Julgamento

Homem acusado de matar esposa grávida terá audiência de instrução nesta quarta-feira (7) em Iporá

Mãe da vítima relata que a audiência é esperada para que "a vida da filha não seja banalizada"; Acusado está solto desde o dia 5 de outubro

“Esperamos que a Justiça comece a ser cumprida.” Esse é o desejo de Nilva Camargo, mãe da jovem Vanessa Camargo, de 28 anos, que foi morta no último dia 31 de julho, em um suposto assalto na cidade de Iporá, a cerca de 230 quilômetros de Goiânia. Horácio Rozendo de Araújo Neto, de 35 anos e marido da vítima, é acusado pelo crime e passará por audiência de instrução nesta quarta-feira (7), às 13 horas , no Fórum da cidade.

Nilva diz que a expectativa sobre o final desse processo é que realmente Horácio seja condenado. Segundo ela, o acusado, que está solto desde o dia 5 de outubro – dois dias após a conclusão do inquérito da Polícia Civil o apontar como autor dos disparos – leva uma vida normal.

“A gente se sente humilhada. Eu vejo ele andando normalmente, como se nada tivesse acontecido. Isso dói no coração de uma mãe. A vida da minha filha está sendo banalizada dessa forma”, desabafa.

A mãe conta, emocionada, que a filha era uma pessoa de personalidade e que não aceitava injustiça. Nilva também relata que a filha era uma pessoa bastante estudiosa. “Vanessa nunca gostou de ficar estagnada. Ela tinha atitude, ia atrás de seus objetivos. Ela fez graduação na UEG para Ciências Biológicas, depois fez  pós (graduação) na UFG e mestrado de Ciências Agrárias no IFG. Além disso, ela se preparava para começar MBA, mas foi interrompida de forma trágica”, conta.

Nilva destaca que, apesar de tantos feitos,  Vanessa, que estava grávida de três meses, queria um sonho mais simples: o de ser mãe de uma menina e amamentá-la. “Ela também já estava estabilizada como gerente de vendas e me dizia ‘Mãe, eu vou conhecer o mundo’. Mas o maior sonho que ela me contava era o de ter uma menina e sentir o prazer em amamentar. Em janeiro ela realizaria esse sonho.”

 

Confissão 

Ao Mais Goiás, Nilva relatou que Horácio se mostrou prestativo para bancar todos os preparativos para o ato fúnebre da filha, mas que deixou alguns comentários suspeitos sobre o assassinato de Vanessa. “Lembro de uma vez de eu perguntar para ele que precisava saber quem tinha tanto ódio da minha filha. Ele me disse: ‘Logo você vai saber e eu quero que você fique sabendo’. Eu perguntei do que ele sabia e ele mudou de assunto. No dia do velório, ele estava encostado na parede da sala e me pediu desculpas. Eu perguntei sobre o que ele tinha que desculpá-lo e e ele simplesmente virou as costas e foi embora”, lembra

No dia do crime, segundo Nilva, os agentes perceberam que ele não demonstrou nenhum tipo de emoção. “Tenho colegas na corporação que estiveram no local e relataram para mim que ele tentava contar a história, mas em nenhum momento mostrou uma reação em perder a pessoa que diz que ama. Ele não foi humano, pois, além de matar a minha filha, ele matou a minha neta”, diz, emocionada.

Possíveis causas 

Nilva acredita que o jeito independente e perseverante da filha possa ter causado uma certa raiva no marido, já que, segundo ela, ele era muito dependente para qualquer situação. “Ele necessitava da permissão dos pais para tudo. Ele andava no carro dela, já que ele não podia ter um carro. A prova disso é tamanha que ele voltou para a casa dos pais. Vanessa queria muito que ele fosse independente e tomasse as rédeas de sua família”, conta

A mãe ainda aponta que a filha aceitou um emprego em Goiânia justamente para incentivar Horácio a ter uma autonomia sobre a família. Posteriormente, a mãe descobriu que ele desconfiava que poderia não ser pai da menina que ela esperava.”Amigos deles comentavam que ela se mudou para Goiânia e engravidou lá. Que a filha não era dele. O exame de DNA saiu 30 dias após o crime e ele ficou surpreso com o resultado positivo para a paternidade”, destaca.

Outro ponto que chama a atenção de Nilva é que uma das apólices de seguro de vida de Vanessa estava na casa dele. “Eu sempre me pergunto o que essas apólices estavam fazendo lá? Não sei te dizer se esse é o real motivo. Infelizmente, somente ele sabe porque fez isso, mas sei que amanhã ele irá contar”, comenta a mãe da vítima.

Outro filho

O casal já tinha um menino de 2 anos. Atualmente a criança mora com Nilva e está começando a levar uma vida normal, mas passou por muita dificuldade diante a situação. “Ele chorou muito nos primeiros dias. Muito difícil entender, ainda mais na idade dele.Mas agora já voltou a frequentar a escola”, relata.

Nilva destaca que também corre na Justiça um pedido, por parte da família paterna, de adoção da criança. A avó garante que não abre mão de cuidar do neto. “Se eu estou de pé, foi graças a esse menino. Ele é inegociável. Ele já devolveu os meus dois maiores amores dentro de um caixão. Se um cara teve a coragem de matar a própria esposa e a própria filha, que me garante do que ele será capaz de fazer com esse neto. Quando ele crescer e tiver condição de se defender e fazer suas escolhas, eu vou aceitar, mas no momento, eu vou lutar por ele”, desabafa.

Relembre o caso 

Horácio Rozendo de Araújo Neto, de 35 anos, era casado com Vanessa Camargo, de 28, que estava grávida de três meses quando foi morta no dia 31 de julho deste ano. Na ocasião, o marido contou à polícia que o casal e o filho de dois anos estavam viajando em direção à Goiânia quando foram abordados na GO-060 por dois homens em uma moto.

Horácio disse que desceu do carro e abriu as portas para que um dos assaltantes tomasse a direção do veículo. O casal foi levado para uma estrada de chão e Vanessa discutiu com um dos bandidos, que acabou atirando.

De acordo com a Polícia Civil, Horácio apresentou muitas incoerências em seu depoimento e, além disso, a perícia provou que não havia outra pessoa na cena do crime. Mesmo depois de preso, o homem continuou afirmando que a esposa foi morta durante um assalto.

Conclusão do Inquérito 

Segundo o delegado Ramon Queiroz, o depoimento que Horácio prestou, sobre a mulher ter sido morta durante um assalto, foi contradito com as provas técnicas que foram apuradas ao longo da investigação. “A vítima estava em posição de repouso quando foi atingida. Ela não viu de onde veio o tiro, ou seja, nem teve tempo de se defender. Outro ponto crucial para a conclusão foi o horário que o GPS mostra o carro abandonado e a primeira pessoa que chega no local. É diferença de poucos minutos e a testemunha alega que não viu movimento de fuga pelas proximidades”, afirma.

O delegado também conta que foi localizado o único motociclista que estava na rodovia no dia do crime. Ele foi ouvido e o seu depoimento afastou ainda mais a possibilidade do assalto. “O homem afirmou que viu o carro de Horácio em alta velocidade e nenhuma moto fez ultrapassagem por ele, ou seja, ele foi o único motociclista que estava na rodovia horas próximas ao crime”, ressalta Ramon.