HMI pode tornar a fechar as portas por falta de medicamentos e insumos nesta quinta-feira (3)
Sem medicamentos para tratamento de doenças graves, além de insumos como luvas e agulhas, Materno - segundo o governador - está incapacitado de receber novos pacientes e pode fechar novamente com o fim dos estoques
Após ter passado ao menos 24h com as portas fechadas por falta de insumos e pagamento de profissionais – no último 27/12 –, o Hospital Materno Infantil (HMI), recebeu uma visita desavisada do recém-empossado governador Ronaldo Caiado (DEM), ainda na noite de terça-feira (1°/1). Na unidade, o político pôde constatar o que considerou “uma situação caótica”, ocasionada, segundo ele, por falta de repasses da então administração tucana à Organização Social (OS) Instituto de Gestão e Humanização (IGH). Medicamentos e materiais como luvas e agulhas estão com estoques baixos, razão pela qual, atualmente, o Materno não tem condições de receber pacientes além daqueles já internados. Baseado nisso, a perspectiva é de um novo fechamento programado pra quinta-feira (3).
A inspeção foi indicada pelo correligionário e deputado federal Zacharias Calil, médico que opera pelo HMI desde 1986. “Faltam medicamentos, principalmente, voltados ao tratamento de doenças graves e crônicas. Pacientes, crianças, estão tendo piora em seus quadros por falta de dinheiro, isso é inadmissível, revoltante”, afirma Calil, que também participou da vistoria. De acordo com ele, também faltam itens básicos como luvas e agulhas. “O HMI perdeu credibilidade diante dos fornecedores, que, sem receber, não querem entregar os materiais básicos. Teremos que dialogar com eles para evitar um novo fechamento, previsto para quinta (3), já que o estoque de tudo está no fim”.
Caiado, por sua vez, definiu a situação como “caótica”. “O hospital, único de referência no atendimento pediátrico em Goiás, não tem como se manter aberto por falta do básico. Já está incapaz de absorver novos pacientes. Cirurgias foram canceladas e as filas estão enormes. É um quadro caótico. Assistimos vidas de crianças que estão correndo um alto risco”, comentou. O momento enfrentado pelo materno foi confirmado pelo diretor-geral da unidade, Márcio Gramosa.
Segundo ele, médicos não recebem seus vencimentos há mais de três meses e há uma dívida de R$ 2 milhões com fornecedores de insumos, problemas ocasionados por atrasos em repasses estaduais. No total, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) possui uma pendência de R$ 65 milhões com o IGH, que também administra o Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia (Huapa) e o Hospital e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes (HMNSL), os quais estão nas mesmas condições do materno.
Diante do primeiro fechamento da unidade – na história –, ocorrido em dezembro, o então governador José Eliton (PSDB) repassou R$ 6,5 milhões à referida OS. Porém, o dinheiro teve que ser repartido entre as unidades e não foi suficiente para que os materiais e medicamentos fossem repostos. De acordo com a assessoria de imprensa do Materno, do mencionado valor, R$ 4 milhões foram destinados ao HMI, R$ 1,5 milhão foi para o Huapa e R$ 1 milhão para o HEMNSL.
Apesar das declarações de Caiado e de Calil, em nota, o IGH afirma que o atendimento nas três unidades de sua administração está normal e que não há uma posição oficial sobre uma nova paralisação das atividades.
Medidas emergenciais
De acordo com Caiado, o governo irá buscar entendimento e crédito junto a profissionais e fornecedores para que a situação seja resolvida. “[Vamos] mostrar que temos interesse em resolver, mas não é aceitável fechar as portas. Sei das dificuldades, vamos encará-las e temos que achar uma solução. Não posso admitir que um hospital como esse tenha uma resposta simplista. Isso aqui é prioridade acima de qualquer gasto”.
Na manhã desta quarta-feira (2), o governador enviou Zacharias Calil à Brasília para representa-lo na posse do novo Ministro da Saúde, o médico Luiz Mandetta (DEM). A expectativa é de que eles possam ainda nesta tarde falar sobre a situação do HMI e de outros hospitais em situação de dívida com o Estado.
“O [ministro] deve se sensibilizar com a questão, que nem depende tanto dele, mas do Ministério da Fazendo. A esperança é conseguir recursos para resolver o problema”. Segundo Calil, em dezembro, foi a primeira vez na história, desde a década de 1970, que o HMI fecha as portas. “Isso é um abandono, só mostra que ninguém estava preocupado com isso. É uma agressão contra a população, uma situação revoltante”, comenta.
Pagamentos
O Mais Goiás tentou contato com médicos da unidade, mas nenhum deles quis conceder entrevista com medo de represálias. Entretanto, a redação apurou que não há registro de reclamações de profissionais no Sindicato dos Médicos no Estado de Goiás (Simego). Segundo a assessoria de imprensa da entidade, um dos motivos pode ser a natureza contratual dos médicos com a OS, na maioria, baseados em pessoas jurídicas.
A possibilidade foi confirmada também pelo Sindicato dos Servidores da Saúde do Estado de Goiás (Sindsaúde). Segundo a presidente, Flaviana Alves, a diretoria do Huapa, também gerenciado pelo IGH, afirmou que o atraso afeta anestesistas e cirurgiões, todos com contratos de prestação de serviço. “Não há reclamação de efetivos. Médicos provavelmente não protocolaram queixas porque o vínculo deles é comercial e não trabalhista”, esclarece.