Jardineiro da Comurg cola grau no curso de jornalismo em Goiânia
Luciano fotografava paisagens na capital durante o trabalho quando foi convidado para compor a equipe de comunicação da Comurg como fotógrafo
Emoção, nervosismo e felicidade. É assim que o jardineiro da Comurg, Luciano Magalhães Diniz, de 44 anos, define a noite desta terça-feira (28). Isso porque o homem recebeu o diploma do curso de jornalismo após quatro anos de estudo.
Admitido na Comurg desde 2006, por meio de concurso público, Luciano cuidou das ruas, praças e jardins da cidade. Escondido, o jardineiro aproveitava o momento para fazer registros de paisagens que encontrava pela frente.
“Eu andava com uma máquina fotográfica no bolso para mostrar aos meus filhos as belezas que via pela cidade. Chegava em casa e descarregava as imagens em um computador velho. Foi aí que passei a observar a dimensão da fotografia porque comecei a ver coisas que muitas vezes passavam despercebidas”, contou.
Após seis anos fazendo registros de Goiânia, Luciano foi convidado a integrar a equipe de comunicação da Comurg como fotógrafo. Para aprimorar o serviço, o jardineiro fez curso de fotografia com um ano de duração.
O curso, porém, não deixou o homem completamente satisfeito. “Me vi na necessidade de escrever sobre as fotos”, disse. A partir daí, o profissional iniciou a jornada como estudante de jornalismo. “Foram anos de aprendizado. O jornalista ouve as pessoas e relata as histórias à sociedade. Receber esse diploma foi como receber meu filho nos braços. Um misto de nervosismo, emoção e felicidade”.
“Goiânia em preto e branco”
O sucesso das fotos foi tão grande que Luciano decidiu produzir uma exposição. Denominada “Goiânia em preto e branco”, a apresentação contou com acervo de mais de duas mil fotos. E o diferencial: as molduras foram feitas com materiais recicláveis. Ele também recebeu ajuda dos colegas da Comurg na impressão das imagens.
Depois da exposição, o jardineiro recebeu nova ajuda e surgiu a ideia da criação de um livro. Há dois anos, Luciano lançou o chamado “Resíduos de uma Goiânia em Preto e Branco”. “Foi outra emoção muito grande. Não acreditava que seria possível. Mas após alguns meses me vi com meu livro”.
Após ficar 15 anos fora das salas de aula, o homem resolveu voltar a estudar. “A fotografia já não era o bastante. Também queria escrever”. O decorrer do curso, no entanto, não foi apenas flores. O jardineiro precisou ficar sem estudar durante um ano pois não possuía dinheiro para renovar a matrícula.
“Foram muitos desafios e aprendizados. Tive que parar de estudar por falta de dinheiro, mas nunca desisti. Era meu sonho. Hoje, me sinto realizado e ainda sem acreditar que peguei o diploma. Você olha e pensa: será que isto está acontecendo mesmo?”, disse.
TCC
Vestido com uniforme da Comurg, Luciano defendeu o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) no último dia 28 de julho para receber o diploma do curso de Jornalismo. E o melhor: com a nota 10. A apresentação contou com uma exposição fotográfica com perfil, “Sou Mulher, Sou Gari”, que buscou retratar o universo das trabalhadoras da limpeza urbana em Goiânia.
“Um universo de muito sacrifício, humilhações, mas também muitas conquistas. Invisibilizadas pelo uniforme laranja, estereotipadas como pessoas que “não conseguiram nada melhor na vida” essas mulheres demonstram ter além da força física necessária ao trabalho, uma garra invejável na busca por uma vida confortável”, afirma.
Para Luciano, “é dever do jornalismo expor esse tipo de situação, quebrar estereótipos e as fotografias são ferramentas importante da nossa profissão”. Ele afirma que os trabalhadores da limpeza urbana, vulgo garis, sequer conseguem se livrar do chamamento de “lixeiros”.
“Mas ao contrário do que boa parte da sociedade pensa, estes operários, assim como qualquer outro funcionário público, possuem estabilidade, um salário razoável para a média nacional, capacidade de consumo, sonhos e muitos almejam uma formação acadêmica.
Hoje com 44 anos e pai de três filhos, Luciano diz que ainda não realizou todos os seus sonhos; afirma que o curso superior era um sonho antigo e que o próximo passo é a realização especialização em cinema, outro sonho antigo.