Internet ajuda cristãos a celebrarem Semana Santa pelo segundo ano seguido

Apesar de lamentarem a falta da festividade presencial, fiéis reconhecem o importante papel desempenhado pelas tecnologias durante a pandemia de Covid-19

Internet ajuda cristãos a celebrarem Semana Santa pelo segundo ano seguido (Foto: Jucimar de Sousa / Mais Goiás)

Ainda que seja uma tradição cristã celebrada há centenas de anos, a Semana Santa é um feriado religioso que vem se adaptando às novas realidades da sociedade. Pela segunda vez consecutiva, por conta da pandemia de Covid-19 e da necessidade de isolamento social, as homenagens à paixão, morte e ressurreição de Cristo, terão o auxílio da internet para que aconteçam e alcancem mais fiéis.

De modo geral, a Semana Santa homenageia trajetória de Jesus Cristo durante sete dias, em que cada dia faz referência a um acontecimento da vida do filho de Deus. Desde sua chegada a Jerusalém, sua morte simbólica na cruz e sua ressurreição.

Simulação da Paixão de Cristo, feita na última Semana Santa presencial, em 2019, em Goiás (Foto: Jucimar de Sousa / Mais Goiás)

O reitor do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, Padre João Paulo Santos de Souza, afirma que sente que toda a humanidade vive, mais do que nunca, um momento semelhante à luta do Messias. “Estamos no calvário com Jesus. Nas dores, clamor e lágrimas dele estão também as de toda humanidade. Porém, sempre na esperança de vencer este momento difícil que estamos passando”, diz o sacerdote.

Igrejas fechadas

Mesmo antes da doença, as missas realizadas na Basílica do Divino Pai Eterno já eram transmitidas pela TV, rádio e outras mídias digitais. Com a exigência do isolamento, os veículos se tornaram ainda mais fundamentais. Durante o ano de 2020, todas as celebrações foram feitas sem a participação presencial dos fiéis, mas contaram com as transmissões para todo o território nacional.

Para a advogada Marizete Pires da Silva Costa, voluntária numa paroquia em Goiânia, o sentimento é de tristeza. “Ver as igrejas fechadas é uma situação de profunda tristeza, para mim e para todos os que eu convivo. Antes da pandemia era uma celebração viva, onde a gente se materializava junto com a sociedade. Pensar na Semana Santa online é um absurdo. Não estamos assistindo um filme!”, desabafa.

Cadeiras vazias na igreja Céu na Terra, em Goiânia (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)

No início de março, o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), defendeu a abertura de igrejas durante a pandemia de Covid-19 na capital. Durante um evento, o chefe do Executivo argumentou que abertura de templos é constitucional e que o Executivo não poderia impedir o funcionamento.

Em contrapartida, o infectologista Boaventura Braz de Queiroz, afirma que mesmo com as ressalvas, as flexibilizações representam grande risco de disseminação do coronavírus. “A religiosidade pode ser, para muitos, uma necessidade básica, mas é uma questão que pode ser resolvida individual e internamente, em casa ou com celebrações virtuais”, afirma.

Limitação dos fiéis

De acordo com Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), uma das principais mudanças com a nova realidade é a quantidade limitada de fiéis. Em todas as festividades, a cidade de Trindade, em Goiás, recebia milhares de pessoas, sendo ‘impossível numerar a quantidade de forma precisa’. A multidão que era vista em procissões e cerimônias lotadas de pessoas de todas as regiões do Brasil, foi diretamente impactada com a chegada da Covid-19.

Neste ano os casos de coronavírus são piores que em 2020 em todo o país. Atualmente, a Região Central de Goiás, onde se situa o município de Trindade, está com a classificação de calamidade no que tange à contaminação pelo coronavírus. A cidade tem 6,7 mil casos confirmados e mais de 240 óbitos por Covid-19, segundo dados da prefeitura.

Apesar de lamentarem a falta da festividade presencial, fiéis reconhecem o importante papel desempenhado pelas tecnologias durante a pandemia de covid-19
Apesar de lamentarem a falta da festividade presencial, fiéis reconhecem o importante papel desempenhado pelas tecnologias durante a pandemia de covid-19 (Foto: Jucimar de Sousa / Mais Goiás)

Mesmo assim, a basílica de Trindade deverá receber pelo menos 330 pessoas em dias alternados, obedecendo o decreto vigente da prefeitura da cidade, que adotou o regime de escalonamento.

De acordo com a Afipe, na segunda, quinta, sexta-feira e domingo os fiéis poderão participar. Porém, com limitação ao número de participantes a 20% da capacidade dos assentos e mantendo o distanciamento mínimo de 2 metros entre os lugares. Na terça-feira, quarta e no sábado, os fiéis devem aproveitar as celebrações através da televisão, rádio e internet. Além disso, segundo a associação, não haverá nenhuma procissão.

Apesar de lamentar, Marizete reconhece a importância das missas online. “É fundamental o papel da internet, com ela temos contato com a comunidade. Claro, não leva a eucaristia que o católica necessita, mas ajuda”, diz a cristã.

Mais alcance

Se para alguns as orações feitas apenas com o auxílio da internet não são o bastante, para outros religiosos, a internet tem sido positiva. O pastor sênior da igreja evangélica Céu na Terra, Daniel Zimmermann, diz que com o on-line conseguiram alcançar mais pessoas.

“Antes da pandemia, cerca de um 1.200 pessoas participavam de forma direta de nossas atividades religiosas no prédio da igreja. Hoje, estimamos alcançar mais de 5 mil com as nossas plataformas digitais”, diz o pastor.

Celebração realizada antes da pandemia na igreja Céu na Terra (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)

Daniel diz que para ele o maior sentimento é o de ter saudade de estarem todos juntos, mas que entende que a função atual da igreja é de colaborar para que isso passe logo. “Temos saudades de podermos estar todos juntos. Mas mesmo com a pandemia a igreja cresceu. Mesmo com as dificuldades, foi o momento em que mais conseguimos ajudar. Foram mais de 10 toneladas de alimentos distribuídos em cestas, medicamentos, apoio espiritual, emocional”, afirma Daniel.

Para os fiéis, de forma geral, a Semana Santa tem como objetivo maior o de alcançar a todos com o amor ensinado por Jesus na bíblia, seja de forma presencial ou com o auxílio das novas tecnologias.