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Jovem internada com ‘doença da urina preta’ recebe alta hospitalar em Goiânia

Kelly Silva passou 30 dias internadas após ingerir comida japonesa em Goianésia, cidade onde a jovem mora

Kelly Silva passou 30 dias internadas após ingerir comida japonesa em Goianésia, cidade onde a jovem mora (Foto: divulgação/assessoria)

A jovem Kelly Silva, de 27 anos, que estava internada em tratamento da Síndrome de Haff, mais conhecida como “doença da urina preta”, recebeu alta nesta segunda-feira (26) do hospital particular que estava internada em Goiânia. Ela ficou hospitalizada por 30 dias, 24 deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A jovem passou ainda 10 dias intubada devido à gravidade da doença. Ela foi contaminada após ingerir comida japonesa em um restaurante especializado em comida oriental de Goianésia, a cerca de 175 km da capital.

De acordo com o diretor médico do Hospital Jardim América, Patrick Ponciano Lima de Almeida, o caso dela era muito grave, tanto é que chegou no hospital e foi direto para a UTI. “Após a chegada dela no hospital, conseguimos fechar o diagnóstico de forma rápida e iniciamos o tratamento. Nos primeiros dias não tivemos evolução satisfatória e ela chegou a ser intubada. Mas após a extubação, ela passou a apresentar melhora clínica dia após dia e hoje conseguimos com muita segurança, conceder a alta médica”, explica.

Durante a internação, ela precisou passar por sessões de hemodiálise e recebeu atendimento multidisciplinar com equipes de nefrologia, clínica médica, psicologia e fisioterapia. “Hoje é um dia muito feliz para todos nós que acompanhamos a internação da Kelly desde o início. A sensação da equipe é de vitória e gratidão”, destaca Patrick. De acordo com o profissional, mesmo após a alta médica, a paciente vai continuar o tratamento com a equipe de nefrologia, psicologia e fisioterapia.

A mãe de Kelly, Maria da Conceição, comemorou a volta da filha para casa. “Estamos muito felizes, depois de vários momentos de apreensão, sempre estivemos confiantes em Deus. Ele já cuidou de tudo e estamos confiantes que logo tudo voltará ao normal”, explica.

Relembre

Kelly começou a sentir os primeiros sintomas no último dia 24 de junho, um dia após ela ingerir comida japonesa com uma prima. O pai dela, Nivaldo Carlos da Silva, disse para a imprensa que a jovem já era acostumada a fazer o consumo da culinária oriental e que a filha chegou bem em casa naquele dia.

Porém, no dia seguinte, a jovem já apresentou vômito, diarreia e fraqueza. Diante do agravamento do estado de saúde dela, a família decidiu encaminhá-la para o pronto-socorro de Goianésia. No local, ela recebeu medicação, mas o estado de saúde não apresentava melhora. No último dia 25 de junho, a jovem começou a perder os movimentos das pernas, braços e cabeça. Com isso, a família decidiu trazê-la para Goiânia.

Segundo os familiares, o médico que acompanhava a jovem quis entender melhor o que teria acontecido para que ela chegasse em tal situação e, ao ouvir o relato, já identificou que a jovem estava com a popular “doença da urina preta”. A jovem foi intubada no dia 29 de junho e, no dia posterior, foi submetida à hemodiálise, já que a doença ataca principalmente os rins.

Polícia Civil de Goianésia investiga o caso.

Síndrome de Haff

A infectologista Ana Rachel de Seni, explica que a síndrome está associada a uma toxina que é liberada do peixe que está contaminado. A substância não tem gosto nem cheiro específico, o que torna mais complexa a sua percepção.  Porém, ela afirma que tem que ter bastante atenção ao comprar o produto que é extremamente perecível.

“É uma doença rara e aguda, ou seja, acontece de forma repentina. É uma intoxicação alimentar causada por uma toxina liberada por alguns peixes de agua doce e crustáceos, quando esses não são armazenados e preparados de forma adequada. Ela é caracterizada por lesão das células musculares. A urina fica de coloração preta, pois há uma destruição importante das células musculares e liberação de uma proteína presente nos músculos chamada mioglobina, que tem a coloração escura. Ela é filtrada pelos rins e assim a urina fica preta”, explica.

De acordo com a médica, os sintomas acontecem geralmente após 24 horas após ingestão de peixes e crustáceos contaminados e sintomas mais comuns são dor muscular intensa, fraqueza, dificuldade para andar, falta de ar e em casos mais graves pode apresentar insuficiência renal e o paciente evoluir para a hemodiálise. “É uma doença rara, mas é preciso que a pessoa esteja atenta à procedência do alimento. Como está associada ao consumo de peixes e crustáceos, saber a procedência desses alimentos, como foram adquiridos, como foi o transporte, como foi o armazenamento, se está na temperatura adequada”, alerta a especialista.

Perecível

Como o peixe é perecível, a nutricionista Sonalle Carolina dá dicas sobre cuidados que deve-se ter com ao escolher o alimento. A especialista ressalta que, para a escolha de um peixe fresco, é importante avaliar se o pescado possui camada de gelo suficiente para manter a temperatura (-0,5 a -2 ºC) e observar as principais características para selecionar o peixe.

A nutricionista afirmou também que há uma variedade de peixes que podem ser consumidos. De acordo com a sazonalidade os melhores são: cação, linguado, namorado, olhete, pintado, sardinha, tainha e truta. Para além da sazonalidade, a especialista sugere o consumo da tilápia, tendo em vista que esta é uma espécie facilmente encontrada no mercado.

A atenção para o consumo de peixes não deve estar apenas no ato da compra, mas também no armazenamento ao qual o alimento será submetido. Sonalle explica que o ideal é não quebrar a cadeia do frio, então seria interessante já ir à peixaria com o isopor ou conserva com gelo, caso isso não aconteça, os peixes devem ser armazenados o mais breve possível em geladeira ou freezer. “Caso o consumo seja rápido, o peixe pode ser armazenado em até 24 horas em geladeira, desde que retirado as vísceras. Se o consumo ultrapassar esse tempo, congelar por no máximo três meses”, orienta.