por 588.878 mil (4,3% do total de óbitos) mortes em todo o país. Em Goiás, no ano de 2012, esse coeficiente foi de 23,5 óbitos para cada 100 mil/habitantes, o que corresponde a um aumento de 37,4% no coeficiente de mortalidade em relação a 2000. Em números absolutos, em Goiás, no período de 2000 a 2012 ocorreram 13.433 óbitos (e o diabetes foi responsável por 3,6% do total de óbitos). Segundo estatísticas do Ministério da Saúde as mulheres lideram o total de mortalidade por essa patologia.