ANÁLISE

Ideia de que violência é necessária para manter lei e ordem prejudica crianças, diz psicóloga

Com experiência no atendimento a adolescentes, Christine diz que a banalização da violência é um dos fatores que pode ter influenciado os jovens que planejavam massacre em uma escola no RN

Ideia de que violência é necessária para manter lei e ordem prejudica crianças, diz psicóloga (Foto: Divulgação - PC)

Para a psicóloga Christine Ramos Rocha, a ideia de que a violência é necessária para manter lei e ordem prejudica crianças. Ainda segundo ela, a banalização da violência é um dos fatores que pode ter influenciado os jovens que planejavam o massacre em uma escola no Rio Grande do Norte (RN). Além de um adolescente de Itumbiara e o primo dele, de Campo Redondo (RN), a Polícia identificou um 3º envolvido, de Manaus (AM).

“Infelizmente, temos assistido a volta de situações geradas por violência e incitamento ao ódio, ao mesmo tempo em que acabamos por fortalecer ideias de que a violência seria necessária para manutenção da lei e da ordem”, inicia e completa: “Como se ao culpado fosse permitida a perversidade da violência. Nesse sentido, a psicologia social busca a compreensão do porquê. Continuamos a insistir na existência em meio ao terror da violência e também entender os poderosos processos afetivos que sustentam a violência social.”

Desta forma, ela reforça que “a forma como esse jovem entende esse contexto em que vive de banalização de violência, sócio histórico, pode sim, influenciar”. Vale destacar, Christine atua nas áreas clínica, social e jurídica e trabalhou no Estado na Gerência de Gestão do Sistema Socioeducativo por último e antes em unidades socioeducativas da Capital.

Violência

Ela explica que o agir violento não acontece da noite pro dia. Ele resulta derivado da construção de pensamentos, linguagem cultura, tempo e espaço do qual os indivíduos fazem parte. “Sendo formando e formando o meio em que vivem.”

Ela aponta que, por vezes, os olhares se voltam para o processo já quase construído, sem ver que esses jovens “têm sido formados por essa sociedade que banaliza a violência, que discrimina, rotula, cerceia e silencia cada vez mais essa subjetividade”. Contudo, ela admite que a é complexo pontuar o que faz com que o jovem planeje esse tipo de ato sem uma análise mais profunda, uma vez que a violência é multicausal.

“Tudo que nos afeta de alguma maneira faz parte do que nos forma enquanto ser humano. Quando falamos sobre violência não há linearidade, por mais que queiramos simplificar e entender que caminho será esse que não devemos tomar com nossos jovens para que não assistamos perplexos a essas manifestações de sofrimento, geradoras de mais sofrimento ainda”.

Plano de massacre em escola do RN

Um adolescente de Itumbiara é suspeito de planejar massacre em escola do Rio Grande do Norte junto com primo. É o que a Polícia Civil (PC) dos dois estados conseguiram apurar em uma ação conjunta ao analisar trocas de mensagens entre os jovens de 15 e 14 anos, respectivamente. Nesta quarta-feira (18), a polícia confirmou a participação de um terceiro envolvido.

Os pais dos adolescentes foram acionados e ‘espontaneamente’ apresentaram os filhos nas respectivas delegacias, momento em que os fatos foram confirmados. Celulares foram apreendidos.

O goiano de Itumbiara, segundo as investigações, pretendia viajar para o estado nordestino, onde invadiria duas escolas com o primo para matar meninos e meninas. O plano terminaria com o suicídio de ambos.

De acordo com a polícia, no início da investigação os agentes descobriram que pelo menos quatro adolescentes tinham planos de invadir as duas escolas, cujos nomes não foram mencionados.

Em uma das conversas flagradas pela polícia, os menores diziam que, após atirarem coquetel molotov, iriam tirar a própria vida.

Em outro trecho da conversa,  um dos adolescentes afirmava que durante a execução do massacre não poupariam a vida nem de meninos e nem de meninas. Em seguida, os dois jovens comentam não ter uma escola em mente e um dos jovens sugere atacar a unidade em que ele era matriculado, em Campo Redondo (RN).

Massacre: adolescente de Itumbiara já tinha passagem comprada

Durante a investigação, policiais descobriram que o adolescente morador de Itumbiara já estava com viagem marcada para Campo Redondo e nos próximos dias, ‘certamente’, se encontraria com o primo que lá mora. O que tornava ainda mais concreta a chance deles materializarem seus planos, segundo a polícia.

Adolescente de Itumbiara e primo já haviam escolhido as roupas que usariam no eventual massacre

Segundo a polícia, os jovens já haviam, inclusive, escolhido pela internet as roupas que usariam durante o massacre e estavam na fase de planejamento, para testar os equipamentos que usariam.