João de Deus não sofre doença grave que o impeça de continuar preso, aponta laudo do TJ
Conforme apontam os exames, o acusado pode seguir preso já que os tratamentos podem ser feitos na penitenciária. Advogado do réu se diz surpreso com resultados, considerados por ele como equivocados
Inexistência de depressão e doenças crônicas estabilizadas e sem sinais de gravidade. Assim está a saúde de João Teixeira de Faria, o João de Deus. Conclusão foi apontada em exames clínicos e psiquiátricos realizados no Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO). Advogado do réu se diz surpreso com resultados, os quais considera equivocados. Preso há dez meses no Núcleo de Custódia de Aparecida de Goiânia, médium é réu em nove processos e acusado de abusar sexualmente de cerca de 300 mulheres durante atendimento espiritual. As informações foram divulgadas pelo Fantástico.
O acusado passou por avaliação médica diante de três psiquiatras do TJ. A perícia durou mais de 3h e foi feita em uma sala similar a um consultório. No mesmo dia, o líder espiritual passou por outros três médicos que elaboraram laudo clínico do detento. No laudo psiquiátrico, os peritos alegam que João de Deus não sofre de nenhuma doença mental ou depressiva. Nele, os médicos afirmam que “se não há doença mental, não há necessidade de tratamento e, consequentemente, não há necessidade de se recuperar de algo que nunca existiu”.
Ainda conforme indicaram os profissionais, o médium tem utilizado medicações sem necessidade, o que pode ter causado efeitos colaterais como tontura e dificuldade de urinar, reclamações feitas pelo preso.
Doenças sem gravidade
Aos 78 anos, João de Deus pesava 84 quilos durante a última avaliação médica. Desde que foi preso, são 37 kg a menos. Na ocasião, o réu relatou que passou a sentir dores no quadril e joelho. Às vezes, conforme relato do médium, aparece sangue na urina, apresenta desmaio, queda, bem como falta de apetite.
Segundo o laudo, no entanto, a perda de peso é normal, pois o acusado apresentava sobrepeso antes de ficar recluso. Além disso, foi apontado que o líder espiritual possui pensamento claro e coerente, com capacidade de raciocínio plenamente preservada.
Por fim, o laudo concluiu que as doenças crônicas de João de Deus estão estabilizadas e sem sinais de gravidade. Também não há evidências do reaparecimento do câncer descoberto e tratado em 2015. O resultado contraria a afirmação do preso, que disse ter a doença há onze dias ao deixar uma audiência, em Anápolis. Assim, conforme constatam os exames, o acusado pode seguir preso já que os tratamentos podem ser feitos na penitenciária.
Defesa
Ao Fantástico, a defesa de João de Deus afirmou estar surpresa com o resultado, considerando por ela equivocado. O advogado Anderson Van Gualberto Mendonça informou que visita o cliente duas vezes na semana. Segundo ele, a cada visita o réu apresenta quadro degenerativo pior. O defensor alega ainda que o acusado irá morrer no presídio, pois não há estrutura para recebê-lo.
Sobre o uso de medicamentos desnecessários (são ao menos 14 comprimidos para tratar depressão, dor no peito e colesterol alto), o advogado afirmou que é responsabilidade dos médicos da penitenciária inserir ou retirar os remédios. A defesa deverá pedir a realização de novos exames.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) afirma que o líder espiritual está sob cuidados médicos de profissionais particulares desde o dia 22 de julho. Além disso, a pasta informou que os médicos da unidade não prescreveram os remédios.
Lucros continuam
Preso desde dezembro de 2018, o médium João Faria de Teixeira, o João de Deus, continua lucrando com atendimentos espirituais. Isso porque a rede de guias de turismo espirituais criada em diversos países da Europa, África e Oceania continua atuante. As dezenas de pessoas que trabalham para o réu tentam convencer estrangeiros de que o líder espiritual não cometeu os crimes sexuais dos quais é acusado e que o poder curativo está inabalado.
Conforme apurado pela revista, os guias possuem sites para promover viagens do exterior à Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia. A frequência atual no local não chega a mil visitantes, 90% deles são de países como Alemanha, Suíça, Nova Zelândia, França, Itália, África do Sul, Austrália e Finlândia. O valor cobrado por duas semanas na cidade do interior custa entre R$ 15 e 20 mil, dependendo do local de origem. A média de movimento financeiro gerado está na faixa de R$ 15 milhões.